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Cultura Artes visuais

Casa Roberto Marinho inaugura neste sábado mostra com inéditos de Carlos Vergara, Luiz Aquila e Roberto Magalhães

Espaço também abre a exposição 'Livros e arte', que destaca a relação entre as artes gráficas e as visuais
Obra sem título de Carlos Vergara, da série 'Quarentena' Foto: Jaime Acioli/Divulgação
Obra sem título de Carlos Vergara, da série 'Quarentena' Foto: Jaime Acioli/Divulgação

RIO — Reaberta ao público no dia 5 de setembro , após cinco meses fechada por conta da pandemia de Covid-19, a Casa Roberto Marinho inaugura neste sábado (3) as suas primeiras exposições do ano , "Enquanto" e "Livros e arte". Esta última já estava prevista, mas acabou adiada pela quarentena, ao passo que "Enquanto" foi desenvolvida a partir da série on-line "Conversas na Casa", que o diretor da instituição, Lauro Cavalcanti, comandou nos meses de junho e julho, e na qual falou com 33 artistas, curadores e outros profissionais do meio, em 27 entrevistas. O resultado são 50 obras em diferentes suportes, de pintura a colagem, produzidas por Carlos Vergara, Luiz Aquila e Roberto Magalhães durante o período de isolamento social. Completam a abertura seis desenhos de Marcelo Grassmann feitos entre 1957 e 1958, expostos na sala que dá acesso à escada para o andar superior.

— Em todas as conversas, era inevitável falar sobre a rotina da quarentena e como ela afetou a produção. A forma como cada um reagiu às questões da pandemia era muito diferente, alguns preferiram diminuir o ritmo enquanto outros intensificaram as atividades — observa Cavalcanti, que assina a curadoria da mostra. —  É um conjunto que demonstra a força da arte para responder a momentos de crise como o que vivemos.

Na seleção de Vergara, além de trabalhos da série "Prospectiva" (2019 ), estão obras de um conjunto intitulado "Quarentena", na qual o pintor de 78 anos iniciou aquarelas, desenhos e colagens em envelopes e os enviou para serem finalizados por amigos como Waltercio Caldas, Adriana Varejão, Raul Mourão, Barrão e Iole de Freitas.

'O mundo no seu tempo'

A produção recente de Aquila foi disparada por um incidente doméstico, a quebra de sua caneca preferida. Com os cacos de cerâmica reunidos sobre papel, o artista de 77 anos jogou café por cima e os fotografou, para depois interferir nas imagens impressas com pastel colorido. Já Roberto Magalhães, que celebrou 80 anos em março, apresenta uma série de 13 guaches e o desenho a nanquim "Introspecção na quarentena", que se relacionam com elementos estéticos e formais desenvolvidos em quase 60 anos de carreira.

— As obras de "Quarentena" foram tentativas afetivas de estabelecer contato com amigos e colegas por meio da arte, não só através da voz — destaca Vergara. — Eu permaneci indo ao menos três vezes por semana ao ateliê, que é um espaço seguro, onde posso trabalhar sozinho. A pandemia não afetou minha produção de maneira específica, continuei fazendo o que sempre fiz, que é retratar o mundo no seu tempo.

No andar superior, "Livros e arte" cria diálogos entre os nove livros de artista produzidos pela UQ! Editions, parceria editorial do curador Leonel Kaz e a designer Lucia Bertazzo, e trabalhos de cada um deles:  Antonio Dias, Wanda Pimentel, Ferreira Gullar, Frans Krajcberg, Luiz Zerbini, Paulo Climachauska, o português Pedro Cabrita Reis, Leo Battistelli e, novamente, Roberto Magalhães. Responsável pela curadoria, Kaz buscou com instituições, colecionadores e com os próprios artistas obras que se conectassem com os trabalhos produzidos para os livros.

— É como se fossem nove individuais, cada artista em uma sala. Comecei a selecionar as obras no ano passado, mas a exposição só pôde abrir agora, após a quarentena. Felizmente conseguimos manter  como foi planejado, com tudo o que eu queria mostrar — ressalta Kaz. — Muitas obras são praticamente inéditas, como o painel “Primeira Missa” (2014), do Zerbini, que fica no seu ateliê, e aqui vai ser visto com as monotipias que ele criou para o seu livro. Ou as telas da Wanda Pimentel, que eram da sua coleção e ela mesmo ajudou a escolher, em casa, poucos meses antes de morrer ( em 23 de dezembro de 2019, aos 79 anos ). A exposição também é uma forma de homenagem a ela, Antonio Dias, Ferreira Gullar, Krajcberg.

'Aparelho', guache de Roberto Magalhães Foto: Jaime Acioli/Divulgação
'Aparelho', guache de Roberto Magalhães Foto: Jaime Acioli/Divulgação

Morando em Lisboa, Lucia Bertazzo acredita que a exposição pontua o trabalho desenvolvido pela UQ! com estes artistas:

— A nossa proposta sempre foi a de que um livro sempre precisava começar do zero, cada projeto tem que ser único. Nós conseguimos atingir um determinado tipo de público com os livros, agora a exposição amplia esse olhar.

Sala de Luiz Zerbini na mostra 'Livros e arte' Foto: Cadu Pilotto/Divulgação
Sala de Luiz Zerbini na mostra 'Livros e arte' Foto: Cadu Pilotto/Divulgação

Em cinco das nove salas, o público poderá tocar nos livros expostos, e para isso serão distribuídas luvas descartáveis para os visitantes. O cuidado se soma aos protocolos seguidos pela Casa nas semanas anteriores de reabertura, como a limitação no número de pessoas, o uso obrigatório de máscaras e a verificação da temperatura na entrada. Para Cavalcanti, o retorno antes das inaugurações serviu não só para implementar e aprimorar as medidas sanitárias, mas também para sentir a vontade do público de voltar ao espaço:

— Tivemos quase mil visitantes nos dois primeiros finais de semana. Até imaginava um número menor neste começo, mas sentimos que as pessoas buscam justamente o que a Casa oferece, o espaço amplo para visitação, o jardim. Muita gente expressou essa felicidade de poder voltar, de se sentir seguro em relação ao espaço e de estar num ambiente agradável.

Onde : Casa Roberto Marinho — Rua Cosme Velho, 1105 (3298-9449). Quando : Ter. a dom., das 12h às 18h. Até 31/1/2021. Quanto : R$ 10. Classificação : Livre.