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Política Bolsonaro

Para ampliar base, Bolsonaro acena ao PSL

Presidente deixou o partido no fim do ano passado em meio a um racha e, depois de ouvir conselhos,ligou para Luciano Bivar há duas semanas
O presidente Jair Bolsonaro 23/ 06/ 2020 Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS
O presidente Jair Bolsonaro 23/ 06/ 2020 Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS

BRASÍLIA — Após o rompimento, em novembro de 2019, Jair Bolsonaro e o PSL, partido pelo qual foi eleito presidente, voltaram a estreitar laços. Um aceno da legenda com a retirada de Joice Hasselmann (SP) da liderança na Câmara deu início à reaproximação. Depois, o Planalto ofereceu cargos à sigla. Em seguida, aconselhado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), considerado um líder informal do governo, Bolsonaro ligou para o presidente do PSL, Luciano Bivar, há duas semanas. Foi a primeira vez que os dois se falaram desde a crise que levou à saída do presidente da legenda. No fim do ano passado, Bolsonaro disse a um apoiador que Bivar estava “queimado”.

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O movimento acontece junto com a negociação feita pelo governo com os partidos do centrão. No lado do Planalto, o distensionamento foi costurado pelo senador Flávio Bolsonaro (RJ), que trocou o PSL pelo Republicanos quando houve a ruptura. Já no PSL, a reaproximação com o governo federal tem sido protagonizada pelo vice-presidente da legenda, Antonio Rueda, e pelo novo líder da bancada na Câmara, Felipe Francischini (PR).

Procurado pelo GLOBO, o presidente do PSL, Luciano Bivar, disse não guardar ressentimentos da ruptura.

— Não ficou mágoa. Questões nacionais se sobrepõem às pessoais. Óbvio que todos no partido queremos estar em paz com os Poderes. Seja com o presidente da República, seja com os presidentes do Legislativo e do Judiciário. O PSL é o mesmo desde a campanha (eleitoral). Não vejo distorção entre as nossas pautas e as do governo. O governo deu boas demonstrações em pautas tributárias e, assim como o partido, defende privatizações quando elas forem possíveis — disse Bivar, que evitou falar sobre a conversa com Bolsonaro.

Antes de o presidente ser contaminado pelo coronavírus, aliados de Bivar articulavam um encontro presencial entre ambos para a semana que vem.

A oferta de cargos feita pelo Planalto ao PSL ocorreu em paralelo às conversas com o centrão. Foram oferecidos o s comandos da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), da Eletrosul e do Banco da Amazônia. O objetivo do governo é que a metade da bancada que ficou ao lado de Bivar na disputa volte a apoiar as propostas do Planalto. Dirigentes do partido, contudo, afirmam que a oferta de cargos não foi aceita. A reaproximação, porém, continua por, na descrição de bivaristas, haver “afinidade de pautas”.

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O movimento político de buscar formar uma base aliada na Câmara começou quando Bolsonaro passou a temer um processo de impeachment. Outro objetivo era enfraquecer o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O movimento passou a contemplar também a disputa pela presidência da Câmara, cuja eleição será no começo do ano que vem — o governo busca evitar um nome que lhe seja hostil.

Bivar afirma que o PSL não deseja cargos e que “eventuais indicações pessoais de políticos do partido passam à margem da executiva nacional”. Outro dirigente do PSL disse que o apoio a Bolsonaro não será irrestrito e que a sigla não dará suporte a pautas que considerar “autoritárias”.

Aliados do presidente afirmam que Bolsonaro percebeu que “precisa de um time no Congresso”:

— A reabertura do diálogo com o governo federal é um mérito do (Felipe) Francischini, e é algo pelo qual sempre lutei. Fui contra a ruptura do partido com o presidente. Bivar e Bolsonaro nunca deveriam ter brigado. No nosso sistema político, não há como um presidente ser independente. Não tem jeito — afirma o deputado federal Luiz Lima (PSL-RJ).

Francischini, em nota, afirmou que “a bancada defende, de forma independente, todas as pautas importantes ao desenvolvimento do Brasil”. “Nosso compromisso continua a ser exclusivamente com o povo brasileiro e independe de qualquer indicação no governo”, concluiu. Flávio Bolsonaro não retornou até o fechamento desta edição.

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PSC na mira

Além do PSL, o governo passou a procurar outro partido do qual o presidente tinha se afastado, o PSC. Bolsonaro chegou a ser filiado ao partido, mas saiu em 2017 após o presidente da sigla, Pastor Everaldo, não garantir que ele teria a vaga de candidato à Presidência.

Uma primeira reaproximação já tinha ocorrido no início da gestão, mas houve novo afastamento após Bolsonaro romper com o governador do Rio, Wilson Witzel, no ano passado.

Como Witzel, alvo de um processo de impeachment, está enfraquecido na sua própria legenda, Bolsonaro buscou novamente o partido e chegou a receber, semanas atrás, a bancada de deputados federais da sigla. Segundo fontes que participam das conversas, as negociações com o PSC envolvem o controle de agências reguladoras. O líder do PSC na Câmara, André Ferreira (PE), nega que haja negociações de cargos.