A Les Cinq Gym pode passar despercebida por quem anda nos Jardins, em São Paulo, e não nota o prédio recuado de quatro andares no estilo industrial na Alameda Lorena, que lembra um contêiner. Por dentro, tem ambientes instagramáveis, repletos de espelhos, luzes de led e equipamentos de última geração. Características que lhe deram a fama de academia mais cara do Brasil e apontam uma tendência neste universo de cuidado com o corpo: o luxo na hora de suar.
Os mimos oferecidos pelas academias de alto padrão no Brasil já deixaram de ser apenas a oferta de personal trainer. Formam uma lista onde cabem heliponto, maquiagem, passadoria, toalha molhada e aromatizada, massagem, café, frutas e whey protein liberados. O preço de tanta diferenciação pode chegar a R$ 3 mil por mês, mas a compensação vai além do corpo sarado. O ambiente para poucos pode ser aproveitado também para expandir o networking, inclusive em eventos especiais promovidos pelas academias.
Além do espaço projetado pelo arquiteto Kiko Sobrino, a Les Cinq oferece um acompanhamento virtual da evolução dos alunos. Eles recebem na matrícula uma pulseira que registra as atividades nos aparelhos, permitindo um comparativo diário da intensidade dos movimentos.
— Queria algo completamente diferente do que tinha no mercado, com um ambiente mais requintado, que mistura academia com obras de arte — define o CEO da Les Cinq, Rodrigo Sangion, que fundou o empreendimento há dez anos e não tem planos de expansão no momento. — Aqui não tem revezamento de aparelhos, mas limpeza dos equipamentos depois do uso e um professor atendendo a no máximo três alunos. Oferecemos água mineral, toalhas geladas, frutas, castanhas e manicure.
A academia atraiu entre os seus 650 clientes nomes como o cantor Thiaguinho, a atriz Cláudia Raia e a influenciadora Gkay. O nutricionista Lucas Gil, de 40 anos, disse que considera justo o preço da mensalidade, que varia de R$ 1,5 mil a R$ 3 mil.
— Manter um serviço premium não é barato. A arquitetura me chamou a atenção. Os funcionários são extremamente treinados e os vestiários têm sauna a vapor. Fora as dezenas de aulas, como de meditação, ioga, danças, bike e funcional — enumera Gil.
Segundo Marcelo Ferreira, diretor regional da Associação Brasileira de Academias no Rio de Janeiro, o segmento de empreendimentos de alto padrão está se recuperando, depois de um baque com a pandemia. Ferreira ressalva que o modelo tem limites.
— Não é qualquer um que pode arcar com esses preços de mensalidade. Mas o setor de luxo vem se reerguendo. Como muitos estão procurando exercício para cuidar também da saúde mental, estar em um ambiente que o faça sentir confortável é um dos atrativos — explica.
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No Rio, as mensalidades da XN Studio Body Designer variam de R$ 1,4 mil a R$ 2 mil. Voltada exclusivamente para a musculação, 80% do público da academia é feminino, que só treina com hora marcada e com um personal trainer da própria unidade. Um dos seus sócios é Xande Negão, conhecido por ter sido personal da influenciadora Gracyanne Barbosa. Mas não são apenas esses nomes de celebridades que funcionam como chamariz para alunos como Ludmilla e a mulher Bruna Gonçalves.
— O acompanhamento garante o resultado, e isso traz fama. Temos fila de espera para marcação de horário na parte da manhã — comemora o supervisor técnico da XN, Lucas Barreto.
Treinos acompanhados de perto pelos profissionais de educação física são a aposta da Greenlife, em Fortaleza, para sua unidade “boutique”, a única da rede de 17 academias voltada para o segmento de luxo. Mas a empresa ainda dobra a aposta com um heliponto, serviço de nutrição, geladeiras com isotônico e água, distribuição de toalhas e serviços de massagem em algumas datas. Os alunos chegam a desembolsar até R$ 2,5 mil para desfrutar desses serviços.
Nas duas unidades premium da rede Bodytech, nos shoppings Iguatemi, em São Paulo, e Leblon, no Rio, há passadoria, fisioterapia, banheiros com sauna e camarim com espaço para maquiagem (na capital paulista, um maquiador fica à disposição). Mas a hora do exercício pode ser mais do que o momento de puxar pesos e se transformar em uma chance de fazer relacionamentos profissionais.
— Fazemos eventos aos sábados com DJs, professores renomados e degustações. É um sucesso entre os alunos e de patrocinadores. Muitos querem estar nesse ambiente, favorável até para o networking — conta o diretor técnico Eduardo Netto.
Em Goiânia, a O2 atrai a empresária Mirella Mascarenhas, de 43 anos, pelos serviços de manobrista, o café com whey e castanhas e as toalhas geladas. Com isso, nem se incomoda com a mensalidade de aproximadamente R$ 1 mil.
— O valor é justo para quem busca conforto e profissionais competentes — justifica Mirella.
A jornalista Nevilla Palmieri, de 35 anos, que frequenta a mesma unidade, diz que a infraestrutura de alto padrão a motiva para os exercícios. Tanto que “perde a noção do tempo” na academia.
Malhação na madrugada
Entre as academias de alto padrão, tem crescido também o número de espaços abertos 24 horas. O instrumentador cirúrgico Marco Aurélio Pereira Fontella Jr, de 37 anos, precisou recorrer a um local com horários alternativos para se exercitar por causa do trabalho em hospitais.
— Tem dia que chego à meia-noite, já cheguei até as 2h da manhã. Antes de achar essa academia, tinha que fazer exercícios na rua — conta Fontella, aluno da academia Ironberg, em Florianópolis.
A rede existe desde 2020 e tem cinco unidades no país — todas 24 horas, inclusive nos feriados. O grupo, que diz se inspirar na “filosofia bodybuilder”, adotada pelos atletas de fisioculturismo, se prepara para inaugurar a sexta unidade em Alphaville, em São Paulo. O investimento será de R$ 30 milhões, em 13 mil metros quadrados.
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