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Caso Lázaro: Três meses após morte de serial killer, fazendeiro ainda é o único investigado, diz MP

Gabriela Sterling Jorge Vieira de Mello afirmou ao GLOBO que a Promotoria de Justiça de Cocalzinho de Goiás não recebeu informações sobre apuração em andamento indicando a contratação do criminoso por parte de um grupo de chacreiros
Lázaro Barbosa: o bandido que conseguiu driblar a polícia por 20 dias Foto: Reprodução
Lázaro Barbosa: o bandido que conseguiu driblar a polícia por 20 dias Foto: Reprodução

RIO — A promotora responsável pelo caso Lázaro Barbosa de Sousa, morto há três meses durante confronto com a polícia em Girassol, distrito de Cocalzinho de Goiás, em Goiás, após 20 dias de buscas, afirmou, em entrevista concedida por e-mail ao GLOBO, que o fazendeiro Elmi Caetano Evangelista segue como o único investigado pelo Ministério Público por ajudar o serial killer. Ele foi preso, denunciado e é réu no processo .

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Segundo Gabriela Sterling Jorge Vieira de Mello, a Promotoria de Justiça de Cocalzinho de Goiás não recebeu informações sobre apuração em andamento indicando a contratação do criminoso por parte de um grupo de fazendeiros, como parte de um estratégia para a redução de preços de propriedades na região.

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Gabriela disse, ainda, que não há indícios de que os crimes praticados por Lázaro estivessem interligados e que o dinheiro achado com ele no dia de sua morte pode ter sido obtido com a venda de armas. Veja o que diz a promotora:

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Ficou constatada a existência de uma rede de fazendeiros que teriam contratado Lázaro para cometer assassinatos e, assim, reduzir preços de propriedades na região?

Não chegaram à Promotoria de Justiça de Cocalzinho informações sobre investigação em curso nesse sentido.

Além de Elmi Caetano Evangelista, há outros fazendeiros sendo investigados?

Por enquanto não há, na Promotoria de Justiça de Cocalzinho, outro fazendeiro sendo investigado.

Após a morte de Lázaro, mais alguma vítima dele se apresentou? Alguém que ele tenha estuprado, parente de vítima de violência sexual ou de assassinato?

Chegaram inquéritos anteriores ao período em que Lázaro esteve foragido. Eestes inquéritos nao dizem respeito a crimes sexuais, mas crimes dolosos (quando há intenção) contra a vida. Estes inquéritos serão remetidos para as promotorias das comarcas onde eles ocorreram.

Alguma das testemunhas pediu medidas protetivas por se sentir ameaçada? Se positivo, quais providências foram tomadas?

Não teve, por parte de testemunhas, solicitação de inclusão a programa de proteção.

Há algum indício de que os crimes cometidos por Lázaro estivessem interligados? Ou foram ações aleatórias? Já há como saber a motivação deles?

Não houve conclusão no sentido de que os crimes estivessem interligados ou se foram ações aleatórias. Os inquéritos foram arquivados pela extinção da punibilidade em razão do óbito. Não houve uma conclusão global das ações, pois ainda podem existir inquéritos em tramitação nas delegacias de Polícia Civil.

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No dia em que foi morto, Lázaro estava com R$ 4,4 mil em espécie. Já se sabe a origem desse dinheiro e em que ele seria usado?

Não é possível afirmar, pois é preciso aguardar a instrução processual. Há suspeita de que o dinheiro seja oriundo da venda de armas, mas não é possível afirmar taxativamente, pois a investigação não foi concluída.

Houve perícia nos celulares usados por Lázaro? Foram encontradas provas nos aparelhos?

Todos os aparelhos que foram encontrados durante a operação, com o cumprimento de mandados de busca e apreensão, foram periciados. Mas o conteúdo ainda está sob análise.

O MP pretende ouvir  — ou já ouviu  — alguma vítima de Lázaro em crimes cometidos fora do estado? Qual o objetivo?

O MPGO em Cocalzinho de Goiás não ouvirá vítimas de crimes cometidos em outros Estados. Atualmente, a única investigação em curso é a relacionada ao fazendeiro Elmi Caetano Evangelista, mas não há necessidade de ouvir testemunhas de outros Estados.

Secretário crê em rede de proteção

Enquanto a promotoria afirma não ter recebido informações sobre investigações apontando para o envolvimento de Lázaro com mais fazendeiros, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, afirmou, em entrevista ao GLOBO, acreditar que o criminoso tivesse uma rede de proteção:

Após confronto: Policiais comemoram morte de Lázaro Barbosa

— Ele tinha uma rede de proteção, sim — afirmou em entrevista ao GLOBO.

