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Bienal de Veneza aborda dilemas atuais, da imigração às 'fake news'

Mostra expõe destroços de navio no qual 800 pessoas morreram, em naufrágio de 2015
A polêmica instalação 'Barca nostra', criada a partir de destroços de um navio naufragado, está montada no Aersenale Foto: TIZIANA FABI / AFP
A polêmica instalação 'Barca nostra', criada a partir de destroços de um navio naufragado, está montada no Aersenale Foto: TIZIANA FABI / AFP

RIO — Aberta ao público até 24 de novembro, a 58ª Bienal de Veneza reflete sobre temas frequentemente abordados no noticiário internacional, como a intolerância, a imigração, o aquecimento global e a explosão das fake news . O título da seção central já é, em si, uma referência à circulação indiscriminada de conteúdos falsos: citada em um discurso de 1930 do parlamentar britânico Austen Chamberlain, não há nenhuma evidência que a expressão “Que você viva em tempos interessantes” venha, de fato, de uma antiga maldição chinesa.

A lista dos 79 artistas do curador americano Ralph Rugoff traz um equilíbrio de gênero, com quase o mesmo número de artistas homens e mulheres, e cerca de um terço dos selecionados nascidos nos anos 1980.

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Alguns dos temas abordados pela curadoria, como a imigração e o ressurgimento da xenofobia, já podiam ser vistos mesmo antes da abertura da mostra ao público. Uma das obras mais polêmicas desta edição, “Barca nostra”, do suíço Cristoph Buchel, foi criada a partir dos destroços de uma embarcação naufragada no Canal da Sicília, em 2015, no qual 800 imigrantes perderam a vida.

Protagonista do que foi considerado o pior naufrágio do Mediterrâneo, o navio foi içado de 370 metros de profundidade, após autorização do Ministério da Defesa italiano, e atracado no Arsenal, antigo estaleiro que hoje recebe obras da Bienal. Outro naufrágio, no qual morreram 304 estudantes em Sewol, é lembrado em uma instalação da sul-coreana Lee Bul.

O tema da imigração também é abordado pela mexicana Teresa Margolles, com a instalação “Muro Ciudad Juarez, 2010”. Além da violência do narcotráfico, a construção de blocos de concreto com arame farpado no topo alude ao muro na fronteira entre EUA e México, promessa de campanha que Donald Trump tenta cumprir.