Política

PMs são afastados por pisar em pescoço, arrastar e quebrar perna de mulher negra em SP

Caso foi revelado em vídeos no 'Fantástico' neste domingo; após repercussão, Doria afirmou que cenas “causam repulsa”
Vídeo mostrou PM pisando no pescoço de mulher negra de 51 anos Foto: Reprodução
Vídeo mostrou PM pisando no pescoço de mulher negra de 51 anos Foto: Reprodução

SÃO PAULO — Dois policiais envolvidos na agressão a uma mulher de 51 anos em São Paulo foram afastados das ruas enquanto o caso é investigado. As imagens da abordagem, reveladas pelo "Fantástico" da TV GLOBO neste domingo , mostram um dos oficiais pisando no pescoço da mulher, que também foi arrastada pelo oficial e fraturou uma perna. João Doria, governador de São Paulo, afirmou que as cenas “causam repulsa” e refletem “violência desnecessária de alguns policiais”.

Os oficiais foram afastados em 30 de maio, dia da ocorrência, e continuam realizando trabalhos administrativos. O inquérito corre em sigilo desde então.

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A mulher possui um bar na região de Parelheiros, zona sul de São Paulo, e foi abordada por policiais no sábado, 30 de maio, após denúncias de que um carro com som alto estaria em frente ao comércio, incomodando a vizinhança. O estabelecimento estava aberto, apesar da proibição de funcionamento de comércio que vigorava por causa da pandemia.

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As imagens mostram os policiais rendendo um homem e apontando arma para outro. Segundo a mulher, as agressões começaram após ela tentar defender os amigos que eram rendidos pela polícia. Os vídeos mostram um dos oficiais pisando no pescoço da mulher. Em uma das cenas, ele é visto tirando um dos pés do chão e colocando todo o peso do corpo sob o pescoço da mulher. Também arrasta-a até o meio-fio.

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Segundo a comerciante, ela desmaiou 4 vezes durante a abordagem, levou socos, uma rasteira e fraturou uma das pernas. Foi levada para o hospital com fratura na tíbia e lesões no rosto e no corpo.

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Os PMs envolvidos no caso afirmam que foram atacados por uma barra de ferro durante a abordagem e registraram boletim de ocorrência por desacato, desobediência, resistência e lesão corporal.

—  Nossa maior preocupação agora é defendê-la das acusações absurdas que foram feitas. Os fatos foram totalmente invertidos pelos dois policiais na delegacia, que afirmam que ela os agrediu. Os vídeos são muito claros em mostrar que ela em momento algum agrediu o PM, mas foi a vítima de agressões graves — declarou o advogado da senhora, Felipe Pires Morandini.

A defesa da mulher também afirma que buscará a responsabilização criminal dos oficiais envolvidos na abordagem. Segundo Morandini, ao pisar no pescoço da mulher o oficial assumiu o risco de matá-la, e por isso responderá a acusação de tentativa de homicídio.

Na noite de domingo, após veiculação das imagens no "Fantástico", o governador João Doria manifestou-se sobre o caso em rede social: “Os policiais militares que agrediram uma mulher em Parelheiros, na Capital de SP, já foram afastados e responderão a inquérito. As cenas exibidas no 'Fantástico' causam repulsa. Inaceitável a conduta de violência desnecessária de alguns policiais. Não honram a qualidade da PM de SP”.

Doria também abordou o caso em entrevista coletiva nesta segunda, dia 13:

—  Assisti estupefato às cenas e solicitei que os dois respondam a inquérito criminal — afirmou Doria, que divulgou também o aumento do uso de câmeras em farda de policiais (bodycams), visando à redução da violência e ao aumento da eficiência da polícia.

A Secretaria de Segurança Pública afirmou, em nota, que equipes responsáveis pelo inquérito policial militar “realizam diligências para colher provas e informações que auxiliem a esclarecer os fatos”. O caso também é investigado por meio de inquérito pelo 25° DP. Afirmou ainda que “não compactua com desvios de conduta de seus agentes e apura rigorosamente todas as denúncias” e que, neste mês, policiais militares de todos os níveis hierárquicos participam de programa de treinamento.

Violência policial

O caso soma-se a diversos outras denúncias de violência policial em São Paulo durante a pandemia. Pelo menos quatro outros casos de brutalidade policial foram divulgados em São Paulo no último mês.

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Em 12 de junho, em Barueri, Grande São Paulo, policiais agrediram um homem já rendido, de acordo com imagens gravadas por uma testemunha. Vizinhos que tentaram proteger a vítima também apanharam dos PMs. Seis policiais foram afastados.

O adolescente de 15 anos Guilherme Silva Guedes foi morto após ser abordado por dois policiais de folga na madrugada de domingo, 14 de junho, em frente à casa de sua avó, em Americanópolis, periferia de São Paulo. Um sargento da PM foi preso e é investigado pela morte.

Oito policiais que participaram da agressão de um homem de 27 anos também foram presos na segunda-feira, 15 de junho. De acordo com um vídeo gravado anonimamente por uma testemunha, os policiais cercaram e espancaram um homem já rendido . A vítima tinha acabado de sair do trabalho e seguia para a casa da namorada.

Um vídeo também foi divulgado mostrando um rapaz negro sendo estrangulado por PM e desmaiando durante abordagem em SP, em 21 de junho. O caso é investigado.