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No Dia da Mulher Negra, mulheres da redação do GLOBO contam sobre luta para amar e usar o cabelo natural. Veja vídeo

'Que menina negra não foi chamada de cabelo de bombril na escola? Eu desconheço', afirma a colunista Flávia Oliveira
Para muitas mulheres negras, escovas definitivas e outros tipos de alisamento viraram rotina desde cedo; a colunista Flávia Oliveira e outras jornalistas dividem suas experiências Foto: Fernando Lemos
Para muitas mulheres negras, escovas definitivas e outros tipos de alisamento viraram rotina desde cedo; a colunista Flávia Oliveira e outras jornalistas dividem suas experiências Foto: Fernando Lemos

RIO - Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, esta quinta-feira foi a data escolhida pela equipe de CELINA — a plataforma de gênero e diversidade do GLOBO — para pôr no ar um vídeo em que mulheres que trabalham na redação do jornal contam de que forma se relacionam com um dos aspectos mais característicos da identidade negra: o cabelo. Em meio a uma sociedade em que o padrão de beleza é ser branca, qualquer traço — ou fio — que não seja associado a essa etnia é considerado "ruim". E isso é ensinado desde a infância.

'Quem nunca foi chamada na escola de cabelo de bombril?' questiona a colunista do Globo Flávia Oliveira. Ela e outras mulheres negras da redação de O Globo e Extra, jornalistas ou não, contam neste vídeo como foi o processo de aceitação do cabelo natural, marcando o dia internacional da mulher negra latino-americana e caribenha, em 25 de julho.
'Quem nunca foi chamada na escola de cabelo de bombril?' questiona a colunista do Globo Flávia Oliveira. Ela e outras mulheres negras da redação de O Globo e Extra, jornalistas ou não, contam neste vídeo como foi o processo de aceitação do cabelo natural, marcando o dia internacional da mulher negra latino-americana e caribenha, em 25 de julho.

Além de jornalistas, estagiárias de jornalismo e uma secretária da redação, participou do vídeo a colunista Flávia Oliveira, que definiu assim sua relação com o próprio cabelo: "amor e ódio".

— Como qualquer mulher negra do Brasil, eu tenho uma relação de amor e ódio, acho que primeiro de ódio e depois de amor, com o cabelo — conta ela. — Que menina negra não foi chamada de "cabelo de bombril" na escola? Eu desconheço. Eu fui, várias vezes. E isso me fazia não gostar do meu cabelo, achar feio. Então, ou era preso, ou alisado.

Naíse Domingues, Amanda Pinheiro, Cíntia Cruz, Regina Oliveira, Elisa Torres, Camilla Pontes e Ana Carolina Diniz falam da relação com o cabelo no Dia da Mulher Negra
Foto: Fernando Lemos
Naíse Domingues, Amanda Pinheiro, Cíntia Cruz, Regina Oliveira, Elisa Torres, Camilla Pontes e Ana Carolina Diniz falam da relação com o cabelo no Dia da Mulher Negra Foto: Fernando Lemos

Para muitas mulheres negras, escovas definitivas e outros tipos de alisamento viraram rotina desde cedo. Parte significativa delas só conseguem rever o aspecto natural de seus cabelos já na fase adulta, depois de se livrarem da obrigação social de alisar.

— Eu devo ter começado (a fazer alisamento) com uns 6, 7 anos — diz a estagiária Naise Domingues. — E isso se estendeu até 2015, quando eu tinha 22 anos.

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A estagiária Naíse Domingues conta que começou a alisar o cabelo ainda na infância, quando tinha 6 anos Foto: Fernando Lemos
A estagiária Naíse Domingues conta que começou a alisar o cabelo ainda na infância, quando tinha 6 anos Foto: Fernando Lemos

A jornalista Cíntia Cruz destaca o quão árduo é o processo para começar a entender, em meio a todo o preconceito, que as características físicas de negras e negros são bonitas.

— O racismo é tão cruel que faz você negar os seus traços, e aí na verdade é você que está sendo negada, a sua existência. O racismo faz com que você olhe para espelhos deformados. Você vê o feio onde é belo — afirma Cíntia.

Data existe desde 1992

Assim como o Dia Internacional da Mulher — comemorado em 8 de março —, o 25 de julho não tem o objetivo de ser uma data de festejos: a ideia é disseminar conhecimento sobre as desigualdades de gênero e raça que atingem a mulher negra e da América Latina, fortalecer as organizações que trabalham para diminuir essas desigualdades e reforçar os laços entre essas mulheres.

A data surgiu em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana. Lá, a discussão foi centrada no machismo e no racismo e em formas de combatê-los. A data foi, então, reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU).

No Brasil, o 25 de julho virou comemoração nacional em 2014, quando passou a ser também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra — em homenagem à líder quilombola que viveu no século XVIII e que foi morta em uma emboscada.

Motivos para luta não faltam: no Brasil, dois terços das mulheres assassinadas são negras, elas sofrem mais violência obstétrica do que as brancas e têm menos acesso à saúde e à educação formal, apenas para citar alguns aspectos.