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Presidente da Federação de Futebol dos EUA pede demissão após sexismo contra seleção feminina

Atuais campeãs do mundo, americanas pedem pagamentos iguais aos da seleção masculina. Federação afirmou na corte de justiça que homens ganham mais por enfrentarem torcidas hostis
Alex Morgan e Megan Rapinoe comemoram um gol na Olimpíada de Londres-2012: craques da seleção feminina dos EUA estão processando federação do país Foto: Arte sobre foto de Andrew Yates / AFP
Alex Morgan e Megan Rapinoe comemoram um gol na Olimpíada de Londres-2012: craques da seleção feminina dos EUA estão processando federação do país Foto: Arte sobre foto de Andrew Yates / AFP

O presidente da Federação Americana de Futebol (US Soccer), Carlos Cordeiro, anunciou sua demissão e pediu desculpas pelos argumentos utilizados pela instituição na disputa judicial com a seleção feminina, que gerou uma onda de críticas contra a federação .

Há cerca de um ano as jogadoras da seleção dos Estados Unidos pleitearam na justiça receber os mesmos valores que os jogadores da seleção masculina e reclamaram um pagamento retroativo de US$ 66 milhões, usando a em seu argumento a Lei de Igualdade Salarial. A Federação Americana de Futebol se opõe à demanda das atletas.

Ao manifestar-se na última terça-feira (10) perante a corte federal de Los Angeles, a federação tentou justificar a desigualdade salarial entre homens e mulheres. Entre os argumentos usados estavam "as condições hostis que a seleção masculina enfrenta quando joga no México ou na AMérica Central, que, segundo a federação, "não se comparam com nada do que a seleção feminina enfrenta".

A Federação de Futebol dos Estados Unidos também defendeu que "o trabalho de um jogador da seleção masculina requer um nível mais alto de destreza baseado em velocidade e força do que o de uma jogadora da seleção feminina", além de afirmar que a equipe de homens dá mais audiência na TV do que as mulheres.

Para pensar: O que fazer quando você ganha menos que um homem, apesar de ter o mesmo cargo?

A revelação desse argumentos provocou uma escalada de reações contra a federação e contra Cordeiro, incluindo posicionamentos da Coca-Cola, que patrocina a equipe, e da atual dona da Bola de Ouro, a jogadora Megan Rapinoe, capitã do time que, na quarta-feira (11) se tornou campeã da copa SheBelieve.

No olho do furacão, Cordeiro decidiu se demitir:

"Os argumentos e a linguagem usados em nossa defesa ofenderam gravemente, especialmente a nossa extraordinária equipe feminina, que merece muito mais. Foi inaceitável e indesculpável", escreveu Cordeiro em sua carta de renúncia.

Argumentos 'misóginos e sexistas'

Entrevistada antes da demissão de Cordeiro, Megan Rapinoe respondeu com firmeza aos argumentos apresentados pela Federação Americana de Futebol na corte de justiça.

"De alguma maneira, esse é o tipo de sentimentos que temos visto como pano de fundo por muito tempo", disse Rapinoe à Espn. "Mas ver isto como um argumento tão descaradamente misógino e sexista usado contra nós é realmente decepcionante". A jogadora, conhecida por seu ativismo pelos direitos LGBT+, fez essas declarações um dia depois de levantar a taça da Copa SheBelieves, na qual a seleção americana, atual campeã do mundo, derrotou três rivais.

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Em sua carta de renúncia, o presidente da federação se justificou, alegando que não pode revisar toda a defesa antes que ela fosse apresentada à corte.

"Assumo a responsabilidade", declarou Cordeiro, que estava no cargo desde 2018 para uma mandato de quatro anos.

A vice-presidente da federação, Cindy Parlow Cone, assumirá o cargo no lugar de Cordeiro.

Em relação à demanda das jogadoras, a posição de Cordeiro era oferecer uma compensação financeira idêntica às seleções feminina e masculina em todas as partidas controladas pela instituição. Ele alegava que o pedido de pagamento retroativo no valor de US$ 66 milhões, que ele se recusava a enfrentar, está relacionado com as disparidades nos prêmios da Fifa para as Copas do Mundo masculina e feminina. A Alemanha recebeu US$ 35 milhões pela vitória em 2014, e a França recebeu US$ 38 milhões. Já a seleção americana, campeão do mundo em 2015 e 2019 recebeu um total de US$ 6 milhões pelos dois torneios.