Celina

Durante a quarentena, atletas brasileiras criam competição virtual de surfe feminino

As surfistas Yanca Costa e Isabela Saldanha organizam a competição de vídeos de surfe 'Shaka Girls Virtual Surf Contest'
A surfista Yanca Costa é uma das organizadoras do concurso virtual de surfe feminino 'Shaka Girls', junto com a amiga Isabela Saldanha Foto: Arte sobre foto de Arthur de Carvalho
A surfista Yanca Costa é uma das organizadoras do concurso virtual de surfe feminino 'Shaka Girls', junto com a amiga Isabela Saldanha Foto: Arte sobre foto de Arthur de Carvalho

No momento em que diversas competições esportivas foram canceladas devido à pandemia de coronavírus , duas surfistas brasileiras decidiram organizar um concurso virtual de surfe feminino . Por meio de uma página no Instagram, Yanca Costa , de 20 anos, e Isabela Saldanha , de 16, criaram o "Shaka Girls Virtual Surf Contest" .

O concurso é realizado por meio de vídeos, enviados pelas atletas participantes, e a votação acontece via enquetes nos stories do Instagram. No primeiro dia de competição, que começou esta terça-feira (24), as surfistas foram sorteadas em duplas e os internautas votaram na vencedora de cada bateria, que avançou para a próxima etapa, e assim em diante.

Para se inscrever, era preciso apenas enviar um vídeo surfando, de no máximo 15 segundos. "Qualquer menina podia participar, de todas as idades e de todo Brasil", explica Yanca. Ela conta que a ideia inicial era selecionar 24 competidoras, mas a procura foi tanta que aumentaram para 34 na categoria principal, a "Shaka Girl", mais 16 na categoria de base, a "4,11", que inclui meninas de até 14 anos.

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O projeto, que começou como uma ideia para "entreter as meninas entediadas durante a quarentena e o público que gosta de ver um surfezinho", já recebeu apoio de marcas interessadas em participar oferecendo produtos para as campeãs. Além dos prêmios, as vencedoras de cada categoria serão divulgadas em um post nos stories de todas as participantes.

Mais do que realizar a competição, a página também tem como objetivo mostrar mais sobre o surfe feminino e as atletas brasileiras e acompanhar o que acontece nos bastidores desse esporte, que as organizadoras acreditam precisar de mais incentivo.

— Uma das razões para gente fazer esse Instagram foi para ajudar a movimentar o surfe feminino. E já está dando o que falar, estou muito feliz — conta a cearense Yanca, que atualmente mora e representa o Rio de Janeiro no esporte.

Um dos nomes da nova geração do surfe brasileiro, Yanca Costa, de 20 anos, compete desde os 10 Foto: Anna Veronica
Um dos nomes da nova geração do surfe brasileiro, Yanca Costa, de 20 anos, compete desde os 10 Foto: Anna Veronica

Isabela, que diz  surfar "desde que se entende por gente", concorda que o esporte precisa ser mais incentivado, principalmente pelas plataformas esportivas, que em alguns casos transmitem campeonatos masculinos, mas não femininos. Para elas, o preconceito com as mulheres no surfe ainda é uma realidade enfrentada pelas atletas.

— Mesmo não percebendo, a maioria dos homens têm sim preconceito com as meninas dentro d'água. O mais comum é acharem que não vamos entrar nas ondas e nos "rabearem" (entram nas nossas ondas) — desabafa a atleta. — A expressão "você surfa igual menina" também é muito usada e tem um aspecto negativo, que faz parecer que meninas não podem surfar bem. Muito pelo contrário: tem menina surfando melhor que muito marmanjo aí.

A surfista Isabela Saldanha, de 16 anos, defende que o esporte precisa de mais incentivo Foto: Arquivo pessoal
A surfista Isabela Saldanha, de 16 anos, defende que o esporte precisa de mais incentivo Foto: Arquivo pessoal

— Não acontece todo dia, mas muitas vezes vem alguém soltando piadinha na água. Eu não ligo muito para o que falam, só se for alguma coisa que me deixe muito estressada. Mas o preconceito existe sim, já vi fazerem pior com outras amigas minhas, até xingarem. Não gosto nem de pensar, é desnecessário. Todo mundo está no mar para se divertir — defende Yanca.

Durante o isolamento domiciliar, além de cuidar do concurso virtual, as surfistas também não deixam os treinos de lado e mantêm os exercícios em casa. "Não é como ir à academia, mas ficar parada jamais", diz Yanca. Nesse momento, a tecnologia é uma aliada.

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— Meu treinador me passa os treinos e minha psicóloga também me incentiva a treinar e me diz para fazer mentalização, já que não estou surfando. Também assisto vídeos meus e de outras pessoas o dia inteiro, quando voltar vou estar com muita fome de surfe — ela conta.

— Durante esse período, meu treinador montou uma planilha de treinos: segunda temos respiração (apneia, fora d'água), terças e quintas funcional e quarta treinamento mental. Tudo por chamada de vídeo — explica Isabela.