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Por Cleide Carvalho — São Paulo

A piloto agrícola brasileira Juliana Turchetti, de 45 anos, que morreu nesta quarta-feira durante uma operação de combate a incêndio florestal nos Estados Unidos, sonhava seguir na carreira desde criança. Além de ser a primeira brasileira a voar turboélice nos Estados Unidos e a voar o Fire Boss, uma versão do maior avião agrícola do mundo usada em combate a queimadas, Juliana também foi a primeira brasileira voar em lavouras nos EUA.

O Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) publicou uma nota de pesar nesta quinta-feira, depois que a morte foi confirmada por autoridades norte-americanas, que consideraram a piloto brasileira uma heroína.

Mineira de Contagem, Juliana tinha uma carreira com mais de 6,5 mil horas de voo. Segundo o Sindag, desde pequena ela quis ser piloto, mas começou como comissária de bordo e entrou para a aviação em 2007. Foi instrutora de voo e depois copiloto e piloto em aviões Boeing 727 e 737. Em 2013 entrou para aviação agrícola. Atualmente, Juliana integrava uma equipe que combatia chamas na Floresta Nacional de Helena, no Condado de Lewis e Clark, no Estado de Montana.

Cinco anos depois, foi morar nos Estados Unidos e se tornou a primeira brasileira a voar em lavouras naquele país. Juliana participou, em 2021, de um vídeo comemorativo dos 100 anos da aviação agrícola no mundo produzido pela Associação Nacional de Aviação Agrícola dos Estados Unidos (NAAA). Na época ela assinava o sobrenome Coppick – do piloto norte-americano John Coppick, com quem foi casada.

Em 2022, Juliana também montou uma cafeteria na cidade de Springfield, no estado de Illinois. A temática era a aviação. A Aviatori Coffee House combinava grãos de café de seu estado e o pão de queijo mineiro.

Mineira Juliana Turchetti era piloto e fazia combate às chamas — Foto: Reprodução/Linkedin
Mineira Juliana Turchetti era piloto e fazia combate às chamas — Foto: Reprodução/Linkedin

Apesar do sucesso como empresária, ela voltou a voar e mirou o combate a incêndios florestais. Fez o treinamento para operar hidroaviões e em fevereiro deste ano tornou-se a primeira brasileira a voar o modelo. A primeira operação ocorreu no dia 4 de julho passado, dia da Independência dos Estados Unidos, para combater o fogo num aeroporto de Washington. Duas horas depois, conforme contou em sua conta no Linkedin, foi despachada para outro incêndio: uma área de 340 hectares, onde ela e o líder da operação repetiram 11 vezes as manobras de scooping e lançamento sobre as chamas.

Juliana relatou a experiência:

"O maior desafio para mim durante esta missão foi ficar atrás de três aviões e lidar com seus vórtices e esteiras. Além disso, o local da escavação, o Rio Columbia, é cercado por montanhas, então tivemos que subir 2.000 pés para limpar o terreno antes de voltar para o fogo. Nada melhor do que um cenário real para dar sentido a todos os treinamentos que fazemos. E quando o Air Attack diz: 'Obrigado pelo trabalho que vocês fizeram aqui hoje', a sensação de dever cumprido é instantânea".

Piloto mineira Juliana Turchetti atuava nos Estados Unidos contra incêndios florestais — Foto: Reprodução/Sindag
Piloto mineira Juliana Turchetti atuava nos Estados Unidos contra incêndios florestais — Foto: Reprodução/Sindag

E completou:

“Alguns nos chamam de heróis. Bem, esse é um título pesado para carregar. Gosto de dizer que somos pessoas comuns fazendo algo extraordinário”, encerrou a postagem.

Juliana contou também em seu perfil no Linkedin que é piloto de ferry internacional:

"...adoro os desafios da atividade. Voar sozinho dos EUA para o Brasil, sobre o oceano e a selva é uma experiência incrível! Eu também transporto aviões pelos EUA".

E disse que ser bombeiro aéreo era um objetivo desde 2009:

"Voar e combater incêndios é a combinação ideal de diferentes habilidades, desafios, trabalho em equipe e a emoção de operar em um ambiente que necessita constantemente de disciplina, coordenação, coragem, dedicação e desejo de servir. ...A aviação para mim é a prova mais profunda de quão longe a humanidade pode ir."

E a piloto encerrou com uma frase de William Shakespeare: "O mundo é sua ostra."

Como foi o acidente

O modelo Fire Boss possui flutuador e ainda não está em operação no Brasil. Segundo o Sindag, Juliana se acidentou durante a manobra de "scooping". Nessa manobra, o piloto pousa a aeronave em um lago ou represa e capta água para abastecer o reservatório da aeronave, decolando em seguida. Testemunhas mencionadas pela imprensa norte-americana disseram que três aeronaves deste tipo estavam atuando na área e captavam água num ponto conhecido como Hauser Lake, oito quilômetros a noroeste da represa, e também no Rio Missouri.

Modelo Fire Boss Air Tractor AT-802F — Foto: Reprodução/ Air Tractor Europe
Modelo Fire Boss Air Tractor AT-802F — Foto: Reprodução/ Air Tractor Europe

O xerife de Lewis e Clark, Leo Dutton, disse à imprensa local que no momento do acidente, Juliana estaria em segundo no circuito de toque, corrida e decolagem, mas, enquanto realizava o scooping, o avião pareceu ter batido em algo, despedaçou-se na água e afundou. As três aeronaves pertencem ao Serviço Florestal dos Estados Unidos.

As causas do acidente serão investigadas pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA (NTSB, na sigla em inglês), que poderá dizer se houve mesmo choque contra algum objeto, banco de areia ou uma onda.

Os governadores dos estados de Montana e de Idaho, que cedeu o avião ao Serviço Florestal no estado vizinho, emitiram nota conjunta:

“Estamos profundamente tristes em saber do falecimento da jovem bombeira florestal que tragicamente perdeu a vida respondendo ao incêndio Horse Gulch em Helena, Montana”. (…) “Nossos primeiros socorristas e bombeiros florestais arriscam suas vidas para responder rapidamente às ameaças e proteger nossas comunidades. É um verdadeiro ato de bravura correr em direção ao fogo. Nós nos juntamos a todos os habitantes de Montana e Idaho em oração pela família e amigos da heroína caída durante este momento trágico”, disseram em nota.

A piloto agrícola gaúcha Joelize Friedrichs, amiga de Juliana, afirmou que ela era exemplo e inspiração para as mulheres que atuam no setor e estava construindo uma carreira nos Estados Unidos.

A presidente do Sindag, Hoana Almeida Santos, disse que a partida precoce de Juliana é uma perda irreparável para a aviação agrícola.

"Estamos muito tristes e abalados com a notícia. Juliana representava não somente a determinação e a coragem dos pilotos brasileiros, mas era também um exemplo de profissionalismo, pela linda trajetória. Valorizando o papel das mulheres no setor e sendo fonte de inspiração para muitos”, disse a empresária.

Em sua última postagem em sua página no Facebook, Juliana escreveu: “Não é só um trabalho, é um chamado”.

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