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Cultura

'É um livro em busca de mim, das minhas origens sertanejas', diz Cida Pedrosa, vencedora do Jabuti

Em sua 62ª edição, principal prêmio literário do país consagrou poeta pernambucana como o Livro do Ano por 'Solo para vialejo'
A poeta pernambucana Cida Pedrosa Foto: Rick Rodrigs / Divulgação
A poeta pernambucana Cida Pedrosa Foto: Rick Rodrigs / Divulgação

RIO — A a coletânea de poemas 'Solo de vialejo' (Cepe), da poeta Cida Pedrosa, foi escolhida como Livro do Ano do 62º Prêmio Jabuti . A mais tradicional premiação brasileira divulgou ainda os vencedores das 20 categorias. Transmitida na noite desta quinta-feira, 25, pelo canal da Câmara Brasileira do Livro no Youtube, a cerimônia foi apresentada pela jornalista Maju Coutinho . A escritora brasileira Adélia Prado foi homenageada como Personalidade Literária da edição 2020.

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Cida Pedrosa receberá R$ 100 mil. Nascida em Bodocó, no Sertão do Araripe pernambucano, a autora explorou nos poemas do livro as suas origens sertanejas. Ela já publicou sete livros, sendo os mais recentes "Claranã" (2015) e "As filhas de Lilith" (2009), ambos selecionados pelo Prêmio Oceanos de Literatura.

— Este é um livro sobre nossas várias negritudes, nossas indigenices, nossas branquitudes —  disse a autora ao receber o prêmio. — É um livro em busca da música, em busca de mim, das minhas origens sertanejas, onde me entrego inteira ao Sertão. Eu saí do mar para o sertão, é uma migração ao contrário. E lá encontro minhas ancestralidades, encontro minha avó índia e meu pai, um descendente de português.

A poeta, que é vereadora no Recife, disse ainda que vai doar 10 por cento do valor do prêmio para o PCdoB, porque é "uma mulher comunista":

—  Sou mulher de partido. Sou uma mulher de esquerda. E tô na luta pelo livro e por um mundo melhor.

A apresentadora Maju Coutinho conversa com Cida Pedrosa após o anúncio do prêmio Foto: Eduardo_Lopes / Divulgação
A apresentadora Maju Coutinho conversa com Cida Pedrosa após o anúncio do prêmio Foto: Eduardo_Lopes / Divulgação

Com a escolha, o Jabuti dá seguimento a uma tradição recente de premiar obras independentes de autores fora do eixo Rio-São Paulo. Cida Pedrosa pertenceu ao Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco na década de 1980 e a editora de seu livro, Cepe,  é uma sociedade de economia mista vinculada à Secretaria da Casa Civil de Pernambuco. Ano passado, o Jabuti premiou uma obra ensaística de uma pequena editora especializada ( "Uma história de desigualdade", de Pedro Ferreira de Souza ) e, em 2018, um livro publicado de forma autônoma ( "A cidade", de Maílson Furtado ).

Concorriam ao prêmio do Livro do Ano os vencedores das categorias Eixos Ensaios e Literatura. O romance "Torto arado" (Todavia), do escritor baianao Itamar Vieira Junior , levou como melhor Romance Literário. Escolhido um dos m elhores livros de 2019 pelo GLOBO,  descreve o trabalho análogo à escravidão e as lutas das famílias de Água Negra, uma fazenda sertaneja. Também é finalista do Prêmio Oceanos 2020.

A edição consagrou ainda o escritor Raphael Montes, na categoria Romance de Entretenimento, por "Uma mulher no escuro" (Companhia das Letras).

Os outros premiados da noite foram Carla Bessa, que venceu na categoria Conto por 'Urubus" (Confraria do Vento), e Nélida Piñon , na categoria Crônicas por "Uma furtiva lágrima" (Record).

Nas categorias de não ficção, destaque para "Escravidão - Vol. 1" (GloboLivros), de Laurentino Gomes, vencedor em Biografia, Documentário e Reportagem, e "Pequeno manual antirracista" (Companhia das Letras), de Djamila Ribeiro, que venceu em Ciências Humanas. Veja a lista completa dos vencedores abaixo.

O vencedor de cada categoria receberá o valor de R$ 5 mil e a estatueta do prêmio.

Em maio, o curador do Jabuti, Pedro Almeida renunciou após ser duramente criticado por escritores e intelectuais por ter publicado, nas redes sociais, um texto minimizando a pandemia de Covid-19. Almeida escreveu que os brasileiros estavam sendo "enganados" sobre as mortes por coronavírus. Segundo dele, não havia "um dado claro" que indicasse "a necessidade de parar o país e ferrar com a economia". Depois de um abaixo-assinado que exigia sua saída, ele entregou o cargo.

Todos os vencedores

Conto

"Urubus", de Carla Bessa (Editora Confraria do Vento)

Crônica

"Uma furtiva lágrima", de Nélida Piñon (Editora Record)

Histórias em Quadrinhos

"Silvestre", de Wagner Willian (Editora Darkside Books)

Infantil

"Da minha janela", de Otávio Júnior (Editora Companhia das Letrinhas)

Juvenil

"Palmares de Zumbi", de  Leonardo Chalub (Editora Nemo)

Poesia

"Solo para vialejo", de Cida Pedrosa (Cepe Editora)

Romance de Entretenimento

"Uma mulher no escuro", de Raphael Montes (Editora Companhia das Letras)

Romance Literário

"Torto arado", de Itamar Vieira Junior (Editora  Todavia)

Artes

"AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", de Gabriel Zacarias, Galciani Neves, Izabela Pucu, Alexandre Pedro de Medeiros, Caroline Schroeder, Carolina de Angelis, Luise Malmaceda, Theo Monteiro, Pedro Borges, Paulo Cesar Gomes, Paulo Miyada e Priscyla Gomes (Instituto Tomie Ohtake)

Biografia, Documentário e Reportagem

"Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares: Volume 1", de Laurentino Gomes (Editora  Globo Livros)

Ciências

"Futuro presente: o mundo movido à tecnologia", de Guy Perelmuter (Companhia Editora Nacional)

Ciências Humanas

"Pequeno manual antirracista", de Djamila Ribeiro (Editora Companhia das Letras)

Ciências Sociais

"130 anos: Em busca da República". Organizadores: Edmar Bacha, José Murilo de Carvalho, Joaquim Falcão, Marcelo Trindade, Simon Schwartzman e Pedro Malan (Editora Intrínseca)

Economia Criativa

"Ecochefs: parceiros do agricultor", do Instituto Maniva (Senac Rio)

Capa

"Penitentes - Dos ritos de sangue à fascinação do fim do mundo", capistas: Luisa Malzoni, Isabel Santana Terron e Beatriz Matuck (Editora Tempo d'Imagem)

Ilustração

"Cadê o livro que estava aqui?", ilustradora: Jana Glatt Rozenbaum (Editora  FTD Educação)

Projeto Gráfico

"Arquiteturas contemporâneas no Paraguai", responsáveis: Maria Cau Levy, Christian Salmeron, Ana David e André Stefanini  (Editoras  Romano Guerra Editora e Escola da Cidade)

Tradução

"Bertolt Brecht: Poesia", tradutor: André Vallias (Editora Perspectiva)

Eixo Inovação

Fomento à Leitura

FLUP - Festa Literária das Periferias, responsável: Julio Ludemir

Livro Brasileiro Publicado no Exterior

"Lorde" (Editoras Grupo Editorial Record, Two Lines Press)