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Cultura

Conheça a história de 'As aventuras da Blitz', um disco que daria um filme

Responsável por apresentar o rock a toda uma geração de jovens e crianças brasileiros, LP trazia faixas riscadas e uma HQ que não foi encartada a tempo
A Blitz, em apresentação no Maracanã, em novembro de 1982 Foto: Sebastião Marinho / Agência O Globo
A Blitz, em apresentação no Maracanã, em novembro de 1982 Foto: Sebastião Marinho / Agência O Globo

RIO - Pouco antes que a Covid-19 pusesse o Brasil em quarentena, muita gente andou gastando seu tempo livre na internet com questionários em que se perguntava, por exemplo... qual foi o primeiro show de sua vida? E, para boa parte dos que responderam (gente lá pelos seus 40 e tantos e 50 e poucos anos de idade), não deu outra: foi um da Blitz , a banda que pôs o rock na ordem do dia da criança e do jovem brasileiro dos anos 1980 com seu LP de estreia, “As aventuras da Blitz” (1982).

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Detalhe da capa do disco "As aventuras da Blitz", de 1982 Foto: Reprodução
Detalhe da capa do disco "As aventuras da Blitz", de 1982 Foto: Reprodução

Na gênese da Blitz, estavam de um lado Evandro Mesquita e Ricardo Barreto , respectivamente ator e músico do Asdrúbal Trouxe o Trombone , grupo que levou para os palcos a linguagem e os dramas da juventude da Zona Sul carioca, entre o desbunde e a repressão dos pais e da ditadura. De outro lado, estava o baterista Lobão e um grupo de jovens músicos profissionais, que haviam passado pelo rock progressivo e foram ganhar a vida tocando com cantores da MPB.

Eles se encontraram em 1981 quando o Asdrúbal e a cantora Marina dividiram temporada no Teatro Ipanema e resolveram criar um grupo para acompanhar Evandro em suas canções, cheias de um humor herdado do teatro. No caminho para a casa de Lobão, no Joá, onde ensaiavam, eles sempre eram vítimas de achaques da polícia – daí que, na hora de batizar o grupo, o baterista sugeriu o nome Blitz, como eram conhecidas na época as incertas dos meganhas.

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Com as ainda inexperientes cantoras Márcia Bulcão e Fernanda Abreu , a Blitz começou a chamar a atenção no verão de 1982, em shows no Circo Voador. Logo, eles caíram nas graças da gravadora EMI, que apostou num compacto de “Você não soube me amar”, anti-canção de amor, rock-de-breque encenado por Evandro com as meninas. O disco, que tinha a música no lado A e o cantor falando “nada, nada, nada, nada...” no lado B venderia mais de um milhão de cópias (300 mil delas compradas por uma empresa de cosméticos, para dar de brinde em campanha publicitária).

O sucesso estrondoso levou a EMI a acelerar a gravação do LP da Blitz, feita nos meses de julho e agosto. A mixagem tomou uma semana e, em 26 de setembro, “As aventuras da Blitz” estava nas lojas. Mas não sem contratempos: com o disco pronto, duas faixas foram vetadas pela Censura: “Ela quer morar comigo na lua” e “Cruel, cruel esquizofrenético blues”. O produtor Mariozinho Rocha veio com a ideia de riscar as faixas na matriz do LP. “Foi uma resposta aos absurdos da Censura, o feitiço virou contra o feiticeiro”, recordou-se ele em “Blitz, o filme” (2019), de Paulo Fontenelle.

Com sua capa em estilo das revistas dos X-Men e estética new wave (de Gringo Cardia e Luiz Stein ), “As aventuras da Blitz” pegou tanto o público jovem (seduzido pela linguagem descontraída das canções), quanto as crianças (a quem foi prometido uma revistinha, que não ficou pronta a tempo de ser encartada). Foi o primeiro e último disco de Lobão com o grupo. Ele resolveu abdicar do avassalador sucesso com a trupe em prol de uma incipiente carreira solo e deixou uma profecia: a de que a banda ainda iria posar com o Papai Noel – o que aconteceria no fim daquele mesmo ano, quando a Blitz participou da festa em que o bom velhinho descia de helicóptero no Maracanã.