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Celina

No México, confinamento pelo coronavírus e aumento da violência colocam a vida de mulheres em risco

Número de feminicídios no país cresceu 8% nos primeiros três meses de 2020, em comparação ao mesmo período do ano passado
Advogados apontam que o crescimento na taxa de assassinatos de mulheres somado ao isolamento domiciliar devido ao coronavírus colocam a segurança das mexicanas em risco Foto: PEDRO PARDO/AFP
Advogados apontam que o crescimento na taxa de assassinatos de mulheres somado ao isolamento domiciliar devido ao coronavírus colocam a segurança das mexicanas em risco Foto: PEDRO PARDO/AFP

MÉXICO - Quase mil mulheres foram assassinadas no México nos primeiros três meses deste ano, de acordo com dados do governo, mostrando um aumento na violência que, combinada com medidas de isolamento domiciliar devido ao coronavírus, coloca as mulheres em risco , afirmam advogados. A taxa foi 8% superior à do mesmo período do ano passado, de acordo com os dados.

— A pandemia mais mortal para as mulheres em nosso país, mais do que o coronavírus, é a violência feminicida. Hoje, a violência é a maior ameaça a todos os direitos das mulheres que reconhecemos com grande esforço — disse a congressista Martha Tagle, do partido de oposição Citizens Movement (Movimento Cidadão).

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Cerca de 14 mil casos confirmados de Covid-19 foram relatados no México e mais de 1.300 mortes, embora as taxas de teste sejam baixas. Das mortes por coronavírus, cerca de 420 foram de mulheres, de acordo com dados oficiais.

O governo também informou que pelo menos 720 mulheres foram assassinadas no primeiro trimestre do ano e 244 foram vítimas de feminicídio , crime no qual uma mulher é morta por causa de seu gênero. Há um ano, pelo menos 890 mulheres foram assassinadas. A violência de gênero é generalizada no país latino-americano.

A agência nacional de estatística (INEGI) disse que dois terços das mulheres no México já sofreram alguma forma de violência, com quase 44% sofrendo abuso de um parceiro.

A taxa de feminicídio mais do que dobrou no país nos últimos cinco anos, e a violência das gangues levou o número de assassinatos a níveis recordes. A maioria dos crimes violentos no México continua sem solução. Com as medidas de bloqueio do coronavírus estendidas até pelo menos o final de maio, os advogados temem que as taxas alarmantes de violência possam piorar.

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As ligações e mensagens enviadas à Rede Nacional de Abrigos - uma rede de quase 70 refúgios para mulheres vítimas de violência - aumentaram mais de 80% entre a metade de março e a metade de abril, quando comparadas ao mês anterior.

— É terrível. Acho que muito mais mulheres poderiam morrer por causa da violência do que pela Covid-19 neste período — disse Patricia Olamendi, advogada que representa vítimas de violência e escreveu protocolos sobre investigações de feminicídio.

Ela acrescentou que o governo não publicou um plano para combater o aumento do abuso doméstico:

— Há um abandono completo e absoluto. O que está acontecendo no país é desumano — disse.

Em uma reunião na semana passada sobre a violência contra as mulheres durante a pandemia, a ministra do Interior, Olga Sanchez Cordero, afirmou que a linha de emergência 911 do país é a chave para combater o problema.

— Devemos unir esforços para enfrentar a pandemia de violência (contra as mulheres) que é a pandemia silenciosa, mas também a que causa dor e custa milhares de vidas por ano — ela defendeu.

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O Ministério do Interior não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Os protestos contra a violência de gênero cresceram no início deste ano, com milhões de mulheres mexicanas ficando em casa durante uma greve nacional em março, um dia após uma série de protestos em todo o país no Dia Internacional da Mulher .

O México sofreu o pior ano de homicídios em 2019, com um recorde de 34.582 vítimas, segundo dados publicados em janeiro.