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Cultura

Entenda a importância da Casa de Rui Barbosa para a pesquisa

Desde 1972, instituição abriga importantes arquivos privados de escritores como Drummond e Clarice
Biblioteca de Rui Barbosa reúne 23 mil títulos Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Biblioteca de Rui Barbosa reúne 23 mil títulos Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

RIO — Em uma crônica de 1972, Carlos Drummond de Andrade descrevia uma de suas “velhas fantasias”: a criação de um museu vivo da literatura, que preservasse a nossa literatura, “constante não só de papéis como de objetos relacionados com a criação e a vida dos escritores”. Cinco meses após o apelo na imprensa, o sonho do poeta se tornou realidade. Graças aos esforços do bibliófilo Plínio Doyle, então diretor da instituição, a Fundação Casa de Rui Barbosa inaugurou o Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB), que acabou recebendo mais tarde o arquivo privado de Drummond e de outros 130 escritores brasileiros.

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São cartas, manuscritos, esboços de livros e outros documentos da produção intelectual de autores como Clarice Lispector, Manuel Bandeira e Vinicius de Moraes, entre outros. O acervo não é o único do país, mas é certamente um dos mais ricos. E isso porque Drummond, ainda em vida, incitou seus amigos a confiarem seu espólio para a instituição, para evitar que esses documentos ficassem dispersos após a morte deles.

O poeta, aliás, não falava em “museu vivo” à toa. Os acervos estão abertos a qualquer um, e constantemente alimentam novos livros, como edições de correspondências e até inéditos que volta e meia são encontrados. Desde 2017, por exemplo, pelo menos 40 poemas desconhecidos de João Cabral de Melo Neto foram descobertos. Para se ter uma ideia do volume do acervo da instituição, só o catálogo com as descrições do espólio de João Cabral totaliza 600 páginas. O acervo de Vinicius, também lá, é conhecido por ter uma quantidade considerável de poemas e músicas inéditos.

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Muita novidade pode surgir dos arquivos — e, algumas delas, já foram motivo de controvérsia, como uma carta de Mario de Andrade mantida em sigilo durante 30 anos (só foi liberada via Lei de Acesso à Informação, em 2015). Há ainda documentos hoje folclóricos, como os despachos burocráticos feitos por Machado de Assis enquanto funcionário público.

Fundada em 1924, a Casa de Rui Barbosa conta com todo o acervo do grande intelectual e jurista que dá nome à Fundação. O interior da casa, com os móveis intactos, sintetiza um modo de vida da época em que Rui viveu, entre 1849 e 1923. A sua biblioteca particular reúne 23 mil títulos e guarda uma das melhores coleções de ciência política do país, além de praticamente todos os dicionários de língua portuguesa do século XIX. Outro tesouro da instituição é a coleção de cordel, com mais de 9 mil folhetos, incluindo algumas importantes — e raras — obras do gênero do início do século XX.