Cultura

Mallu Magalhães: ‘Se não tivesse minha filha, não sei o que seria da minha sanidade’

Quarentenada em Lisboa, cantora volta com ‘Esperança’, álbum gravado em 2019, que se chamaria ‘Felicidade’: ‘Sou movida pela coragem, não pelo medo’
A cantora Mallu Magalhães Foto: Daryan Dornelles / Divulgação
A cantora Mallu Magalhães Foto: Daryan Dornelles / Divulgação

RIO - A cantora Mallu Magalhães, de 28 anos, vem passando a pandemia de Covid-19 num apartamento em Lisboa, onde mora com o marido (o cantor e compositor Marcelo Camelo), a filha Luísa (de 5 anos e meio) e um cachorro.

— Num certo momento, a gente viu que a coisa estava ficando totalmente fora de controle e resolveu fazer um cronograma de atividades. Cada um ficava um pouco com a Luísa para o outro poder fazer alguma coisa. Acabava que nos meus horários eu tomava banho com calma e não produzia tanto artisticamente. Mas brinquei muito com a Luísa! Foi o que me salvou. Se eu não tivesse ela, não sei qual seria o meu grau de sanidade. Ninguém nasceu para ficar tão isolado! — desabafa Mallu, que esta semana saiu do casulo com o lançamento surpresa de “Esperança”.

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Quinto álbum de uma carreira que já se estende por nada menos que metade de sua vida, “Esperança” foi gravado em Lisboa, em 2019, e teve produção e mixagem de Mario Caldato, brasileiro responsável por discos de Beastie Boys, Jack Johnson e Marcelo D2. Mallu não via a hora de liberá-lo no streaming.

— Não que seja uma sensação de luz no fim do túnel, mas agora temos essa visão de como se controla uma pandemia, a noção do que se deve fazer. Aquele desespero dos primeiros dias foi muito doido, de lá para cá o mundo mudou e vai mudar ainda mais. A decisão de lançar o disco veio dessa perspectiva de que agora há um caminho pela frente — explica.

Antes de tudo parar, o disco iria se chamar “Felicidade”.

— A ideia era fazer um álbum feliz, pelo desejo de que as coisas boas atraíssem coisas boas. A capa ia ser eu com cabelão e uma saia dourada, segurando duas estrelinhas de aniversário, mas ela não ficou boa. Depois eu fui ver todas as fotos no arquivo e achei uma que era eu com Maria, a produtora, acendendo a estrelinha com um isqueiro. Não era bem a explosão, era o desejo, o quase — conta Mallu. — A imagem ganhou outro sentido neste tempo de espera que vivemos. Ela ficou leve e, ao mesmo tempo, bem intensa. E daí decidi mudar o nome do disco. Afinal, a esperança é a grande amiga da felicidade.

“Esperança” é o disco mais heterodoxo de Mallu no que diz respeito a participações especiais: estão lá de Preta Gil (no sambalanço “Deixa menina”) a Nelson Motta (com uma narração na bossa “Barcelona”) .

—A Preta dá uma sensação esperançosa da vida e do ser humano, ela tem uma voz corajosa e natural. E quando cantava essa música eu pensava nela, foi a primeira vez que chamei alguém para cantar num disco meu. Sempre fui muito introspectiva, mas agora estou mudando — conta a cantora. — Com o Nelson foi o mesmo, eu tocava a música no estúdio e ficava imaginando ele falando algumas coisas. Mandei uma mensagem e ele respondeu dizendo que estava em Portugal. Foi o destino.

Antes do lançamento de “Esperança”, Mallu Magalhães liberou a faixa “Quero quero”, para a qual fez um clipe em parceria com os fãs, que, convocados pelo Instagram, mandaram seus vídeos interagindo com a canção.

— Um dia eu estava aqui, naquele lockdown, o disco parado e aquele clima horrível, e fiquei pensando que queria tanto fazer um clipe dessa música, que era tão alegre e que poderia ser tão útil naquele momento... Eu queria as pessoas curtindo e dançando em casa — diz ela, que também conhece bastante o lado nocivo das redes sociais. —Eu já tinha essa experiência desde muito nova, mas honestamente não posso dizer que nem ligue. Quando lanço o disco, eu opto pela exposição. É o meu trabalho, é o que eu gosto de fazer. Vou levar esse trabalho à frente movida pela coragem, não pelo medo.

'Saudade': Mallu Magalhães volta ao Brasil com show íntimo

Já que por ora não é possível fazer shows de “Esperança”, Mallu investirá em lives. Mas isso não aplaca a saudade do Brasil, aonde não vem desde o início da pandemia.

— Antes, eu ia tanto ao Brasil que não dava tempo de sofrer, não precisei cortar o cordão umbilical. A quarentena virou um obstáculo e isso foi muito desesperador, ainda mais porque teve uma época que a minha avó passou no hospital — lamenta. — A saudade é enorme, eu consumo o Brasil o tempo inteiro, nunca tive o desejo de me distanciar do país. Foi mesmo uma opção de vida, de aproveitar uma cidade ( Lisboa ) que é muito legal e calma.