Cultura

Amazon faz doação secreta de mais de R$ 1,76 milhão para ajudar livrarias no Reino Unido

Após descobrirem a fonte da contribuição, livreiros mostraram cautela: 'Não há maior ameaça à venda de livros nas ruas do que esta empresa'
Livreiro na Alemanha usa máscara durante a pandemia de coronavírus Foto: RALPH ORLOWSKI / REUTERS
Livreiro na Alemanha usa máscara durante a pandemia de coronavírus Foto: RALPH ORLOWSKI / REUTERS

RIO - Considerada uma ameaça (e até uma inimiga) a livrarias e sebos de rua, a Amazon fez uma doação significativa para ajudar o mercado editorial do Reino Unido a superar a crise provocada pela pandemia de coronavírus. Foi revelado que a empresa está por trás da contribuição anônima no valor de £ 250 mil (cerca de R$ 1,76 milhão, na cotação atual) feita em vaquinha virtual organizada por livreiros britânicos.

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A campanha de crowdfunding no site "GoFundMe" foi criada por três livreiros no mês passado. Inicialmente, o objetivo era arrecadar £ 10 mil, mas a meta subiu para £ 100 mil rapidamente, com a adesão de autores como Adam Kay , Candice Carty-Williams e David Nicholls , além de organizações como Penguin Random House e Booksellers Association.

A doação secreta de £ 250 mil foi feita na quarta-feira, fazendo o total arrecadado saltar para quase £ 380 mil. David Hicks, diretor da Book Trade Charity, ONG que administra o fundo, disse ao site "Bookseller" que "o doador só queria dizer que está comprometido com as livrarias independentes como parte de uma economia mista de venda de livros, e queria mostrar algum apoio".

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No dia seguinte, porém, Hicks afirmou ter recebido autorização da Amazon para revelar a fonte da doação, de modo a evitar quaisquer especulações. "A contribuição adicional nos deixou em uma posição muito forte para ajudar ainda mais livreiros que sofrem com essa crise", disse ele.

Os organizadores, por sua vez, mudaram levemente sua postura, uma vez que a Amazon é constantemente citada como grande culpada pelo fechamento de diversas livrarias.

Na quarta-feira, eles descreviam a doação como "verdadeiramente surpreendente". Mas, no dia seguinte, diante da revelação, passaram a ser mais céticos. "Fico feliz que esse dinheiro esteja indo para uma boa causa, mas não há maior ameaça à venda de livros nas ruas do que a Amazon, e suas práticas trabalhistas são uma desgraça bem documentada", publicou no Twitter Gayle Lazda, proprietária da livraria London Review Bookshop e uma das criadoras da campanha.

Na semana passada, o jornal "Guardian" revelou que o chefão da Amazon, Jeff Bezos, viu sua fortuna particular crescer US$ 24 bilhões durante a pandemia , chegando a US$ 138 bilhões.