Cultura

Milton Nascimento faz sua primeira live com canções escolhidas pelos fãs

Cantor e compositor faz apresentação virtual a partir de sua casa, em Juiz de Fora (MG), enquanto acompanha com apreensão os efeitos da pandemia e episódios de racismo no Brasil e no mundo
O cantor Milton Nascimento Foto: Divulgação
O cantor Milton Nascimento Foto: Divulgação

Sabe aquela história de aproveitar a quarentena para ler um livro ou ver uma série que você nunca conseguiu? Milton Nascimento pode dizer que cumpriu ao menos uma meta. Leu o roteiro de “Jules e Jim”, filme de 1961 que lhe serviu como uma espécie de gatilho de inspiração. Ele sempre conta que foi ao sair do cinema arrebatado pela obra de François Truffaut que teve coragem de criar suas primeiras canções.

— Apesar de o filme ter mudado minha vida, eu nunca tinha lido o roteiro.

Neste domingo, às 18h30, ele dá um tempo nas leituras, séries e exercícios físicos que têm ocupado a rotina de confinamento para fazer sua primeira live em seu canal no YouTube, diretamente de sua casa em Juiz de Fora (MG). E vai apresentar canções que também seguem sendo gatilho de inspiração para tantos artistas e fãs.

O repertório foi selecionado a partir de uma enquete feita na internet. E, nas suas redes, ele já deu palinha do que vem por aí: mostrou trecho de ensaio com “Clube da esquina 2”, e apareceu redigindo à mão uma lista que tem “Cais”, “Ponta de areia” e “Morro velho”. Sobre “Nada será como antes”, também selecionada, chegou a comentar em outra postagem: “As canções também estão ganhando novos sentidos para vocês desde que tudo isso começou? Me apego nos versos para enfrentar este momento, por isso quis marcar minha live e fazer meu canto chegar à casa de cada um”.

— Serão pouco mais de vinte músicas, e o pessoal pediu os grandes sucessos. Faremos também “Cio da terra”, “Para Lennon e McCartney”, e por aí vai.

Milton tinha um 2020 agitado pela frente. Boa parte do ano seria dedicado à etapa internacional da Turnê Clube da Esquina, com shows na Europa e nos Estados Unidos.

— Meu último show foi no Rio, no dia 25 de janeiro. Depois, finalizamos em São Paulo a gravação do EP “Existe amor”, que fiz com Criolo e Amaro Freitas. Desde então, não saí mais de casa.

Orientações médicas

E é de casa que ele acompanha com alguma apreensão os tempos estranhos. Como as manifestações antirracistas que se espalharam pelo mundo a partir do assassinato de George Floyd, nos EUA. Milton diz que se reconhece em cada jovem que sofre episódios de racismo no país e no mundo.

— Imagine você que na minha infância, em Três Pontas, eu era proibido de entrar no clube da cidade — lembra-se. — E, agora, mais de 60 anos depois, o mesmo jovem que poderia ter sido eu lá atrás hoje morre por nada. É revoltante que o Brasil tenha que conviver até hoje com esse racismo escancarado.

A pandemia e os rumos do país também preocupam, e muito. A ponto de o fazer falar em “tempos de trevas, voltamos à Idade Média”.

— Estamos na maior crise de saúde da história. E um governo que deveria nos informar faz de tudo para não informar. A ciência é desprezada, os cientistas, ignorados e, para piorar, as instituições científicas mais sérias do Brasil nunca são ouvidas pelo governo. Enfim, vivemos o caos.

E como cada um tem sua dose de responsabilidade para não reverberar o caos, Milton tem mostrado nas redes sociais o cuidado tomado para realizar a live com segurança. Convocou uma equipe médica para dar as instruções e realizar testes de Covid-19 em todas as pessoas envolvidas na produção, além dos músicos envolvidos: Wilson Lopes, que tocará violão e guitarra, e o Christiano Caldas, (piano e acordeom).