Ana Paula Lisboa
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Os seus pais vão morrer. É ainda mais difícil se dar conta disso depois de um Dia das Mães, como foi o último domingo. Eu acho este um dos dias mais bonitos de se estar nas redes sociais. É bonito ver como todo mundo tem mãe, mesmo que às vezes a mãe seja uma avó, uma tia, uma madrinha.

O que eu reparei é que apesar da máxima “mãe é mãe” permanecer, tem sido questionado cada vez mais a função da maternidade como algo intacto, imutável, uma fonte inesgotável de afeto, cuidado e compreensão. A cada ano, a narrativa tem mudado para encarar cada vez mais as mães como humanas, que sentem raiva, dor, que erram, que nos machucam.

Mas o que observo também é que, independentemente da relação que temos com nossos pais, saber que eles vão morrer dá um nó no peito, na garganta, na vida. Acompanhar os relatos dos que não abraçam mais ninguém nestas datas me faz pensar nessa sensação de orfandade de ser o filho que fica.

Quando perdi a minha mãe, foi como se, a partir daquele momento, nada mais me protegesse. Era como se uma barreira fina e invisível, cósmica, uma camada de proteção que cuidava de mim, do meu corpo, que eu nem sabia que existia, naquele momento tivesse sumido no mapa.

Eu e minha mãe nunca tivemos aquela relação maternal de comercial de margarina, de diálogo constante, e sinto dizer, nem mesmo de amizade. Mas eu descobri que as mães não precisam ser amigas de filhas e filhos; é melhor quando são, mas se não forem, está tudo bem. As mães já têm funções suficientes. A questão é que ter a mãe viva e presente me protegia de algo que eu nem sabia o que era. E talvez fosse até de mim mesma.

Quando seus pais morrem, mas especialmente quando sua mãe morre, é o fim do mundo. Enterrar os pais é uma missão dos filhos, é algo que a gente sabe que vai ter que fazer algum dia. Ninguém te conta, mas a gente sabe. Mas não importa o quanto você acha que sabe. Quando o momento chega, ninguém nunca está pronto.

Pode ser uma doença prolongada ou uma morte súbita, um acidente. Nenhuma despedida é suficiente, nenhum agradecimento, nenhum arrependimento. Nada te prepara para ser órfão, independentemente da idade que você tenha.

E eu me atrevo a dizer que ser um órfão adulto é muito difícil porque ninguém te põe no colo. Geralmente, uma criança órfã vai ter alguém ao menos para sentir pena dela, para olhar. Quando você é adulto, as pessoas te olham por no máximo seis meses. Elas acham que, como eu achava, a morte é algo natural. Enterrar os pais é uma missão, então você deveria estar pronto para isso porque você é um adulto, afinal.

Mas aí aquele dia chega, você se torna oficialmente um órfão e não tem onde se apoiar. Não há um centro de apoio, uma casa de acolhimento ou um orfanato para órfãos adultos. Você tem que seguir a sua vida, mesmo sendo um órfão e estando sem chão. E pior: quando sua mãe morre, você se lembra que você também vai morrer.

Se você, como eu, é um filho que ficou, eu queria te consolar dizendo que ficar é a melhor coisa que você pode fazer. O problema é que sei que nada do que eu diga vai te consolar. Nada me consola também.

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