Celina

Das pioneiras britânicas ao #MeToo: um guia para saber tudo sobre o movimento feminista

Para ter na estante, o 'Livro do Feminismo' é um manual de consulta para quem já conhece o tema e para quem quer começar a entender
A história do feminismo, com as suas nuances e vertentes oriundas dos diferentes objetivos e níveis de desigualdade enfrentados pelas mulheres ao redor do mundo, é tema do 'Livro do Feminismo' Foto: Arte de Clara Brandão sobre foto de Marcelo Theobald
A história do feminismo, com as suas nuances e vertentes oriundas dos diferentes objetivos e níveis de desigualdade enfrentados pelas mulheres ao redor do mundo, é tema do 'Livro do Feminismo' Foto: Arte de Clara Brandão sobre foto de Marcelo Theobald

RIO - Feminismo. O termo que movimenta o mundo há algumas centenas de anos foi usado pela primeira vez em 1837. A palavra se converteu em corrente de pensamento somente alguns anos depois, em 1890, mas muito antes disso, mulheres pelo mundo já falavam abertamente das desigualdades que enfrentavam em função do seu gênero.

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De lá para cá, muita coisa aconteceu. A luta feminista ganhou inúmeras nuances e vertentes oriundas dos diferentes objetivos e níveis de desigualdade enfrentados pelas mulheres ao redor do mundo, de acordo com sua raça, classe social, religião, orientação sexual e identidade de gênero. O desdobramento dessas ideias foi, e ainda é, capaz de moldar e mudar relações sociais e culturais.

Porém, ainda há muita ignorância, estereótipos e hostilidade quando o assunto é feminismo. E o único modo de combater todas essas coisas é garantindo maior informação, escreve a jornalista e escritora Lucy Mangan no texto de apresentação de “O Livro do Feminismo” (Globo Livros, 2019).

A obra que acaba de ser lançada no Brasil examina as ideias inovadoras e ações pioneiras que serviram de modelo e abriram caminhos para a luta por direitos e por igualdade desde o século XII até hoje, partindo dos primórdios do feminismo na Europa pós-Revolução Francesa até chegar aos movimentos atuais de denúncia de assédio, como o #MeToo.

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Para Mangan, o livro desempenha uma função vital: dar às mulheres uma noção particular do seu lugar na história.

“Mulheres ativistas e suas conquistas nunca foram celebradas, divulgadas ou suficientemente reconhecidas. E, quando isso acontece, fica mais difícil ter como referência o que veio antes”, afirma a jornalista.

Movimentos e múltiplas vozes

O movimento feminista costuma ser explicado em ondas, de acordo com o catalisador de cada época. Os sociólogos e historiadores identificam três delas, mas algumas feministas e pesquisadoras falam em uma quarta onda se fortalecendo a partir dos anos 2010. Há críticas a essa divisão, uma vez que ela pode reduzir cada onda a um único objetivo, quando o movimento, na verdade, é mais amplo e está em constante evolução.

No livro, no entanto, a mobilização das mulheres ao longo da história é dividida em seis partes, explicando as demandas mais marcantes de cada época através das citações de quem viveu e falou naquele determinado período.

Ali estão desde as vozes feministas clássicas, como a da francesa Simone de Beauvoir, que, em 1949, na obra "O Segundo Sexo" escreveu que “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher” , até vozes nem tão conhecidas, mas com grande contribuição para a luta por direitos das mulheres, como a da ganesa Efua Dorkenoo, que, nos anos 80, lutou pelo fim da mutilação genital de meninas e mulheres no seu país.

O livro passa pelas principais mobilizações e vertentes feministas ocidentais, mas também fala do movimento de mulheres em países islâmicos, na Índia, China e Japão. Também trata de conceitos como gênero, interseccionalidade, e das mais diversas demandas do feminismo ao longo da História, pela educação e pelo voto,  pelos direitos reprodutivos, pelo fim do casamento infantil e da cultura do estupro.

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O volume é a décimo quarto da coleção “As grandes ideias de todos os tempos”, da Globo Livros. Em uma linguagem clara, com imagens, infográficos e boxes, ele funciona quase como um manual para consulta, atendendo desde leitoras feministas a leitores em geral, que estão buscando as primeiras informações sobre o movimento.

A enciclopédia se encerra no impactante fenômeno #MeToo, que elevou a consciência sobre o abuso sexual a um patamar nunca antes alcançado. Em uma das últimas citações do livro, a atriz Alyssa Milano é categórica. “Não tenho tolerância para discriminação, assédio, abuso ou desigualdade. Para mim, chega.”