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Política Eleições 2018

‘Os atores de 64 e os atuais são muito similares’, diz João Goulart Filho ao GLOBO

Fundador do PDT promete desfazer reformas de Temer e diz representar mais o trabalhismo do que Ciro
O candidato à Presidência do PPL, João Vicente Goulart Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
O candidato à Presidência do PPL, João Vicente Goulart Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — João Vicente Goulart, de 61 anos, prefere se apresentar como João Goulart Filho, numa referência mais direta ao pai, deposto pelo golpe militar de 1964. A memória e o nome de Jango são bandeiras que o colocaram na corrida presidencial pelo nanico Partido Pátria Livre (PPL), para onde migrou em 2017 após desavenças com o PDT, legenda que ajudara a fundar com o tio Leonel Brizola nos anos 1980.

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A saída do PDT aconteceu pela falta de respaldo à construção um memorial em homenagem ao pai, em Brasília. Fundado há menos de dez anos e ameaçado pela cláusula de barreira, o PPL aposta que a grife de João Goulart seja capaz de puxar votos. Até hoje, sua única eleição foi para deputado estadual no Rio Grande do Sul, em 1982. Goulart diz ser defensor do nacional-desenvolvimentismo e promete reestatizar a Vale e outras empresas.

Como o senhor espera ser conhecido pelos eleitores?

Brizola e o PDT ficaram como herdeiros do trabalhismo depois da morte de meu pai e da redemocratização, mas acho que hoje ninguém é herdeiro a não ser o povo. Não temos alternativa a não ser reconstruir o trabalhismo.

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O que diferencia o senhor do Ciro Gomes, o pré-candidato pelo PDT?

Acho que representamos o trabalhismo muito mais do que o Ciro. Não sei se ele é realmente janguista, brizolista e getulista. Respeito o PDT, mas, se não querem assumir bandeiras como as reformas urbana, tributária, agrária, e colocaram uma vice como a (senadora) Kátia Abreu, que tem amplo apoio do agronegócio, então nós estamos assumindo essas propostas.

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O senhor hoje se considera adversário do PDT?

Saí do PDT por questões locais. Tínhamos o projeto de construir o Memorial da Liberdade e Democracia Presidente João Goulart. Levamos oito anos para conseguir a cessão de uso do terreno, e o Rollemberg (Roberto, governador do Distrito Federal), cassou algo que nem era dele. Aí questionei o nosso presidente (do PDT, Carlos) Lupi: “Você vai manter o PDT na base do Rollemberg? Então tu fica com esse PDT, e eu fico com nossas origens”. Encontrei no PPL um partido nacional-desenvolvimentista. Não fui para ser candidato, mas o partido entendeu que meu nome era o mais indicado nessa conjuntura.

O PPL corre o risco de desaparecer com a cláusula de barreira. A sigla vê o senhor como puxador de votos?

Sem dúvida pode ser isso. Mas acho que missão partidária a gente cumpre, não discute. Porque, se tudo fosse acomodação política, não tínhamos ido para o exílio. Entendo que isso não foi em vão. Meu pai, se quisesse, poderia ter fechado o Congresso e aderido aos militares. Estaria no poder. Mas quando você tem uma determinação política, nenhuma renúncia é tão válida quanto a que ele fez com a própria vida.

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O senhor vê algo em comum entre 1964 e 2018?

São 54 anos de diferença temporal. Mas os atores daquela época e os atuais são muito similares. Naquela época, tínhamos um Congresso financiado pelos EUA para se opor a João Goulart. Hoje também temos um Congresso altamente suspeito, com outras verbas a financiá-lo. Em 1964 tivemos a atuação da Fiesp, que fez a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, e da grande mídia, que se colocou a favor do golpe. E agora estamos vendo, em um ano e meio de governo ilegítimo, a entrega completa do país. Queremos transpor essa dificuldade em 2018 com o voto. Estamos muito velhos para a luta armada, muito exílio nas costas (risos).

O senhor já falou que não defende um Estado “inchado”, mas “musculoso”...

É porque muita gente diz que o grande mal deste país é o “Estado perdulário”, que as privatizações “têm que acontecer”. Vai privatizar que nem fizeram com a Vale? Em nome da “competência de gestão”? Veja o que aconteceu em Mariana, o maior crime ecológico do mundo. Inclusive nossa proposta para a Vale é reestatizá-la. Vou pagar o valor corrigido de sua venda lá atrás. Vamos reaver tudo que é estratégico para os brasileiros.

Dá para reverter as reformas trabalhista e da Previdência?

Completamente. Os direitos dos trabalhadores, dos idosos, de minorias, são inalienáveis. Jamais poderia ser candidato, falar em Jango, Getulio, Brizola, se achasse que direitos podem ser retrocedidos. Quero um referendo para que essas reformas sejam anuladas. Temos sentido muita contestação às nossas propostas, dizem que é “sonho utópico”. Utopia é não pensar no desenvolvimento do país.

E acreditar que o senhor será eleito? É utopia?

Eu acho que não. Sabemos que é uma luta de Davi contra Golias, mas, às vezes, o Golias cai.