Cultura

Documentário sobre prisão de Caetano Veloso em 1968 é selecionado para Festival de Veneza

No filme dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil, compositor narra suas memórias do cárcere
Caetano lembra de prisão na ditadura em documentário Foto: Divulgação
Caetano lembra de prisão na ditadura em documentário Foto: Divulgação

O documentário “Narciso em Férias”, sobre a prisão de Caetano Veloso em 1968, foi selecionado para o 77º Festival de Veneza, previsto para ocorrer de 2 a 12 de setembro, na Itália. No longa, Caetano Veloso relembra sua prisão na ditadura militar, quando ele e Gilberto Gil foram retirados de suas casas em São Paulo por agentes à paisana duas semanas após o decreto do AI-5.

O filme participa da seção oficial Out of Competition. Escrito e dirigido por Renato Terra (“Uma noite em 67”) e Ricardo Calil (“Cine Marrocos”), o documentário é produzido por Paula Lavigne, e coproduzido pela VideoFilmes, de Walter Salles e João Moreira Salles.

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O título "Narciso em Férias", que também dá nome ao capítulo sobre a prisão de Caetano em seu livro "Verdade tropical" , foi tirado do romance “Este lado do paraíso”, do escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald. Ele se refere ao fato de Caetano ter passado quase dois meses sem se olhar no espelho.

Foi na prisão que o compositor recebeu de sua então esposa Dedé um exemplar da revista "Manchete", com fotos inéditas da Terra vista do espaço, o que inspirou a composição da música "Terra" dez anos depois. Na cadeia, compôs "Irene", lembrando a risada de sua irmã mais nova.

Sem receber explicações do regime, Caetano e Gil foram levados ao Rio de Janeiro, deixados em duas solitárias por uma semana e depois transferidos para celas. A censura prévia impediu os jornais de divulgarem suas prisões. Cinquenta e dois anos depois, Caetano relata o período mais duro de sua vida e reflete sobre os 54 dias que passou encarcerado.

Dos dias na solitária, Caetano lembra: "Eu tinha que comer ali no chão mesmo. Isso durou uma semana, mas pareceu uma eternidade. Eu comecei a achar que a vida era aquilo ali. Só aquilo. E que a lembrança do apartamento, dos shows, da vida lá fora era uma espécie de sonho que eu tinha tido. Me lembro muito de uma frase que o Rogério Duarte me disse logo que eu fui solto: 'Quando a gente é preso, é preso para sempre'. Acho que é assim mesmo", afirma o cantor no documentário.