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Cultura

Lázaro Ramos faz lives com especialistas e fala sobre sua quarentena: 'É um desafio ficar 24 horas com esposa e filhos'

De lives com especialistas a apoio a pequenos empreendedores, ator usa redes sociais para disseminar informação e ajuda durante a pandemia
exclusiva SC
leg: lázaro ramos
exclusiva SC leg: lázaro ramos

RIO - Se existem coincidências, elas têm sido muitas ultimamente na vida profissional de Lázaro Ramos . Para citar apenas a mais impressionante, ficamos com o fato de que todos os seus projetos antes do coronavírus falavam de confinamento. Sob sua direção, a peça “O método Grönholm”, que estava em cartaz, mostrava quatro profissionais numa sala lutando por uma vaga de emprego. O monólogo “Antes do ano que vem”, também dirigido por ele, estrearia com Mariana Xavier na pele de uma faxineira, que acaba presa num centro de valorização da vida na noite de réveillon e acaba atendendo ligações para confortar pessoas. Tinha ainda a peça “O topo da montanha”, que reestrearia em julho, sobre a última noite de vida de Martin Luther King num quarto de hotel. E o filme “Medida provisória”, com que Lázaro faria seu début na direção de longa-metragem (no festival South by Southwest), em que parte dos personagens vive o confinamento.

— É doido porque a ficção, nos últimos anos, começou a fazer distopias, e a gente achava distante. A nossa situação de agora é bem distópica. Eu, como baiano, acredito em tudo: no oculto, na religiosidade e na natureza, que manda recado pra gente. Estou revendo meus erros — diz.

Ele também achou um jeito de ser útil na quarentena. Tem feito entrevistas com especialistas pelo Instagram para tirar dúvidas sobre a pandemia. Hoje, às 17h, estreia live para divulgar o trabalho e os serviços de pequenos empreendedores brasileiros.

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Como tem sido a sua experiência diante do coronavírus?

Quando começou, estava forte. Pensava: vou me informar, cuidar da família, dos mais velhos, falar com meu pai, com a minha tia-avó de 95 anos. Providenciar cestas básicas. Como sou empreendedor, sabia que esse seria um grande problema. Depois, bateu uma bad , uma tristeza gigante, um medo de chegar num estágio insuportável por causa do confinamento, os conflitos gerados... As pessoas já estavam brigando nas redes, propagando informações falsas naquela linguagem do ódio. Um dia, fiz um post no Facebook, e os amigos começaram a ligar. Entendi ali que tudo bem mostrar meu sentimento, mas que também tinha uma máquina poderosa de comunicar.

Então, resolveu fazer lives com especialistas, como o infectologista Rico Vasconcellos...

Comecei a doar para projetos da sociedade civil, como Cufa, Uneafro, Voz das Comunidades. Mas a gente sabe que é um poço sem fundo. Então, pensei em lives com entrevistas para tirar dúvidas. Um lugar de acolhimento. Eu conversando com especialista, mas sem ser um. Aí, teve gente que questionou, disse que não podia ficar em casa, que tinha que trabalhar. Isso me fez cair em outra realidade.

E veio a ideia de divulgar o trabalho de pequenos empreendedores...

Sim. As pessoas estavam fazendo ações possíveis. Entrevistei a Nath Finanças sobre administração financeira para quem não tem grana. Essas lives geraram outras pautas, e uma que veio forte foi sobre os profissionais autônomos. Pensei em estimular ações de mobilização coletiva. Porque o que a gente está vendo é que a solução virá do coletivo. Conversar com as pessoas para que falassem do que estão dispostas a fazer na quarentena. Muita gente propondo receber agora e oferecer o serviço depois. As pessoas já estavam fazendo isso, mas não tinham onde divulgar. Então, troquei as lives pela divulgação.

E hoje, às 17h, você fará a primeira com empreendedores que selecionou. Quem são?

São 20. Tem hambúrguer que entrega em casa, gente que confecciona máscara, organiza residências, faz terapia corporal, restauração de móveis, bolo de festa, fotógrafo via web, psicólogo. Cada live vai ter diversidade de serviço e de região. Sei que não vai resolver, mas se tem uma coisa que podemos tirar de positiva nesse período é a movimentação da sociedade. Curioso pensar que a gente reclamava da polarização e vivia brigas de narrativas...

Você fez live com a Taís (Araújo, sua companheira) contando sobre a experiência com os filhos. Como está sendo na sua casa?

Falamos sobre como lidar com as crianças, a falta de paciência... Somos eu, Taís, João Vicente ( 8 anos ), Maria Antônia ( 5 anos ) e nosso cachorro, o Batata, em casa. É um desafio ficar 24 horas com esposa e filhos. Tentamos entender quando um está mais fragilizado e buscamos compensar. Eu e Taís falamos algo afetuoso quando o outro está mais tenso. Estou olhando de perto para os meus filhos. Começo a me ver neles, qualidades e defeitos, entender que tipo de pai eu sou e como posso agir melhor. Às vezes me faltam recursos.

Quando, por exemplo?

A questão da higiene. Por mais que a gente fale “brincou com cachorro, tem que lavar a mão”, a criança, no fluxo da brincadeira, não se lembra. A informação de lavar as mãos vem em forma de bronca ou de exemplo.

O que tem te dado prazer e ajudado a não surtar?

Meu humor não é o mesmo todo dia. Há dias em que acordo com uma angústia... Ligo para os amigos para amenizar. Outros, em que me protejo, leio menos notícias, faço coisas para cuidar da saúde mental. Segunda-feira ouvi muito Moraes Moreira, vi um documentário sobre os Novos Baianos. Consumir filmes e séries tem sido um alento.

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As tarefas de casa, que nos ocupam, têm deixado tempo para pensar em trabalho?

Estou tentando retomar, entender como vai funcionar a cultura pós-corona. Como lançar o filme, sanar dívidas das peças. Está difícil pensar nisso, pois tenho consciência de que será um novo mundo. Tenho tentado colocar adiante livros e uma série para TV. Mas sento para escrever e só vem “pandemia, corona”. Outro dia, em vez de escrever “constantemente”, escrevi “confinamento” ( risos ). Estou com medo de sair com 215 quilos dessa quarentena ( risos ). Como biscoito recheado de madrugada porque meus filhos não vão ver. Outro dia, foi um pacote de salgadinho à 1h da manhã! Ah, e tenho dado bronca nos velhos da família.

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Já saiu de casa?

Saí uma vez e foi bem estranho. Porque a rua virou a tela do computador, né? Escrevi há um tempo sobre como as telas estavam nos afastando. Agora, elas nos reaproximaram. Tenho me emocionado com as mensagens dos amigos. Como a gente pode ressignificar as coisas, né?