Cultura

Além de turnê, Maria Bethânia tem disco em homenagem à Mangueira já finalizado

Tributo 'furou a fila' do próximo álbum de inéditas, cujas canções são apresentadas no show 'Claros breus'
Maria Bethânia Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Maria Bethânia Foto: Leo Martins / Agência O Globo

RIO — O espetáculo “Claros breus” , de Maria Bethânia , chega à estrada já incensado pelo fervor causado na pré-estreia , em clima de boate dos anos 1960. Fãs que não conseguiram ingressos para os shows no Manouche , seja pela grande concorrência ou por morarem em outras cidades, “caçavam” os espectadores nas redes sociais pedindo vídeos, fotos e setlist. Alguns registros, como o momento em que Bethânia surpreende o público com uma versão de “Evidências”, sertanejo eternizado pelas vozes de Chitãozinho e Xororó, viralizaram na internet.

Na formação da banda, um quinteto, apenas o baixista Jorge Hélder, que Bethânia aponta como seu “tradutor musical”, é companheiro de outras jornadas. Completam o time o violonista Carlinhos Sete Cordas, o pianista Marcelo Galter e a dupla de percussionistas Pretinho da Serrinha e Luisinho do JêJe. O repertório surpreendente traz alguns clássicos, reembalados pelos arranjos do maestro Letieres Leite, como “O que é o que é”, Purificar o Subaé” e “Brincar de viver” e textos de Ferreira Gullar e Mário de Andrade.

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O trunfo, porém, está nas novidades, seja nas canções que Bethânia nunca tinha cantado ou naquelas mais lado B.

Há pérolas de compositores como Lenine e Lula Queiroga (“O universo na cabeça do alfinete”), Sérgio Ricardo (“Pernas”) e Angela Ro Ro (“Gota de sangue”), ou nas cinco músicas inéditas, assinadas por Chico César (“Águia nordestina” e “Luminosidade”), Adriana Calcanhotto (“A flor encarnada”), Roque Ferreira (“Música, música”) e Flávia Wenceslau (“Espelho”, que não foi testada na pré-estreia), que formarão um dos álbuns que Bethânia planeja:

— Eu tinha canções novas e fui aquecendo e temperando com outras que eu tinha vontade de cantar há muito tempo, como “Anjo exterminado”, “Cobras e lagartos”, “Tocando em frente”. Tenho exatamente dez músicas inéditas, nem todas estão no show, mas prontas para eu gravar.

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Mas disco de inéditas agora, diz Bethânia, “nem pensar”. A cantora e seus músicos sequer entraram no estúdio para gravar as novas canções, priorizando apresentá-las no palco, habitat natural da baiana. Para os fãs fiéis, porém, há uma boa notícia: dois dias antes da entrevista com o GLOBO, Bethânia recebeu a versão final do disco que gravou em homenagem à Mangueira, sua escola de coração, da qual inspirou enredo — e saiu campeã — em 2016. Devidamente aprovado pela artista, o álbum agora vai seguir o caminho da indústria, como ela explicou. Não há data, mas deve sair ainda em 2019.

O repertório é composto por sambas que exaltam a escola, como por exemplo, “Como Mangueira não há”, do conterrâneo santo-amarense Assis Valente (sugestão do mano Caetano), e “Sei lá, Mangueira”, de Hermínio Bello de Carvalho e Paulinho da Viola.

— Em 2016, a Mangueira teve 37 sambas concorrendo, o que não acontecia há muito tempo. Isso foi muito comovente para mim. Falei “Caê, quero gravar esse disco agradecendo a Mangueira, mas não quero só aquela coisa ‘obrigada, obrigada’”. — explica. — E ele, que conhece muito do cancioneiro brasileiro, me ajudou a ver um repertório em que eu possa conviver e agradecer a escola, mas com muita alegria, igual aquela que eu senti quando fui convidada, campeã e desfilei.

Na homenagem, há também dois dos 36 sambas desclassificados na disputa da Mangueira em 2016: o de Nelson Sargento, cantado por Caetano Veloso, e o de Tantinho da Mangueira, interpretado pelo próprio ("ficaria estranho eu cantar me elogiando”, diz). A produção do álbum é de Letieres Leite, que também assina a direção musical do show “Claros breus”.

— Queria fazer o samba carioca com sotaque baiano, e o Letieres é muito bom. Não tem a menor dificuldade em colocar num samba uma sinfônica, o que eu acho lindo, um sinal de inteligência e sensibilidade. Ele fez um disco extraordinário — garante.