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Cultura

Aborto, maconha e lágrimas: Kanye West faz o seu primeiro comício em busca da presidência dos Estados Unidos

Em confusa conversa com apoiadores, rapper chorou ao acusar o pai de não querer que ele nascesse e disse que a marijuana "deveria ser legalizada"
O rapper Kanye West, em seu primeiro comício da campanha presidencial, domingo, em North Charleston, na Carolina do Sul Foto: RANDALL HILL / REUTERS
O rapper Kanye West, em seu primeiro comício da campanha presidencial, domingo, em North Charleston, na Carolina do Sul Foto: RANDALL HILL / REUTERS

RIO - Duas semanas após ter anunciado que ia concorrer à presidência dos Estados Unidos , o rapper Kanye West fez este domingo, no  Exquis Event Center em North Charleston, na Carolina do Sul, o que pode ser considerado o seu primeiro comício de campanha. Fiel ao estilo que vem apresentando nos últimos anos, Kanye deu uma série de declarações polêmicas e chorou ao revelar: "Meu pai queria que minha mãe me abortasse. Minha mãe salvou minha vida. Não haveria Kanye West, porque meu pai estava muito ocupado."

Pouco antes, em entrevista a um blogueiro chamado Kris Kaylin, Kanye explicou que viu nas iniciais S.C. de Carolina do Sul (South Carolina) um sinal de que deveria chamar o rapper Jay-Z (cujo nome de batismo é Sean Carter) para ser seu candidato a vice-presidente. Antes, ele havia anunciado uma pastora do Wyoming chamada Michelle Tidball como a sua vice. Os dois artistas gravaram um disco juntos, Kanye já acusou Jay-Z  de ter atiradores dispostos a matá-lo, mas garantiu que eles continuam "irmãos".

Às 17h, hora local, Kanye subiu a um palco improvisado usando um colete à prova de balas e com a cabeça raspada de uma forma que se podia ler "2020". Desde o início, ficou claro que o evento não estava bem planejado. Não havia microfone ou pódio para ele falar e seus comentários gritados eram muitas vezes abafados pelos mais exaltados na plateia.

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A proposta de Kanye foi a de que os participantes compartilhassem questões que lhes eram importantes e aí ele usaria os comentários como ponto de partida para compartilhar suas próprias posições. Quando uma jovem acusou a mídia social de fazer lavagem cerebral em crianças, Kanye iniciou uma conversa sobre como os medicamentos controlados também estavam alterando a percepção da realidade entre a sociedade. Ele também se gabou dos seu QI de 132 pontos: "Tive que ir ao hospital porque meu cérebro era grande demais para o meu crânio."

Abolicionista questionada

Em outro ponto, Kanye criticou a iconografia negra usada pelas organizações brancas, citando especificamente a histórica ativista e abolicionista americana (e ex-escrava) Harriet Tubman como exemplo. "Ela não libertou os escravos, mandou-os trabalhar para outras pessoas brancas." Além de falar da vontade do pai de abortá-lo, o rapper revelou que inicialmente queria que sua esposa Kim Kardashian interrompesse a gestação de North, primeira filha do casal. Entre lágrimas, disse que, se não fosse por uma "visão de Deus", ele teria permitido que seu primeiro rebento fosse "assassinado".

Mas quando uma jovem subiu ao palco para desafiar Kanye em suas opiniões, ele garantiu que não era contra o aborto. Em vez disso, ele disse que os Estados Unidos precisam fazer um trabalho melhor apoiando as mulheres grávidas e propôs dar um milhão de dólares a cada uma delas para que não abortassem, provocando risos da platéia. O rapper ameaçou interromper seu relacionamento com a Adidas e a Gap, a menos que as empresas o colocassem no conselho consultivo. Também encorajou seus seguidores a parar de assistir pornografia e disse que, se eleito, a maconha "deveria ser legalizada".

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O clima ficou mais pesado no final do evento, quando um participante questionou uma interpretação da Bíblia feita por Kanye. Depois de permitir que mais algumas pessoas falassem, ele saiu do palco entre uma mistura de aplausos e vaias. O evento ocorreu um dia antes do prazo final para apresentação de documentos na Carolina do Sul. Para entrar na cédula do estado, Kanye precisava obter 10.000 assinaturas.

Até então, Kanye estava na cédula de apenas um estado, Oklahoma. O prazo de inclusão em vários outros estados já acabou, ou seja, se os americanos quiseram votar nele, terão que escrever seu nome no papel de votação. Um consultor anteriormente contratado por Kanye expressou dúvidas de que ele poderia participar da corrida presidencial depois que ter perdido o prazo para chegar às urnas na Flórida, uma das etapas mais importantes do país.

Amigos preocupados

Analistas disseram acreditar que a campanha de Kanye poderia prejudicar a do candidato democrata Joe Biden, especialmente nos estados mais disputados, onde Donald Trump venceu com uma margem mínima em 2016 e onde as pesquisas atualmente o colocam atrás de Biden. Enquanto isso, alguns amigos e familiares próximos ao rapper temem que ele esteja passando por mais um episódio de bipolaridade.

Em meio a tudo isso, Kanye também está aparentemente pronto para lançar um novo álbum. Em um tweet excluído publicado na noite de sábado, ele anunciou que lançará um álbum chamado "Donda" na próxima sexta-feira. Seu último álbum, "Jesus is King", de canções gospel , foi lançado em outubro do ano passado.