Cultura

MC Rebecca: cria do samba e do funk 'proibidão' é nova aposta do pop nacional

Carioca surge como voz influente no batidão ao cantar a sexualidade e a liberdade feminina: 'Muitas mulheres sofrem por não poderem falar o que pensam'
A MC Rebecca Foto: Divulgação
A MC Rebecca Foto: Divulgação

RIO - Há exatos três anos, a carioca MC Rebecca canta o funk em sua vertente mais sensual e sexual. O marco inicial chegou ao YouTube em agosto de 2018, quando o clipe de “Cai de boca” foi lançado convocando o interlocutor — gênero à parte, já que Rebecca é abertamente bissexual — para a prática do sexo oral de uma forma bem explícita e imperativa, no aumentativo. A música, claro, chocou aqueles que ainda ficam chocados e acertou em cheio seu público-alvo, tornando-se um grande hit e um hino de protagonismo para as mulheres no funk.

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O “proibidão” mudou a vida de Rebecca, que hoje, com quatro milhões de seguidores no Instagram e 1,4 milhão de ouvintes no Spotify, é vista como uma nova estrela pop saída dos bailes cariocas.

— Ela é uma artista focada, disciplinada, que transita entre o funk, o rap e o pop com muita personalidade — elogia Bruno Batista, diretor de A&R da Sony Music, que assinou com a cantora em fevereiro. — Ela representa uma geração de artistas mulheres que sabem o que desejam da carreira, e como conquistar isso.

Até receber a letra de “Cai de boca” da então amiga Ludmilla (após trocas de farpas virtuais e públicas, elas não se falam mais), Rebecca pisava em outro terreno. Ou melhor, sambava. Cria do Morro de São João, no Engenho Novo, ela cresceu numa família de sambistas, dividida entre Salgueiro e Beija-Flor. Incentivada pelo avô e pela proximidade, acabou adotando as cores da escola do Andaraí aos 10 anos e foi coroada Rainha das Passistas em 2020, após dois anos longe da Avenida para focar na carreira musical.

— No começo, foi bem difícil a relação com a minha família, porque eu cantava proibidão, a galera era do samba e não estava acostumada na época — lembra Rebecca, hoje com 23 anos e mãe solo de Morena, de 4. — Contornei mostrando todo o meu discurso. Muitas mulheres sofrem, no funk ou no samba, por não poderem falar o que pensam. E elas vinham me dizer que minhas músicas as ajudavam a se libertar disso.

Outro marco na ainda curta mas movimentada trajetória de Rebecca é a participação em “Combatchy”, megahit que a uniu no fim de 2019 a Anitta, Lexa e Luísa Sonza , artistas que também usam o funk para falar sobre liberdade feminina.

— Qualquer coisa que eu faço, seja a dança, seja a vestimenta que uso, tudo tem a ver com política. Me posiciono sobre coisas que já passei e vivi na favela, no funk, como mãe solo... — relata a carioca, que, apesar de focar suas músicas na sensualidade, já gravou com Elza Soares a politizada “A coisa tá preta” em novembro passado. — Seria hipócrita não usar meu espaço para falar sobre questão racial, misoginia.

'Sonho de princesa'

Preparando-se para estrear no cinema — ela tem um filme pronto e está filmando outro, como protagonista —, Rebecca também pensa no próximo passo de sua carreira musical, já que quase metade dela foi impactada pela pandemia. Nos últimos meses, lançou “Até o piso” (com Daya Luz e Solange Almeida), “Tô preocupada (Calma amiga)” (mais uma parceria com Anitta) e “Catucada de leve” (com MC Zaquin). Para o ano que vem, promete seu primeiro álbum cheio (“meu sonho de princesa; para quem fala que minhas músicas são parecidas, que as letras são ruins, vou mostrar o que é letra boa”).

— O álbum é muito marcante na carreira dos artistas — explica a manager Juliana Melo, que também cuida da carreira de Valesca Popozuda. — Rebecca obteve ótimos números e feedbacks maravilhosos do público com seus dois EPs. Acreditamos que o lançamento de um álbum venha para somar e consagrar mais sua trajetória. Em três anos, ela chegou à Times Square (vide texto acima) , agora planejamos uma turnê internacional assim que o cenário melhorar.