Apesar disso, segundo Miranda, é importante lembrar que os requintes de crueldade com os quais Lázaro praticava seus crimes eram uma característica dele:

— O perfil dele é o de um psicopata. Disso não há dúvida.

O secretário frisou ainda que não  foi descartada a hipótese de Lázaro ter agido com algum parceiro. Num dos crimes praticados por ele, um estupro em Cêilândia, em 2009, o criminoso estava junto com o irmão, Deusdete, morto há cinco anos.

Artifícios para despistar a polícia

Durante a caçada a Lázaro, muito se falou sobre os métodos usados pelo bandido para despistar as forças de segurança. Ele foi chamado até mesmo de Curupira — figura folclórica que tem os pés virados para trás. Os comentários, que na época pareciam fantasiosos, eram que Lázaro calçava os chinelos de forma invertida, com a parte da frente para trás, para deixar pegadas enganosas. A manobra era verdade.

— Os chinelos nós achamos na casa do Elmir. Chinelos de dupla face, feitos de papelão — contou Miranda.

Esconderijos nas árvores, maconha e rituais

Os esconderijos usados por Lázaro nas matas, que muitas vezes pareciam saídos de filmes, também não eram mera ficção, disse o secretário:

— Um drone pegou uma imagem de calor dele na copa de uma árvore. Nas grutas vimos restos de fogueira, o que era sinal da presença dele.

Miranda, que chegou a ficar a cerca de cinco metros de Lázaro numa ocasião, apontou ainda um fator que fazia com que o bandido levasse vantagem nas fugas: a velocidade com que ele corria chegava a 7 km/h.

Vídeo:

As buscas ao criminoso Lázaro Barbosa Sousa, de 32 anos, terminaram com sua morte, após trocar tiros com a polícia. O criminoso chegou a ser encaminhado para um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos. O tiroteio ocorreu em Itamaracá, em Águas Lindas de Goiás, região onde o criminoso estava sendo procurado desde a noite de domingo
As buscas ao criminoso Lázaro Barbosa Sousa, de 32 anos, terminaram com sua morte, após trocar tiros com a polícia. O criminoso chegou a ser encaminhado para um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos. O tiroteio ocorreu em Itamaracá, em Águas Lindas de Goiás, região onde o criminoso estava sendo procurado desde a noite de domingo

De acordo com o secretário, Lázaro praticava rituais macabros. Além disso, o criminoso costumava sair nos fins de tarde para comprar drogas. Foi essa movimentação regular do bandido que fez com que o cerco a ele começasse a se apertar.

— Ele era viciado em maconha. Todo o final de tarde ele saía (para comprar o entorpecente) — afirmou.

Essa constância nas saídas de Lázaro para conseguir maconha chamou a atenção dos policiais, que acabaram por descobrir quem era o fornecedor dele e conseguiram prender um casal.

— Isso dificultou mais ainda a situação dele porque foi saindo de sua área — afirmou o secretário de segurança.

Histórico de crimes

A ficha criminal de Lázaro remete a 2007, quando ele tinha 19 anos e matou duas pessoas em Barra dos Mendes, na Bahia. Os crimes foram cometidos contra pai e filho. Lázaro chegou a ficar dez dias preso, na ocasião, mas fugiu da cadeia.

Em 2009, ele foi preso novamente. Dessa vez, Lázaro era suspeito de ter cometido os crimes de roubo, estupro e porte ilegal de arma de fogo. Ele ficou detido no Complexo Penitenciário da Papuda (CPP), em Brasília. No presídio, um laudo psicológico o descreveu como “psicopata imprevisível”, com comportamento agressivo, impulsivo, instabilidade emocional e falta de controle e equilíbrio.

Durante caçada:

Veículo estava no sentido oposto do qual seguiam polícia e imprensa. Crédito: Ceilândia Muita Treta
Veículo estava no sentido oposto do qual seguiam polícia e imprensa. Crédito: Ceilândia Muita Treta

Em 2016, quando estava no regime semiaberto, Lázaro saiu e não retornou para o presídio. Dois anos depois, ele voltou a ser preso, em Águas Lindas de Goiás, pelos crimes de homicídio qualificado, porte ilegal de arma de fogo, roubo e estupro. Ele fugiu meses depois e desde então era considerado foragido da Justiça.

Mesmo assim, Lázaro continuou a praticar crimes. Em abril do ano passado, ele teria invadido uma propriedade em Santo Antônio do Descoberto, no entorno do Distrito Federal, e roubado o proprietário após agredí-lo com um machado.

Ele também é o principal suspeito de ter invadido uma casa em Sol Nascente, no Distrito Federal, rendido pai e filho e estuprado uma mulher. Em abril de 2021, Lázaro teria feito uma família refém, obrigado as pessoas a ficarem nuas e obrigado as mulheres a fazer comida para ele.