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O Termo: autor de versão brasileira do jogo que virou febre recebe até 'pedido de casamento' de fã

Fernando Serboncini trabalha no Google e criou o Termo, uma tradução do Wodle, que virou febre mundial
Layout do jogo: cor amarela avisa que a letra está na palavra, mas em outra ordem; verde para quando acerta Foto: Reprodução
Layout do jogo: cor amarela avisa que a letra está na palavra, mas em outra ordem; verde para quando acerta Foto: Reprodução

Ao longo de toda manhã desta quinta-feira, dia 20 de janeiro, duas hashtags dividiam os trends topics das redes sociais com nomes dos participantes do BBB e de outros assuntos do momento. Os misteriosos #18 x/6 e #otermo eram o reflexo do compartilhamento em massa dos resultados de usuários de um joguinho online simples e viciante que em pouco mais de uma semana de sua criação virou febre no Brasil: O Termo, uma versão em português do jogo online americano Wordle. "Gostaria de informar que estou disposta a casar com a pessoa que fez o Wordle em português", brincava uma usuária. Outro se mostrava indignado com a dificuldade do desafio apresentado no dia: "Impossível acertar o termo de hoje!".

Criado no ano passado nos Estados Unidos, o Wordle partia de uma premissa simples, que rapidamente conquistou milhões de seguidores pelo munde e ganhou versões em outras línguas. Os brasileiros estão se divertindo com a versão nacional do desafio estilo "caça-palavras" a partir de uma iniciativa de Fernando Serboncini, um engenheiro do Google que mora no Canadá.

— O movimento foi uma surpresa. Não esperava que ia ficar tão famoso, hoje são mais de 200 mil pessoas jogando por dia — celebra o criador de O Termo.

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O Termo foi lançado dia 5 de janeiro, e 10 dias depois ja possuía 100 mil jogadores diários, número que já dobrou. A escalada de adeptos vem reproduzindo o mesmo processo que ocorreu com o Wordle, que, desde outubro do ano passado, já atingiu o patamar de 2 milhões de jogadores diários.

Nos EUA, pessoas famosas, como Jimmy Fallon e artistas musicais começaram a compartilhar os seus resultados no Twitter, o que se tornou o meio principal para alavancar o jogo. No Brasil, o Termo entrou nos trending topics já por 18 vezes.

Fã disposta a casamento

Na internet, é fácil encontrar relatos de pessoas que se apaixonaram pelo jogo. Há até aqueles que se declararam ao próprio Serboncini, que, no seu Twitter, revelou ser o criador do Termo.

Logo no primeiro dia de lançamento, a historiadora Bárbara Carneiro, de 31 anos, disse que estava "disposta a casar" com o criador da versão em português. Ela se apaixonou, primeiro, pelo Wordle, e confessou que não é difícil se viciar nesses tipos de jogos.

—  Em poucos dias eu não só era entusiasta das duas versões como fui descobrindo em outros idiomas —  conta ela, que agora  joga também as versões em italiano, alemão e espanhol. —  Acho interessante que tem algo de conhecimento de vocabulário mas que também é pura análise combinatória, né? Então eventualmente eu adivinho palavras em alemão ou italiano muito mais por combinação matemática do que por um vocabulário poliglota.

Ela conta que herdou do avô o hábito de jogar palavras cruzadas, além de também ter praticado Sudoku na escola.
—  É uma atividade de café-da-manhã pra mim, de começar o dia —  disse Barbara, moradora de São Paulo, que brincou sobre o "pedido de casamento". —  Esse amor platônico tem um grande entrave que são os verbos conjugados. isso daria morte em jogo de stop.

Como funciona o jogo

O  jogador precisa desvendar qual a palavra do dia, sempre de cinco letras, em apenas seis tentativas. A tela só irá exibir quadrados em brancos, que precisam ser preenchidos com letras. Inicialmente, não há nenhuma dica, e a pessoa precisa dar seus palpites.  A cada tentativa, o jogo avisa qual letra está colocada corretamente. E se a letra existir na palavra, mas estiver em outra posição, também haverá um aviso.

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O Termo está disponível online, no navegador, sem necessidade de baixar aplicativo. A versão original, o Wordle, foi criada pelo engenheiro de software Josh Wardle, como um presente para sua namorada, fissurada em jogos de palavras. A brincadeira, então, começou de forma despretensiosa e um link foi enviado no grupo de whatsapp da família de Wardle, mas rapidamente se popularizou.

Jogo pensado para ser curto e simples

Hoje, Serboncini diz que muitos fãs lhe enviam mensagens pedindo que sejam liberados mais desafios por dia, além da única palavra. Mas sua intenção é manter o Termo do jeito que ele é.

—  É um jogo simples, pede cinco minutos do seu tempo, te diverte e te deixa ir. Isso torna a experiência mais relevante e acho que mais honesta. Além disso, cria um senso de comunidade, pois todos estão jogando o mesmo jogo todo dia — explicou o engenheiro, que acompanha os debates sobre vícios online e a "economia da atenção". — Existe uma cultura no mundo da tecnologia de que tudo tem que ocupar 100% do tempo das pessoas. Cada software de cada empresa é construído como se ocupasse uma posição central na vida dos usuários. Jogos são feitos para serem jogados por dezenas, às vezes até centenas de horas.

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O próprio Serboncini foi fisgado pelo Wordle através do Twitter, por ter gostado do conceito do jogo. Seu maior desafio, então, era montar um dicionário em português, defasagem histórica para jogos online, o que limita o lançamento de versões brasileiras de jogos internacionais.  O engenheiro criou uma série de códigos pra extrair a lista de palavras a partir de conteúdo disponível na internet. Hoje, o dicionário do Termo tem aproximadamente 19mil palavras de cinco letras.

— Mandei para alguns amigos quando terminei. Uma hora depois, já havia mais de 10 mil pessoas jogando — afirma Serboncini, que, além de engenheiro do Google Chrome, onde trabalha há 15 anos, também é membro do WHATWG, o grupo que define o padrão HTML da internet.