RIO - Em meio à pressão das polícias por reajustes salariais , os governos de Ceará e Minas Gerais ampliaram seus gastos em Segurança Pública em ritmo superior aos destinados a pastas como Saúde e Educação nos últimos cinco anos.
Levantamento do GLOBO aponta que, no caso do Ceará, os valores pagos pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social superaram em 2019 os gastos da Secretaria de Educação. Em Minas, mesmo sem reajuste entre 2015 e 2019, a Polícia Militar foi a única que teve aumento real da verba na comparação com as pastas de Saúde e Educação.
Com o reajuste de 40% escalonado pelos próximos três anos proposto pelo governador Camilo Santana (PT), mas rejeitado pelos policiais militares, o piso salarial da PM do Ceará ficaria entre os cinco maiores do país. O piso da corporação no Ceará é de R$ 3,2 mil, mesmo patamar de Minas antes do reajuste de Romeu Zema (Novo), de 41,7%. No caso do Ceará, vereadores e deputados estaduais oriundos das forças policiais têm pressionado o governo para ceder às demandas dos amotinados, usando o caso de Minas como exemplo.
— A segurança entrou na agenda do cidadão, diante do agravamento do problema da violência no país, e isso aumentou a representação das forças policiais no Legislativo. Houve um empoderamento de uma classe — avalia o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung, que enfrentou uma greve de policiais no estado em 2017.
Em 2018, o governo do Ceará gastou R$ 43,1 bilhões em máquinas e equipamentos para a PM. Para Luiz Fábio Paiva, do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará, há uma distribuição desigual de recursos.
— Houve investimento em programas como o batalhão do Raio (Rondas intensivas e ostensivas) esquecendo de coisas básicas, como a remuneração de soldados e cabos — analisa Paiva.
Em Minas Gerais, desde 2015 o gasto total com a PM supera a verba destinada à Educação. O estado já ultrapassou o limite de gasto com pessoal estipulado pela Lei de Responsabilidade Fiscal em 2017 e, segundo o Tesouro Nacional, o reajuste de 100% escalonado por quatro anos, em 2011, foi uma das razões para o desequilíbrio. Zema justificou, em nota, que “as Forças de Segurança conseguiram reduzir todos os indicadores de criminalidade. Minas Gerais é hoje um estado seguro”.