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Sete livros para conhecer e entender o feminismo negro

Da socióloga americana Patricia Hill Collins à historiadora brasileira Giovana Xavier, listamos obras escritas sobre mulheres negras
Livros de autoras negras Foto: Arte de Nina Millen
Livros de autoras negras Foto: Arte de Nina Millen

RIO - Já não era sem tempo. Este 2019 vê a chegada ao mercado editorial brasileiro de obras importantes do feminismo negro como a "Autobiografia" da intelectual e ativista americana Angela Davis, publicada aqui 45 anos após seu lançamento original, e de "Pensamento feminista negro", da socióloga americana Patricia Hill Collins, lançado nos EUA em 1990, mas que chega esta semana às livrarias daqui.

Por que obras tão importantes levaram tanto tempo para chegar ao Brasil? A historiadora Raquel Barreto afirmou em entrevista à CELINA que a demora em traduzir esses livros é fruto do racismo epistêmico presente no país. Segundo ela, a sociedade brasileira ignora, ou melhor, apaga, a produção intelectual das mulheres negras.

Foi só nos últimos dez anos que o mercado editorial brasileiro passou a dedicar maior atenção à produção intelectual de mulheres negras — sejam elas pensadoras brasileiras ou nomes conhecidos em todo o mundo como as já citadas Angela Davis e Patricia Hill Collins. Por isso, listamos sete obras para quem quer conhecer e entender melhor o feminismo negro.

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1 - Pensamento feminista negro (Patricia Hill Collins)

Pensamento feminista negro, de Patricia Hill Collins Foto: Divulgação
Pensamento feminista negro, de Patricia Hill Collins Foto: Divulgação

Originalmente publicado em 1990, a obra da socióloga americana chega agora ao Brasil pela eidtora Boitempo, com prefácio à edição brasileira escrito pela autora. Patricia já afirmou que pretendia escrever um livro sobre a experiência das mulheres afro-americanas, algo que sua mãe pudesse ler. Ao final, produziu uma obra fundamental sobre o pensamento feminista negro, abordando temas como política, opressão, trabalho, maternidade, sexualidade e ativismo, propondo uma nova política de empoderamento das mulheres negras.

2 - O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras (bell hooks)

O feminismo é para todo mundo: política arrebatadoras, de bell hooks Foto: divulgação
O feminismo é para todo mundo: política arrebatadoras, de bell hooks Foto: divulgação

A teórica americana Gloria Jean Watkins escreve sob o pseudônimo bell hooks, uma homenagem à sua avó materna, Bell Blair Hooks, e também uma forma de enfocar sua obra e não sua persona — por isso, o pseudônimo é escrito em letras minúsculas. Com mais de 30 livros publicados, bell hooks escreveu "O  feminismo é para todo mundo" em 2000, mas o livro chegou ao Brasil em 2018, pelo selo Rosa dos Tempos, da editora Record. Nele, ela busca explicar o que é feminismo, desmistificando conceitos errados. Sabe aquela história de que toda feminista é braba e briguenta? bell sai das aparências para mostrar que o feminismo vai além do que se imagina. Ela aborda a interseccionalidade de raça, gênero e capital para falar sobre igualdade de gênero, direitos reprodutivos, sexualidade e outros temas.

3 - Mulheres, raça e classe (Angela Davis)

Mulheres, raça e classe, de Angela Davis Foto: Divulgação
Mulheres, raça e classe, de Angela Davis Foto: Divulgação

Angela Davis parte dos efeitos da escravidão para mostrar como as sociedades pós-coloniais não podem construir seus projetos de nação sem levar em conta a interseccionalidade de raça, classe e gênero. Ao refletir sobre como as opressões se cruzam, ela mostra como as lutas feminista, anticapitalista e antiracista precisam atuar juntas. Para ela, as  mulheres negras, que formam o grupo mais atingido por essa tripla opressão, têm papel central na articulação dos movimentos contrários às explorações que ainda acontecem.

