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Cultura

Gloria Estefan regrava seus hits como se eles fossem canções da MPB

Cantora de origem cubana lança nesta quinta-feira o álbum 'Brazil305'
A cantora cubana Gloria Estefan e o músico brasileiro Carlinhos Brown em Salvador, durante as gravações de "Brazil305" Foto: BJ Formento / Divulgação
A cantora cubana Gloria Estefan e o músico brasileiro Carlinhos Brown em Salvador, durante as gravações de "Brazil305" Foto: BJ Formento / Divulgação

RIO - Primeiro álbum em sete anos da estrela americana de origem cubana Gloria Estefan, “Brazil305” – que chega esta quinta-feira ao streaming – é o resultado de uma longa história de amor que começou ainda na infância.

— Saímos de Cuba ( em 1959, com a derrubada do ditador Fulgencio Batista pela revolução cubana ) apenas com uma mala, e a minha avó foi mandando aos poucos para os Estados Unidos os discos da minha mãe. Entre eles, havia muitos de música brasileira dos anos 1960, que era adorada em Cuba — conta a cantora de 62 anos, em entrevista por Zoom. — E aos 17 anos, quando eu me juntei à banda ( os Miami Latin Boys, depois Miami Sound Machine, ao lado do futuro marido Emilio Estefan Jr. ), tive que aprender “Garota de Ipanema”, “Mas que nada”, “Desafinado” e “Corcovado”. No primeiro álbum do grupo, eu até gravei uma canção de Antonio Carlos & Jocafi, “Malvina”, em espanhol. E em 1982, fizemos “Rio”.

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No LP de 82 da Miami Sound Machine, Gloria cantou em espanhol canções da MPB como o “Todo dia era dia de índio” de Jorge Ben Jor (“Toda tuya”) e o “Dingue-li bangue” de Wilson Simonal (“creio que foi o primeiro rap que eu ouvi!”). Mas “Brazil305” (o número é o código telefônico de Miami, onde mora a cantora, mas também, como ela veio a descobrir depois, a quantidade de etnias indígenas no Brasil) foi algo totalmente novo para ela. Um disco que Gloria fez por sugestão de Afo Verde, argentino que dirigiu o braço brasileiro da gravadora Sony e hoje é CEO da Sony Music Latin.

— Em 2016 , Afo me disse: “E se você pegasse os seus maiores hits e imaginasse como eles iriam soar caso tivessem nascido no Brasil?” Junto, veio a ideia de rodar um documentário sobre as origens do samba ( ainda a ser lançado ) — conta a cantora, que regravou com músicos brasileiros e estrangeiros, hits como “I don’t wanna lose you” e “Rhythm is gonna get you”. — As mesmas tribos iorubás foram levadas para Salvador, na Bahia, e para Cuba. As misturas é que definiram as diferenças nos sons. Por isso, talvez, que o samba sempre tenha dito algo para mim.

Detalhe da capa do álbum "Brazil305", da cantora Gloria Estefan Foto: Reprodução
Detalhe da capa do álbum "Brazil305", da cantora Gloria Estefan Foto: Reprodução

Gravando em Salvador, em 2019, Gloria Estefan enfim conheceu pessoalmente o baiano Carlinhos Brown (que acabou tocando percussão na releitura brasileira do hit “Get on your feet”). E o encontro acabou rendendo mais uma faixa para o disco.

— Quando cheguei em casa, eu disse: “Conheci o Emilio Estefan brasileiro!” Carlinhos tinha uma energia muito parecida como as do meu marido, uma positividade, uma espiritualidade... — relata Gloria — Depois, ele me ligou perguntando se eu poderia fazer uma versão de “Magalenha” ( composição de Brown ) para o seu álbum. Ele veio a Miami e me fez cantar a canção mais acelerada que eu já cantei! Gostei tanto que, apesar de ela não estar bem dentro do conceito do álbum, resolvi incluí-la.

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Outra canção nativa que Gloria Estefan pôs em “Brazil305” foi “O homem falou”, samba de Gonzaguinha:

— Ouvi a gravação da Maria Rita e todas as outras. Tem um negócio na canção que me emociona, ela é um hino de união. E quando escrevi as versões em inglês ( “Only together” ) e espanhol ( “Un nuevo mundo” ) que entraram no disco, fui mais fundo na ideia de união mundial. Já estávamos vivendo dificuldades nos Estados Unidos, toda a divisão, a loucura, e quis gravá-la como um samba mesmo, com as vozes todas se juntando no refrão.

Respeito à ciência

Fiel à quarentena (chegou a gravar uma paródia de “Get on your feet”, “Put on your mask” — traduzindo, “Ponha sua máscara”), Gloria Estefan diz que falta hoje aos EUA um líder “corajoso o suficiente para tomar decisões, e que siga a ciência”:

— Tudo é ciência, não tem nada a ver com tirar liberdades. Todo fazemos coisas que nos tiram a liberdade mas que são para o bem comum, como ter carteiras de motorista para poder dirigir. Todos seguimos regras.