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Cultura

Kanye West: a trajetória política de um ex-talvez-futuro candidato à presidência dos EUA

Rapper, que detalhou à revista 'Forbes' seus planos de disputar a Casa Branca este ano, tem o passado marcado por críticas a Bush, selfie com Hillary Clinton e encontros com Trump
Desde a eleição de Donald Trump, Kanye West deu inúmeras demonstrações de apoio ao presidente dos EUA Foto: Kevin Lamarque / REUTERS
Desde a eleição de Donald Trump, Kanye West deu inúmeras demonstrações de apoio ao presidente dos EUA Foto: Kevin Lamarque / REUTERS

Quatro dias após anunciar que vai concorrer à presidência dos Estados Unidos , o rapper Kanye West detalhou, em entrevista à revista "Forbes", os seus planos para a disputa pela Casa Branca, com eleição marcada para novembro.

Na reportagem, o cantor indicou seu rompimento com o presidente Donald Trump e ainda revelou jamais ter votado ao longo de sua vida. West também se posicionou contra a busca por uma vacina de combate à Covid-19.

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Mas quem acompanha a trajetória do rapper sabe que há pelo menos cinco anos ele vem flertando com a política americana. Relembre os passos que levaram Kanye West à declaração feita na última sexta-feira, em seu perfil no Twitter.

Setembro de 2005

Após a passagem do furacão Katrina, que devastou a cidade de Nova Orleans, no estado da Louisiana, West participou de um show beneficente para levantar fundos e ajudar a população local.

Durante a apresentação do evento, ao lado do ator Mike Myers, o rapper quebrou protocolos ao disparar: "George Bush não se importa com negros". A fala, dirigida à atuação do então presidente George W. Bush, calou fundo no republicano.

Em uma entrevista dada em 2010, Bush considerou tal incidente com West como um dos momentos mais "repugnantes" de sua trajetória na Casa Branca, entre 2001 e 2008.

Agosto de 2015

Kim Kardashian, mulher de Kanye West, postou uma selfie ao lado do rapper e de Hillary Clinton, endossando o apoio à candidatura da senadora à eleição presidencial do ano seguinte.

"Tirei minha selfie! Realmente amei ouvi-la falar sobre os planos para o nosso país", escreveu Kim na legenda de seu tuíte.

Quase três anos depois, West diria que é possível amar Trump, mas também Bill e Hillary Clinton, como ele ama.

Agosto de 2015

Durante a cerimônia de entrega dos Video Music Awards, da MTV, Kanye West foi agraciado com o prêmio de Vanguarda. No palco, o rapper surpreendeu a todos com a seguinte fala: "Decidi que em 2020 vou me candidatar a presidente dos Estados Unidos". Logo em seguida, as redes sociais foram tomadas pela hashtag #KanyeForPresident (#KanyeParaPresidente).

Kanye, na cerimônia de entrega dos Video Music Awards, em 2015 Foto: Matt Sayles
Kanye, na cerimônia de entrega dos Video Music Awards, em 2015 Foto: Matt Sayles

Dois dias depois, a Casa Branca comentou o anúncio do rapper. O então secretário de imprensa, Josh Earnest, que acompanhava o presidente Barack Obama em uma viagem ao Alasca, disse ao site da Billboard: "Estamos ansiosos pelo slogan de sua campanha".

Dezembro de 2016

Após se manter em silêncio durante a campanha à Casa Branca, Kanye visitou o presidente eleito, Donald Trump, em Manhattan. Previamente, em um show na Califórnia, o rapper havia dito que teria votado em Trump... se tivesse votado.

Depois do encontro, o cantor chegou a tuitar que protelaria sua ideia de candidatura para 2024, respeitando a intenção de Trump tentar se reeleger em 2020.

Trump e Kanye se encontram pela primeira vez, em dezembro de 2016, em Nova York Foto: Seth Wenig
Trump e Kanye se encontram pela primeira vez, em dezembro de 2016, em Nova York Foto: Seth Wenig

"Eu quis encontrar com Trump hoje para discutir questões multiculturais. Esses temas incluem bullying, apoio a professores, modernização de currículos e a violência em Chicago. Eu acho que é importante ter uma linha direta de comunicação com o nosso futuro presidente se realmente queremos mudanças", postou West à época.