4 - Quem tem medo do feminismo negro? (Djamila Ribeiro)

Quem tem medo do feminismo negro?, de Djamila Ribeiro Foto: Divulgação
Quem tem medo do feminismo negro?, de Djamila Ribeiro Foto: Divulgação

Mestre em Filosofia, Djamila Ribeiro ganhou notoriedade com o livro "O que é lugar de fala?", em que explica o conceito que, graças a ela, a gente hoje entende e defende. em "Quem tem medo do feminismo negro?", lançado pela Companhia das Letras, Djamila parte de sua história pessoal para, em uma série de artigos originalmente publicados pela revista "Carta Capital", mostrar os efeitos da discriminação racial e explicar conceitos como interseccionalidade, empoderamento feminino e feminismo negro. Ela explica como o contato com a obra de outras mulheres negras — como Conceição Evaristo, Sueli Carneiro, Alice Walker e bell hooks — a fez sentir representada e orgulhosa de suas raízes.

5 - Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando sua própria história (Giovana Xavier)

Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando sua própria história Foto: Divulgação
Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando sua própria história Foto: Divulgação

A historiadora Giovana Xavier é conhecida pelo perfil @pretadotora, que mantém no Instagram, em que discute racismo e representatividade por meio de sua rotina. Pense em um lugar onde as mulheres negras raramente são vista. Giovana vai lá e mostra que aquele espaço e delas também. Mas não é só: ela criou a disciplina Intelectuais Negras na Faculdade de Educaçao da UFRJ, onde é professora, e  organizou o catálogo Intelectuais Negras Visíveis, para combater a invisibilidade da produçao acadêmica das mulheres negras. Como se não bastasse, ela acaba de lançar, pela Editora Malê, o livro de crônicas "Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando sua própria história". O título, uma brincadeira com os memes em torno da apresentadora Bela Gil, é, na verdade, seriíssimo e esta dentro do trabalho da historiadora pela visibilidade das mulheres negras. Ela escreve sobre racismo, mas também sobre produção intelectural, mulheres inspiradoras, maternidade e educação.

6 - Memórias da plantação (Grada Kilomba)

Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano, de Grada Kilomba Foto: Divulgação
Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano, de Grada Kilomba Foto: Divulgação

Escritora, psicóloga e artista, a portuguesa Grada Kilomba (com origens em Angola e São Tomé e Príncipe e radicada em Berlim) participou da Flip 2019, onde fez o lançamento brasileiro de "Memórias da plantação: episódios do racismo cotidiano" (editora Cobogó), originalmente publicado em inglês, 2008. Por meio de curtas histórias psicanalíticas, ela trata de apagamento, solidão, corpo e sexualidade, cabelo e insultos, mostrando como a normalidade do racismo é violento e gera feridas e traumas profundos. Dona de pensamento crítico afiado, Grada não poupa o Brasil. Já disse inúmeras vezes que percebe facilmente o racismo na estrutura social brasileira, onde a lógica da sociedade escravocrata ainda pauta as relações raciais.

7 - Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis (Jarid Arraes)

Heroínas brasileiras em 15 cordéis, de Jarid Arraes Foto: Divulgação
Heroínas brasileiras em 15 cordéis, de Jarid Arraes Foto: Divulgação

Sabemos que não é pequena a contribuição das mulheres para o Brasil — apesar da História oficial praticamente não destacar a participação feminina nem dar nomes às "nossas heroínas". Imaginem quando o assunto é mulher negra... Felizmente, a cearense Jarid Arraes tomou para si a tarefa de dar visibilidade às mulheres brasileiras. Poeta e cordelista, ela já escreveu sobre Dandara dos Palmares em "As lendas de Dandara" , e, este ano, lançou "Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis" pela Editora Pólen. Jarid conta as histórias de grandes mulheres negras como a escritora Carolina Maria de Jesus , a fundadora do primeiro sindicato de trabalhadoras domésticas no país Laudelina de Campos Melo e a líder quilombola Tereza de Benguela.