Cultura

Perfeito Fortuna: 'Como vou viver se tudo que fiz foi para juntar gente?'

Jornalista Maria Fortuna conversa com o pai, criador do Circo Voador e da Fundição Progresso, que completou 70 anos no isolamamento: 'Quando testei negativo para o coronavírus ganhei a vida de novo'
Perfeito Fortuna: o título de agitador cultural foi inspirado nele Foto: Mônica Imbuzeiro
Perfeito Fortuna: o título de agitador cultural foi inspirado nele Foto: Mônica Imbuzeiro

RIO — Dizem que o conceito de agitador cultural foi inspirado nele. Criador do Circo Voador e da Fundição Progresso, figura central na retomada do carnaval de rua do Rio com seu concurso de marchinhas, Perfeito Fortuna, o meu pai, vive de aglomerar gente, de fazer festa. Em tempos de pandemia, como esse aglutinador nato, que fez teatro coletivo no Asdrúbal Trouxe o Trombone e é símbolo da animação carioca, enxerga o isolamento forçado? Que mudanças ele, agente de várias transformações culturais nos últimos 50 anos, acha que a arte sofrerá pós-Covid-19? Liguei o Skype e fui perguntar.

— Até se encontrar uma vacina, a hora é de consumir cultura em casa. E aí a cultura mostra sua força: as pessoas estão passando a quarentena assistindo a lives de artistas, vendo filmes — diz ele, arriscando comentar novos caminhos. — Acho que os shows acontecerão com 25% da capacidade de público e com transmissão ao vivo pelas redes. Transmissão patrocinada, para ajudar a pagar a conta — acredita. — Se as lives hoje são em casa, sem muitos recursos, do jeito que dá, depois, terão cenário, iluminação, tudo que se tem direito.

Criador do Circo Voador e da Fundição Progresso, produtor cultural detalha, em entrevista ao GLOBO, as dificuldades da vida em isolamento, o medo da morte pela Covid-19 e a celebração à distância do aniversário de 70 anos.
Criador do Circo Voador e da Fundição Progresso, produtor cultural detalha, em entrevista ao GLOBO, as dificuldades da vida em isolamento, o medo da morte pela Covid-19 e a celebração à distância do aniversário de 70 anos.

Mesmo buscando novas direções, ele diz que sua atenção ainda está voltada “para a ideia eterna de salvar vidas” (até agora, conseguiu manter todos os funcionários da Fundição Progresso) e refletir sobre o sentido do que realizou até hoje:

— Como eu vou viver se tudo que fiz foi para juntar gente? A festa é a saúde, não a doença. Por isso, o que faço não é cultura só, é saúde pública. Agora, há a suspensão de tudo. O sonho está dormindo, o pesadelo acordou. Recorro a uma frase que o ( Aílton ) Krenak ( ambientalista e líder indígena ) me falou: “Guarde a esperança num lugar bem seguro”.

Nesta conversa entre pai e filha, ele conta como foi completar 70 anos no isolamento. Conta também o pavor que sentiu ao achar que tinha contraído o vírus.

Maria e o pai, Perfeito Fortuna Foto: Leo Aversa
Maria e o pai, Perfeito Fortuna Foto: Leo Aversa

- Tive medo de morrer. Já me encontrei com a morte algumas vezes e tive que negociar. Mas essa de você entrar num buraco e sumir sem dar até logo e não poder estar com ninguém, dessa morte eu tenho medo - detalha. - A sensação ao testar negativo foi de quem ganhou a vida de novo.

Leia a entrevista completa aqui.