Fevereiro de 2017

Misteriosamente, West deletou todos os posts pró-Trump em seu perfil no Twitter. Apesar de não se manifestar explicitamente sobre os motivos que o levaram a isso, a mídia americana ventilou abertamente a possibilidade de algumas decisões políticas do presidente estarem incomodando o rapper, como o endurecimento das regras de entrada de imigrantes nos EUA, especialmente muçulmanos.

Dias antes, Kim Kardashian, mulher de West, havia postado em seu perfil no Instagram imagens de cartazes de manifestações contra Trump. "É tão bonito ver homens e mulheres se manifestando por seus direitos, para dar um futuro melhor a nossas crianças", escreveu Kim em uma de suas publicações.

Abril de 2018

Quase um ano após deletar seu perfil no Twitter, West retornou à rede com uma série de posts em que explicou que não concordava 100% com as falas e atitudes de Donald Trumo, mas que ainda assim o amava e o considerava um irmão.

Em uma das publicações o rapper chamou atenção por aparecer usando o famoso boné vermelho com o slogan preferido do presidente americano: "Make America great again" ("Faça a América grandiosa de novo", em tradução livre). Em outro post, ele exibe o mesmo boné, devidamente assinado por Trump.

Boné com o slogan 'Make America great again', assinado por Donald Trump Foto: Twitter / Reprodução
Boné com o slogan 'Make America great again', assinado por Donald Trump Foto: Twitter / Reprodução

Outubro de 2018

Após meses reiterando o slogan (e o uso do boné) em postagens e aparições na TV, como no programa "Saturday night live", Kanye West voltou a se encontrar com Donald Trump, desta vez no Salão Oval da Casa Branca.

Durante um almoço, os dois falaram sobre sistema prisional, criação de empregos e a violência na cidade de Chicago, cidade onde o rapper cresceu. No encontro, West usou novamente seu boné vermelho e declarou que o presidente americano estava vivenciando "uma jornada de herói".

Kanye e Donald Trump se encontram no Salão Oval da Casa Branca, em outubro de 2018 Foto: Saul Loeb / AFP
Kanye e Donald Trump se encontram no Salão Oval da Casa Branca, em outubro de 2018 Foto: Saul Loeb / AFP

"Meus próprios amigos me desencorajaram a usar o boné. Mas ele me dá poder. Me sinto um Super-Homem, que é meu super-heróie preferido. Você criou uma nova capa do Super-Homem", disse o rapper na ocasião, referindo-se a Trump.

Janeiro de 2019

Novamente pelo Twitter, West reforçou seu apoio a Donald Trump, ao criticar a alta adesão de afro-americanos ao Partido Democrata. "Eles não vão me programar. Cerca de 90% dos negros são democratas. Isso me parece um controle", escreveu o cantor.

Em seguida, falou diretamente sobre o presidente: "Uma das minhas características favoritas de Trump é que ele representa o fato de que as pessoas não podem me dizer quem devo apoiar por ser negro. Isso, sim, é racismo real".

Abril de 2020

Capa da revista GQ, West declarou que pretendia votar na eleição presidencial de 2020. E, sem dizer nome, deixou claro que sua escolha seria por Donald Trump. "Não deixarei que as pessoas ao meu redor digam que minha carreira vai acabar", disse o rapper em entrevista à publicação. Três meses depois, porém, o cantor viria a declarar que jamais votou em alguém durante toda sua vida .

Julho de 2020

No Dia da Independência dos EUA, 4 de julho, Kanye West usou sua conta no Twitter para anunciar que vai concorrer à Presidência dos Estados Unidos . Em seguida, Elon Musk, CEO da Tesla e da Space X, também usou a rede social para dizer que Kanye tem todo o seu apoio.

E nesta quarta-feira (8), em entrevista à Forbes, West indicou que não apoia mais Trump . "Estou tirando o chapéu vermelho", declarou o rapper.

"Como qualquer coisa que já fiz na vida, estou fazendo isso para vencer", afirmou West, acrescentando que pretende concorrer com um novo emblema: "The Birthday Party" (O Partido Aniversário, em tradução livre). No entanto, até o momento não há nenhum registro de West cadastrando qualquer documento oficial na Comissão Federal de Eleições.