Frente ou fundos? Comprar um apartamento envolve, entre tantas outras decisões, escolher entre aqueles que ficam na parte frontal do edifício e os que estão atrás. Há argumentos para os dois lados. Na frente, dependendo da localização, o barulho pode incomodar, e a privacidade poder ser comprometida nos andares mais baixos.
Em compensação, são mais valorizados no mercado, principalmente nos endereços à beira-mar, com vista livre. Nos fundos, há mais silêncio e menos poeira da rua, mas corre-se o risco de ficar cara a cara com um vizinho ou com um muro alto.
Esse dilema que assombra incorporadoras e construtoras há anos também tem implicações geográficas. Na Zona Sul, onde os terrenos são mais espremidos, o risco de um imóvel de fundos ter vista para outros apartamentos ou para uma empena aumenta bastante.
Na Barra da Tijuca e no Recreio dos Bandeirantes, onde ainda há áreas mais livres, os residenciais podem ser erguidos no centro do terreno, garantindo a todas as unidades um horizonte livre. Aí, a questão muda: sol da manhã ou sol da tarde?
— Ser de frente ou fundos é muito relativo, porque depende de onde fica o lançamento. Quando o projeto tem apartamentos de fundos com pouca visibilidade, menos arejado, podemos oferecer alternativas para atrair o cliente, como o pagamento do ITBI e da escritura — observa o diretor Comercial e de Incorporação da Calçada, Bruno Oliveira.
Sócio-diretor da Incorporadora Itten, Eduardo Cruz lembra que o Jardim Oceânico, região da Barra da Tijuca em que a empresa atua fortemente, tem uma característica singular: os apartamentos de fundos são muito procurados por investidores, pois é fácil conseguir alugá-los por valores próximos aos das unidades de frente, embora custem menos.
Além disso, em muitos projetos, a planta do apartamento dos fundos acaba sendo mais “jeitosa” — a legislação prevê, por exemplo, em residenciais com três unidades por andar, que duas fiquem de frente, com plantas mais compridas, e uma de fundos, mais retangular. E há outras “iscas”: nos empreendimentos Sid, Haus e Dezoito, o comprador de um imóvel de fundos ganha um ano de condomínio grátis.
— Sempre que possível, tentamos melhorar o ambiente dos fundos dos prédios, fazendo uma parede verde, por exemplo. É uma forma de evitar que o morador fique olhando ou sendo visto pelos vizinhos — afirma Cruz.
SEM DISCUSSÃO
No caso do Signature Residence, da Avanço Realizações Imobiliárias, o projeto já saiu da prancheta com a proposta de eliminar a questão frente x fundos. Como o residencial fica na Praia do Pepê, todos os apartamentos têm vista para o mar, total ou parcialmente.
O gerente de Marketing da Avanço, Fernando Nabuco, lembra que, em ruas muito movimentadas, é normal os clientes preferirem unidades dos fundos e que, no caso de prédios construídos em centro de terreno, é possível fazer a área de lazer na parte de trás, para garantir uma vista agradável aos moradores.
— Outro fator que impacta muito essa questão é a posição do sol. Se for pela manhã, é sempre mais valorizado, e ele pode bater justamente nos fundos — diz Nabuco.
Para o CEO da Piimo, Marcos Saceanu, as incorporadoras precisam desenhar plantas equilibradas, já que sempre há quem prefira um tipo de unidades ou outro. E, nos residenciais com apenas um apartamento por andar, é fundamental saber quais cômodos ficarão na parte frontal ou na de trás.
— Uma coisa que funciona bem é ter uma área de lazer nos fundos. Quem tem filho pequeno, por exemplo, gosta de ficar de olho na criança, enquanto ela brinca, e vai escolher uma unidade assim. Em geral, a liquidez é acelerada. Nos prédios com um apartamento por andar, costumamos deixar a área social voltada para a frente, e os quartos, para os fundos, garantindo mais silêncio e privacidade — explica Saceanu.