Cultura

Antonio Candido se revela em filme inédito

Crítico literário fala de sua vida em '3 Antônios e 1 Jobim', filmado em 1993
Cena de '3 Antônios e 1 Jobim', de Dodô Brandão Foto: Reprodução / Internet
Cena de '3 Antônios e 1 Jobim', de Dodô Brandão Foto: Reprodução / Internet

RIO - Um Antonio Candido que canta e conta piadas, solto e desenvolto na conversa — exatamente na contramão da imagem de sisudez e reclusão que era associada ao escritor e crítico literário falecido nesta sexta-feira aos 98 anos. É o que se poderá ver no longa-metragem "3 Antônios e um Jobim", do diretor Dodô Brandão, que 24 anos após ter sido filmado, deverá ser lançado em julho deste ano.

O filme foi feito a partir de um encontro entre quatro Antônios fundamentais para a cultura brasileira: o Candido, o Houaiss (filólogo, falecido em 1999), o Callado (escritor e jornalista, que se foi em 1997) e o Carlos Jobim (mestre da canção, morto em 1994). Eles participam, juntos de um almoço e depois são entrevistados individualmente.

— Foi-se o último Antônio, é uma pena que ele não tenha visto o filme pronto — lamenta Dodô, que soube pela reportagem sobre a morte de Antonio Candido.

Patrocinado pela Fundação Banco do Brasil, "3 Antônios e 1 Jobim" teve apenas duas exibições públicas e uma em TV, de uma versão inicial de 53 minutos, em 1993.

— Não consegui convencer os produtores a fazer um longa, na época os distribuidoras de cinema não apostavam em documentários — explica o cineasta, que agora tem uma versão de 78 minutos do filme à espera de uma autorização da Ancine para estrear nos cinemas. — Tenho 15 horas de material filmado. O problema da edição é que a gente tem vontade de botar tudo lá.

Dodô (que havia despontado na direção em 1987, com o longa "Dedé Mamata") conta que foi convidado para dirigir "3 Antônios e 1 Jobim" pelo pai da ideia, Paulo Roberto Abrantes:

— Eu cresci com os Antônios na minha casa, eles eram muito amigos dos meus pais e estavam sempre lá para almoços.

No entanto, Dodô teve que cortar um dobrado para convencer Antonio Candido a participar do filme:

— Ele foi o último que eu chamei, só depois de alinhar todas as agendas do Tom, do Callado e do Houiass, que na época era ministro da Cultura. Liguei e ele, educadíssimo, declinou. Eu disse que era uma pena, já que os outros Antônios tinham aceitado e estavam honrados em encontrá-lo. E ele: "Ah, então pega mal... tenho que ir."

O filme começa com a chegada de Antonio Candido ao Rio, num voo da Ponte Aérea. E acompanha a sua chegada à Chácara do Céu, onde, no primeiro dia de filmagens, aconteceu o almoço reunindo os Antônios, com algum álcool, que o intelectual paulistano consumiu com moderação. A entrevista individual foi feita na casa do escritor, em São Paulo. Ao invés do jornalista Zuenir Ventura, que conduziu as outras entrevistas do filme, o convidado para puxar o papo com Candido foi o amigo e crítico de teatro Décio de Almeida Prado (1917-2000).

— O Antonio Candido é genial, e os espectadores no Rio ficaram impressionados com ele no filme, eles não o conheciam direito. Nas filmagens, ele se soltou de uma maneira impressionante. Foi a única vez em que ele se deixou filmar — conta Dodô Brandão.

Atualmente, "3 Antônios e 1 Jobim" só pode ser visto em cópias ilegais, uma das quais o diretor ainda não conseguiu retirar do YouTube.