Artes visuais
PUBLICIDADE

Por Nai Frossard; Especial Para O GLOBO


Obras. Nelson Felix em seu ateliê em Nova Friburgo, onde produziu os 13 desenhos que serão expostos na galeria Millan: “A vida ficou mais fina para mim e com períodos de alta sofisticação mental, de realizações e alinhamento de coisas” Divulgação — Foto:
Obras. Nelson Felix em seu ateliê em Nova Friburgo, onde produziu os 13 desenhos que serão expostos na galeria Millan: “A vida ficou mais fina para mim e com períodos de alta sofisticação mental, de realizações e alinhamento de coisas” Divulgação — Foto:

Para os gregos, a origem do pensar é o thauma, que significa espanto ou perplexidade. Toda explosão provooca espanto, e Aristóteles já dizia que a surpresa e a admiração causadas por um momento de perplexidade podem tirar uma pessoa da inércia e lançá-la em busca de conhecimento e reflexão. Em seu novo projeto solo, o artista plástico Nelson Felix, de 68 anos, fala sobre a explosão que a poesia faz nesse estado repentino de espanto, quando uma pessoa se depara com a percepção de algo maior. A exposição “Ensaio para o desconforto” será apresentada pela galeria Millan na 18ª edição da SP-Arte, que será realizada de quarta (6) a domingo (10) no Pavilhão da Bienal no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

O novo trabalho de Felix estará num estande individual da galeria e traz 13 desenhos, incluindo um desenho-escultura, no qual o artista utilizou mármore, lacre vermelho e caules de rosas. O lacre em vermelho — presente nas obras da série “Vazio sexo” — volta nesse trabalho de forma mais intensa, composto com o caule de rosas moldado em bronze.

— Como eu já estive envolvido em trabalhos com as mimosas pudica (flor conhecida como dormideira) e com os cactos, comecei a observar as rosas. Ela entrou no meu trabalho quando comecei a pensar sobre o reino vegetal profundamente — conta o artista, que vive há 40 anos numa casa cercada pela Mata Atlântica, em Nova Friburgo. — Fiquei completamente embebido de usar elementos vegetais no trabalho. Então comecei a colocar as mimosas em contato com os cactos. É a possibilidade do toque, o momento do espanto e da poesia — reflete Felix, gesticulando as mãos acostumadas a criar esculturas que podem pesar toneladas, construídas no ateliê que mantém ao lado de sua casa.

Uma das 13 obras expostas na SP-Arte tem escrito “Ao Sul tem espinho” por trás de uma camada de lacre vermelho. Para o artista, esta é a poesia desse trabalho.

— Tem uma coisa mais simbólica. O Sul é um hemisfério que foi menosprezado, mas que tem muita espiritualidade. As coisas brotam no Sul, que é esquecido e tem uma potencialidade latente. A rosa tem espinhos, mas em compensação tem pétalas de extrema beleza e suavidade. O simbolismo é essa relação imediata entre o espinho e a suavidade. Uma potencialidade que explica por que o Sul tem espinho — afirma Felix, para quem há algo mais poético, que vai além do conceito. — O conceito você entende e, depois, acabou: você aprendeu alguma coisa. A poesia não quer ensinar nada. Ela nunca acaba, tem um lado meio obscuro, meio amorfo, que reaparece numa situação diferente, às vezes depois de anos. O trabalho fala sobre essa ideia de desconforto e da necessidade de uma coisa reaparecer e trazer transformação. O trabalho é uma ode a isso.

A exposição “Ensaio para o desconforto” estava guardada há dois anos, porque foi preparada às vésperas da pandemia.

— O trabalho sempre se chamou assim, e então veio a Covid-19, que foi o próprio desconforto — conta Felix, que durante a pandemia lançou o sétimo livro de sua obra: “Berceuse” (Martins Fontes), que abarca 33 anos de trabalho. Para ele, nada mudou com o confinamento, já que exerce naturalmente o distanciamento social onde vive. Em Nova Friburgo, Felix saiu recentemente da pequena casa onde morava para outra, menor, a poucos metros da primeira, transformada num local para estudos e desenhos. Mas sua verdadeira casa é o enorme ateliê, com pé-direito de oito metros e grandes blocos de carrara.

