Cultura

Anime Barra World reúne fãs de animes, mangás e k-pop

Com fenômenos como o k-pop do BTS, histórias em quadrinhos, livros, filmes e tudo o que a combinação de criatividade com tecnologia pode oferecer, a cultura pop asiática seduz o Ocidente — inclusive o Brasil
A cosplayer Rachel Goulart Berto Foto: Ronaldo Ichi
A cosplayer Rachel Goulart Berto Foto: Ronaldo Ichi

RIO - Quando o mundo que habitamos não é suficiente, inventamos outros para nos sentir confortáveis. Não importa que tenhamos que falar japonês ou o coreano: nós nos reinventamos em personagens e lemos histórias em quadrinhos da direita para a esquerda. Criar novos “eus”, transitar do espaço virtual para o espaço presencial — tudo é possível no mundo dos mangás, animes, k-pop, cosplay e da cultura geek. O encantamento pela cultura pop oriental encontra refúgio em eventos como o Anime Barra World, que acontece hoje no shopping da Zona Oeste a partir das 11h.

— O que mais me encanta é poder ser várias pessoas que gosto em uma única vida — diz Amanda Spisso, estudante, 18 anos, mais conhecida pelo seu apelido de cosplayer Alus. — Eu me sinto muito bem fazendo colegiais: são bonitinhas, simples e não são caras. Foi assim que eu acabei vestindo quase todos as personagens do anime “Love Live! Sunshine”. A interpretação não é obrigatória, nem precisa ser o tempo todo, mas costuma acontecer na hora das apresentações e das fotos.

Que o diga Rachel Goulart Berto, 24 anos, que já vestiu mais de 50 personagens do mundo geek , como Harley Quinn, do Esquadrão Suicida, e Boa Hancock, do mangá “One piece”. Formada pela Unirio em Engenharia de Produção, Rachel arregaçou as mangas e apresentou seu trabalho de conclusão de curso, “A cadeia produtiva do mangá”, no VI Encontro de Engenharia no Entretenimento. Em sua conclusão, o trabalho revela o alto investimento do governo japonês em conteúdos criativos, para consumo interno e exportação global.

— A receita para o sucesso do investimento no entretenimento, no caso da cultura pop oriental, passa pela riqueza de seu conteúdo — diz ela. — Mangás e animes impulsionam toda a cadeia produtiva, trazem personagens e temáticas variadas, de curta ou longa duração. Há encantamento para todos os gostos. A partir daí, a cadeia produtiva se desenvolve, licencia produtos, cria eventos presenciais que conquistam fãs fiéis, ávidos pelo compartilhamento de saberes.

Ela destaca também a versatilidade do cosplay.

— Existem a garota fofinha, o menino andrógino, a mulher forte, o homem másculo, personagens genderfluid... — enumera. — Qualquer pessoa pode encontrar em algum anime ou mangá um personagem com o qual se identifique.

O estouro do k-pop

Foi em 2018, no show do grupo coreano Blanc7, que Diego Ragonha, curador e produtor de um dos maiores eventos da cultura pop oriental, o Anime Friends, viu pela primeira vez jovens brasileiros cantando e dançando o k-pop:

— Eram 3 mil pessoas na frente do palco — lembra ele. — Fiquei impressionado quando vi que os jovens tinham decorado as letras das músicas em coreano. Eles choravam e chamavam os artistas pelos nomes.

Com 16 edições realizadas em São Paulo e público médio de 50 mil pessoas anuais, movimentando R$ 15 milhões, o Anime Friends chega ao Rio pela primeira vez entre 5 e 7 de julho, no Riocentro.

Viagem no tempo/espaço

A curiosa exportação e aceitação da cultura pop oriental, que pega de jeito os brasileiros, tem suas explicações. Cristina Rego Monteiro, doutora em Comunicação pela UFRJ, faz suas apostas:

— A cultura oriental é diferente, tem um quê lúdico/arquetípico com seus heróis maus e bons, e a utilização de elementos imaginários de outra realidade permite brincar com algo que diverte sem machucar — diz ela. — É uma viagem no tempo/ espaço até o imaginário.

Com sutileza zen, a Coreia do Sul acolhe em torno de 800 mil visitantes por ano nos shows do grupo BTS, hoje o nome mais popular do k-pop. Em 2018, o sexteto foi responsável por movimentar US$ 3,6 bilhões.

Quem quiser atravessar o portal do virtual para o presencial, pode dar um pulo ainda hoje no Anime Barra World. Lá, o fã (ou curioso) vai poder experimentar o mundo geek, assistir ao desfile de cosplay e dançar ao som do k-pop.

Afinal, é preciso transver o mundo.