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Cultura

'Estou há três meses na Casa de Rui Barbosa e há funcionários que ainda não vieram aqui', diz presidente da instituição

Letícia Dornelles afirma que 'o governo pediu que o setor não tivesse tanto chefe'
A presidente de Casa de Rui Barbosa, Letícia Dornelles Foto: Divulgação
A presidente de Casa de Rui Barbosa, Letícia Dornelles Foto: Divulgação

SÃO PAULO - Presidente da Casa de Rui Barbosa , a jornalista e roteirista Letícia Dornelles disse ao GLOBO nesta quarta-feira (8) que o governo não exonerou nem dispensou funcionários por "questões pessoais". Segundo ela, havia "muito chefe" no Centro de Pesquisa.

– Temos que nos adequar aos novos tempos –  afirmou. — O governo pediu que o setor não tivesse tanto chefe. Não é possível um setor ter duas pessoas e uma ser chefe ou ter uma pessoa que seja chefe de si mesma. Os pesquisadores têm que cumprir 40 horas semanais de serviço. Estou aqui há três meses e há alguns que eu ainda não conheço, que ainda não vieram aqui.

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Ao GLOBO, Antonio Herculano Lopes, ex-diretor do Centro de Pesquisa, disse que Letícia não tem como avaliar se há funcionários que não aparecem há três meses porque ela nunca apareceu no segundo andar da Casa de Rui Barbosa, onde os pesquisadores trabalham, e nunca se reuniu com eles.

– Ela nunca frequentou o nosso espaço, nunca chamou os pesquisadores para uma conversa para conhecê-los. Ela não tem como avaliar quem está aqui e quem não está aqui e está usando elementos de "rádio-corredor" para tentar nos enfraquecer.

Herculano reconheceu que há, por parte de alguns funcionários da Casa de Rui Barbosa, um certo "ressentimento" em relação aos pesquisadores, cujas jornadas de trabalho não são controladas.

Referência para a pesquisa: Entenda a importância da Casa de Rui Barbosa

– Nossos contratos estipulam 40 horas de trabalho semanal, o que não significa que é necessário estar presente na Fundação todos os dias, oito horas por dia, e bater ponto. Aliás, muitos pesquisadores trabalham muito mais do que isso. Saímos da Fundação e ficamos em casa lendo para nossas pesquisas, participamos ativamente da vida acadêmica, escrevemos pareceres para artigos cinetíficos. Há todo um trabalho que não é presencial. Mas nós somos cobramos pela nossa produção, que é avaliada.

Quanto à acusação de que havia "muito chefe" no Centro de Pesquisa, Herculano respondeu que isso se deve à redução do número de funcionários provocada por anos sem abertura de concursos públicos para compor o quadros da insitituição.

Mais mudanças? 'Só se o governo mandar'

Letícia disse que, futuramente, pretende diminuir os cargos de chefia, mas que quer ouvir os próprios pesquisadores da instituição antes de escolher os próximos chefes. Prometeu também que as pesquisas não serão prejudicadas.

Vêm mais mudanças por aí?

– De minha parte, não. Só se o governo mandar.

Presidente da instituição entre 2003 e 2011, e um dos exonerados desta sexta-feira (da diretoria do Centro de Pesquisa Ruiano), José Almino de Alencar diz que o grupo no poder "não tem quadros" para substituir os demitidos:

– A intelectualidade, em geral, faz oposição a este governo. Se ela (Letícia) fosse uma intelectual, ou uma ideóloga, talvez o objetivo fosse nos substituir por pessoas que pesquisam outros assuntos, mas eles não têm quadros. Até o Olavo de Carvalho se queixa disso.

'Acadêmicos foram incapazes de trocar a fiação'

Letícia não esconde o tom de mágoa ao comentar as críticas à sua suposta falta de qualificação para o cargo, que assumiu em outubro do ano passado.

— Não cheguei no mundo da cultura ontem. Eu trabalhei no “Fantástico”. Tenho curso de gestora. Para ser gestora não precisa ser PhD em Museologia, mas estar atenta ao dinheiro público. A família do Rui Barbosa veio me agradecer.

Ela conta que, em três meses no cargo, conseguiu recursos financeiros para a instituição.

— O orçamento da Casa de Rui é de R$ 6 milhões. Não dá para nada. Apesar disso, consegui R$ 200 mil para arrumar o teto do museu, que estava prestes a desabar. Disso ninguém fala. Consegui R$ 1,8 milhão para a reforma elétrica do museu. Falam tanto que eu não tenho perfil para ser presidente da Casa, mas os acadêmicos que estiveram aqui tanto tempo não foram capazes de trocar a fiação do museu. Consegui R$ 400 mil para prevenir incêndio.