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Fundos com US$ 4,2 trilhões em ativos enviam carta a grandes bancos exigindo compromissos ambientais

Grupo com mais de 100 investidores ameaça "rebelião" nas próximas assembleias anuais das instituições financeiras se ações não forem adotadas
A fumaça sai das chaminés da usina elétrica a carvão de Belchatow, em maio de 2009 Foto: Peter Andrews/Reuters
A fumaça sai das chaminés da usina elétrica a carvão de Belchatow, em maio de 2009 Foto: Peter Andrews/Reuters

LONDRES — Siga o dinheiro. Parece ser este o novo lema dos ativistas ambientais. Nesta terça-feira, investidores que administram fundos com US$ 4,2 trilhões em ativos exigiram, em carta enviada a alguns dos maiores bancos do mundo, como o HSBC e o Standard Chartered, que assumam de fato compromissos ambientais.

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Caso contrário, alertam os investidores, esses bancos enfrentarão "rebeliões" em suas próximas gerais de acionistas, em 2022, por ocasião da divulgação de resultados anuais.

Os 115 investidores, incluindo Aviva Investors e M&G Investments, conclamam que os bancos a agirem apara enfrentar as mudanças climáticas. E dizem que é preciso alinhar a concessão de empréstimos por essas instituições a diferentes empresas ao Acordo de Paris sobre o clima.

Embora muitos bancos já tenham se inscrito em iniciativas voluntárias, como a Aliança de Bancos pela Emissão Zero (NZBA na sigla em inglês), os investidores dizem que uma mudança mais rápida é necessária.

A carta, coordenada pelos ativistas da ShareAction, foi endereçada a 63 bancos, incluindo HSBC, Standard Chartered e NatWest. E vem antes das negociações climáticas da COP26, com os governos sendo instados a estabelecer metas mais ambiciosas de redução de emissões de CO².

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Um relatório de maio da Agência Internacional de Energia (AIE) disse que é preicso não haver mais novos projetos baseados em  combustíveis fósseis a partir deste ano para que o mundo alcance sua meta de emissões líquidas zero até 2050.

Um manifestante segura um balde de carvão durante uma manifestação, na Cúpula do G20 em Osaka, Japão, em junho de 2019 Foto: Jorger Silva/Reuters
Um manifestante segura um balde de carvão durante uma manifestação, na Cúpula do G20 em Osaka, Japão, em junho de 2019 Foto: Jorger Silva/Reuters

A carta exige um compromisso para eliminar por completo os empréstimos às empresas que usam energia fóssil até 2030 nos países ricos da OCDE e até 2040 em outras partes do mundo. E o grupo de investidores conclama cada banco a assumir compromissos de ao menos reduzir esses financiamentos antes dessas datas.

Os signatários da Aliança de Bancos pela Emissão Zero já concordaram em criar metas climáticas até o fim do próximo ano. Mas os investidores que enviaram a carta da semana querem antecipar a criação dessas metas: exigem que isso seja feito antes das próximas reuniões de balanço anual.

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Eles pedem política para financiamentos mais sustentáveis com metas para daqui a cinco anos e outras ainda mais ambiciosas com prazo de dez anos.

"Os bancos devem alinhar seus financiamentos com o plano traçado pela (AIE), de emissão zero, ou com outro semelhante'', disse o grupo de investidores.

E, também, diante da proximidade da conferência das Nações Unidas sobre biodiversidade que acontecera na China em outubro, os investidores conclamaram os bancos a se comprometerem a publicar uma estratégia de incentivo à preservação da biodiversidade. E avisaram que querem uma resposta até 15 de agosto.

"O progresso contra essas questões pode ser levado em consideração nas assembleias anuais de 2022, quando o tema será considerado no voto de acionistas e poderá constar de resoluções a serem colocadas em votação".

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Em resposta, um porta-voz do HSBC disse:

"Esperamos continuar nosso envolvimento com a ShareAction e fornecer uma resposta construtiva à sua carta no momento oportuno."

O Standard Chartered, por sua vez, respondeu que fez grandes avanços em sua política de carvão nos últimos anos e se comprometeu a submeter sua estratégia de transição a uma votação consultiva de acionistas no próximo ano, enquanto o NatWest também destacou o progresso recente em suas políticas.