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Cultura

Mario Frias vive lua de mel com bolsonarismo, após 'casamento' difícil de Regina Duarte

Completando um mês de sua nomeação para a Secretaria Especial da Cultura neste domingo, ator conquista apoio da ala ideológica, que fritou a antecessora
Mario Frias, o ministro Marcelo Álvaro Antonio e a foto de Bolsonaro Foto: Reprodução
Mario Frias, o ministro Marcelo Álvaro Antonio e a foto de Bolsonaro Foto: Reprodução

RIO — Completando neste domingo um mês de sua nomeação para a Secretaria Especial da Cultura , Mario Frias não teve uma cerimônia de “casamento” com Jair Bolsonaro tão badalada quanto a da antecessora, Regina Duarte. A posse, em um evento fechado no Ministério do Turismo , no dia 23 de junho, contrastou com a “festa” no Planalto que marcou a chegada da atriz à pasta, em 4 de março. Mas o ator e apresentador conseguiu manter o clima de “lua de mel” até aqui. Frias trilhou um caminho bem menos turbulento em seus primeiros dias na secretaria, tanto por contar com mais apoio da chamada ala ideológica quanto pelo próprio momento político em que assumiu. A crise causada pela pandemia de Covid-19 e a prisão de Fabrício Queiroz, afinal, obrigaram o governo a adotar um tom menos beligerante.

Entraves com que Regina se digladiou durante todo o seu período na Secretaria acabaram resolvidos rapidamente após a saída dela. A transferência da Cultura em definitivo do Ministério da Cidadania para o do Turism o, por exemplo, foi regulamentada por decreto em 21 de maio, um dia após a atriz oficializar seu desligamento do governo. Aguardada desde novembro de 2019, quando houve a mudança de ministérios, a medida era vista como estratégica para Regina ter autonomia no cargo.

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Ao ser reestruturada no Turismo, a Cultura deixou de ter sob seu guarda-chuva órgãos como a Funarte, a Ancine e a Fundação Palmares. Ainda assim, em seu primeiro dia como secretário, Frias se encontrou com o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo , um dos nomes mais controversos do governo. O movimento agradou à base ideológica. e foi um gesto diametralmente oposto ao de Regina, que em sua primeira entrevista no cargo, disse ao“Fantástico” que via Camargo como um “ativista, mais que um gestor público” e referiu-se à permanência dele na Palmares como “problema” .

O fato de Frias aderir ao protocolo governista de dispensar máscara em público, enquanto a ex-secretária de 73 anos cumpriu isolamento social trabalhando de casa, em São Paulo, foi outra importante sinalização. Assim como o apoio incondicional dado ao presidente em suas redes sociais.

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Outro entrave que Frias encontrou encaminhado, mesmo sem ter mais a Ancine diretamente relacionada à Secretaria, foi a reunião do Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), primeiro passo para a liberação de recursos ao setor. Um dia após assinar sua posse, o ator participou da reunião, ao lado do ministro Marcelo Álvaro Antônio . Mesmo a Lei Aldir Blanc, fruto da articulação entre diferentes setores da Câmara e do Senado, destravou indiretamente R$ 3 bilhões do Fundo Nacional de Cultura, outro ponto que a atriz visava.

Críticas ao que chama de “barões da Lei Rouanet”, feitas em um vídeo do YouTube ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) , ou de que “a lei foi usada para o PT comprar a classe artística” reforçam o apoio dos olavistas, ao mesmo tempo que geram em produtores culturais o temor de um desmonte de áreas estratégicas para o setor, como a Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic). No passado, contudo, o ator buscou o incentivo em dois projetos , pela produtora Mercúrio Produções, da qual é sócio. O espetáculo “Dê uma chance ao Amor” conseguiu arrecadar R$ 59 mil em 2003, enquanto “O rei dos urubus” não obteve nenhuma arrecadação e acabou arquivado em 2007.

Seu maior problema hoje é a crise na Cinemateca Brasileira. O secretário quer retomar a administração da Roquette Pinto , mas sem pagar a dívida milionária com a OS. Enquanto isso, a memória do audiovisual nacional segue em risco sem segurança e manutenção.