Talvez, daqui a cem anos, os netos dos nossos netos colecionem nosso estoque de selfies e stories de carnaval com uma curiosidade vintage. A essa altura as redes sociais já estarão provavelmente ultrapassadas , mas ainda assim nossos registros ficarão lá, em algum dispositivo do futuro, como mensagens desesperadas a um interlocutor desconhecido. Garrafas jogadas ao mar. E então nossos descendentes tentarão imaginar como pulávamos, amávamos, girávamos e usávamos o banheiro químico em um Cordão da Bola Preta com mais de 1 milhão de foliões.
Da máscara ao Insta: como as redes sociais mudaram nosso jeito de pular carnaval
A jovem moradora de Taubaté que, em 1887, escreveu à “bôa amiguinha” dando detalhes de seu carnaval não fazia ideia de que chegaria até nós. Mais de cem anos depois, a carta da menina Maria Luiza Almeida Cunha é um valioso item do acervo da Casa de Rui Barbosa dedicado à festa. A menina nos guia, em poucas e simples palavras, pela folia de seu tempo. “Diverti-me muito, como podes imaginar, dansei ( sic ) durante todo o tempo, e com muito bons pares”, escreveu, como se nos pegasse pela mão e nos jogasse dentro de um baile do século XIX. “Havia muita gente, as dansas se executtavão (sic) em 2 salas, uma das quaes era do tamanho da nossa sala de estudo, e a outra, do das pequenas”.
Os arquivos nos conectam com um carnaval perdido. Na maior parte das vezes, contam uma história incompleta e misteriosa, que preenchemos com nossa imaginação. Não sabemos o nome do baile em que Maria Luiza dançou, mas temos uma amostra do que eram as noites do Club Democráticos no Rio naquela mesma época. Muito antes do Instagram, as imagens de grandes fotógrafos como Augusto Malta, guardadas no Instituto Moreira Salles, dão o clima de como era um dos principais clubes de seu tempo. Assim como matérias e charges nas revistas “Fon fon” e “Para todos”, entre outras, que podem ser consultadas na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional. E um belo e ilustrado convite para os bailes de 11, 12 e 14 de fevereiro de 1899 no Democráticos nos faz vislumbrar o que seria a tal “sublime apoteose a momo” a que ele dava acesso.
Há também quem goste de construir seu próprio acervo. O carioca Rafael Cosme vive em feiras de rua da cidade garimpando slides, fotos e negativos antigos (que posta em seu instagram @villalobos). Há dois meses, ele desencavou rolos do carnaval de 1974, de um autor (ainda) desconhecido, com registros de sublimes foliões anônimos que estavam fadados a desaparecer para sempre.