— (Na pandemia) Senti até umas pequenas culpas porque vi muita gente morrendo. E eu também corria um risco de pegar a doença. Mas não tive urgências vindas de fora e me senti muito bem. A vida ficou mais fina para mim e com períodos de alta sofisticação mental, de realizações e alinhamento de coisas — diz Felix, que gosta da distância. — Tive uma percepção muito profunda do que é estar só, e isso envolve a distância. Eu tenho que saber que estou meio longe. Mas essa distância requer comunhão: de um lado extremamente interno e o outro de ter que se expor ou expor meu trabalho. É como se fosse o adubo para gerar esse estado mais poético.

Mercado em recuperação

Além da Millan, a 18ª edição da SP-Arte apresenta outras 102 galerias, nove delas internacionais. Após uma edição 100% digital em 2020 e outra presencial em agosto de 2021, realizada no galpão Arca, na Vila Leopoldina, a feira volta a seu espaço original, no Ibirapuera — no ano passado, o pavilhão estava ocupado pela 34ª edição da Bienal de São Paulo. Para a fundadora da feira, Fernanda Feitosa, a retomada consolida ainda a recuperação do mercado diante da crise causada pela pandemia, uma realidade internacional. Divulgado na semana passada, o relatório anual da Art Basel/UBS mostrou um crescimento nas vendas de arte globais em 2021 de 29% em relação ao ano anterior.

— Além da retomada do mercado com a volta dos eventos presenciais, este cenário também diz muito sobre o papel dos colecionadores e da necessidade de apoiar as artes em seus momentos mais difíceis — observa Fernanda. (Colaborou Nelson Gobbi)

Mais recente Próxima
Mais do Globo

Em 2016, com recessão e Lava-Jato, rombo chegou a R$ 155,9 bilhões. Pressão política para investir em infraestrutura preocupa analistas, que defendem regras de gestão mais rígidas

Fundos de pensão de estatais ainda têm déficit de R$ 34,8 bi e acendem alerta sobre ingerência política

Ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, afirmou que Madri atendeu a um pedido de González ao conceder asilo e disse que portas estão abertas para outros opositores

Espanha não ofereceu 'contrapartida' a Maduro para retirar González Urrutia de Caracas, diz chanceler da Espanha

Dispositivos finalmente ganharão atualizações relevantes, depois de dois anos sem novidades

Além do iPhone 16: veja os novos Apple Watch e AirPods que serão lançados hoje

Suspeito do crime, Tiago Ribeiro do Espírito Santo foi preso momentos depois e autuado por feminicídio

Garota de programa é morta estrangulada em hotel no Centro do Rio

Fazendeiro receberá compensação anual de R$ 54 mil, pois a aeronave impede o plantio de grãos no terreno

Empresa aérea começa a desmontar avião preso em campo de trigo na Sibéria um ano após pouso de emergência

Gorki Starlin Oliveira conta como uma estratégia de aquisições garantiu a sobrevivência de sua empresa em meio ao colapso das grandes redes de livrarias do Brasil

‘Compramos editoras para brigar por prateleira’, diz CEO da Alta Books

Homem foi descredenciado sob a alegação de que tinha anotações criminais em seu nome

Uber é condenado a pagar R$ 40 mil a motorista de aplicativo por danos morais

Texto ainda depende de aval do presidente para ser enviado ao Congresso; proposta também prevê reduzir negativas a pedidos via LAI

Governo discute projeto para acabar com sigilo de 100 anos após críticas a Lula por veto a informações

Apresentadora fala sobre saída do ‘Saia justa’, estreia de ‘Admiráveis conselheiras’ e etarismo no terceiro episódio do podcast da Revista ELA

ELAPod: Astrid Fontenelle desabafa sobre o etarismo, manda a real sobre a maternidade e opina sobre aborto

A três meses do verão, consumidores já têm dificuldade em encontrar alguns modelos nas lojas. Escoamento dos aparelhos na Zona Franca de Manaus preocupa devido à seca

Produção de ar-condicionado bate recorde e salta 83% no ano, com ondas de calor em pleno inverno