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Cultura Artes visuais

No pós-Covid, museus e galerias de arte terão visitas agendadas e público limitado

Instituições europeias reabrem gradualmente e já indicam novas regras de segurança, que também incluem uso de máscaras e álcool em gel pelo público e funcionários
Uma vistante de máscara olha a uma versão em mármore e bronze de 'O pensador', assinada por Auguste Rodin, na Alte Nationalgalerie de Berlim, reaberta no dia 12 Foto: JOHN MACDOUGALL / AFP
Uma vistante de máscara olha a uma versão em mármore e bronze de 'O pensador', assinada por Auguste Rodin, na Alte Nationalgalerie de Berlim, reaberta no dia 12 Foto: JOHN MACDOUGALL / AFP

RIO — Visitas agendadas, número máximo de público por sala, álcool gel e máscaras para visitantes e equipes, marcações no chão para a distância mínima nas áreas de circulação e restrição da entrada de pessoas que apresentem sintomas de infecção pelo coronavírus . Essa promete ser a nova realidade dos museus e galerias de arte mundo afora, quando se afrouxarem as regras do isolamento social causado pela pandemia de coronavírus .

Parte do roteiro obrigatório em grandes cidades do mundo, os museus e centros culturais têm pela frente um grande desafio. Desde a expansão da pandemia do novo coronavírus, as longas filas, os corredores intransitáveis e as barreiras de visitantes fazendo selfies diante de obras-primas parecem uma realidade cada vez mais distante.

O “novo normal” das artes visuais começa a ser testado agora, com a nova agenda das feiras e dos grandes eventos e a reabertura das instituições na Europa, como os Museus do Vaticano . Algumas dessas ações se baseiam em orientações publicadas pelo Conselho Internacional de Museus (Icom, em inglês) no dia 12 deste mês. Outras condutas variam de acordo com a instituição, como a proibição de visitas guiadas e/ou a distribuição de audioguias.

A volta na Espanha

O anúncio nesta segunda-feira do adiamento da Bienal de Arte de Veneza para 2022, sendo que a de arquitetura já tinha sido adiada para 2021 , indica que o setor precisará de tempo para se readaptar. E a volta do público, aos poucos, em países como Alemanha, Bélgica, França, Espanha e Suíça, estabelece padrões a serem seguidos nos próximos meses.

— Informações claras são importantes para que as pessoas se sintam seguras — observa a holandesa Danielle Kuijten, vice-presidente do Comitê para o Desenvolvimento de Coleções do Icom. — Outra questão desafiadora é como os museus podem ajudar a sociedade, seja apoiando outras organizações ou oferecendo um alívio mental em meio à situação em que nos encontramos.

Uma visitante circula por uma exposição de Edward Hopper na Beyeler Foundation, em Riehen, na Suíça Foto: FABRICE COFFRINI / AFP
Uma visitante circula por uma exposição de Edward Hopper na Beyeler Foundation, em Riehen, na Suíça Foto: FABRICE COFFRINI / AFP


Sexto país com mais casos confirmados no mundo, ultrapassando 230 mil infectados e 25 mil mortos, a Espanha começa a diminuir gradualmente o isolamento social, depois de mais de dois meses de lockdown . Pelo escalonamento anunciado pelo governo, museus e salas de exposição podem funcionar desde o dia 11, mas neste momento as grandes instituições ainda se preparam para voltar à atividade.

É o caso do Thyssen-Bornemisza, que integra com o Museu do Prado e o Reina Sofía o chamado Triângulo das Artes madrilenho. Ainda sem data de reabertura, o espaço prepara a equipe para receber um público limitado a um terço da capacidade usual, seguindo as orientações oficiais.

— Decidimos eliminar todos os folhetos e informativos impressos, substituindo-os por uma versão digital, em QR code. Os assistentes ficarão observando o fluxo nas salas, para não prejudicar quem espera a vez de entrar — prevê Evelio Acevedo, diretor do Thyssen.

Art Basel mantida em setembro

Outro esteio do circuito internacional de arte, as feiras e outros grandes eventos também preveem restrição de público e medidas sanitárias mais rígidas para que possam acontecer no segundo semestre. Após cancelar a oitava edição da Art Basel Hong Kong, em março, a rede de feiras mais tradicional do mundo mantém a previsão da 50ª edição de seu evento original, em Basel, na Suíça, em 17 de setembro, e da 19ª Basel Miami, a partir de 3 de dezembro.

Por meio de seu departamento de comunicação, a organização do evento observa que “no curto prazo, alguns colecionadores podem optar por fazer compras remotamente, em vez de viajar para as feiras, mas o mundo da arte continuará a ter uma forte dimensão global, a partir da necessidade de debates e descobertas presenciais”.

O ministro da Cultura francês Franck Riester visita o Museu de Orleans no dia 15 Foto: GUILLAUME SOUVANT / AFP
O ministro da Cultura francês Franck Riester visita o Museu de Orleans no dia 15 Foto: GUILLAUME SOUVANT / AFP

Uma das curadoras da 11ª Bienal de Berlim, a se realizar entre setembro e novembro, a brasileira Lisette Lagnado adianta que vernissages serão suspensas e que a parte educativa da mostra foi remodelada para atender a seis pessoas por vez:

— O distanciamento mínimo é de 1,5 metro, então, cada sala tem uma capacidade bastante limitada.

E Bienal de SP em outubro

Por aqui, os reflexos do que acontece no exterior servem de parâmetro para ações futuras. Maior evento nacional, a Bienal de São Paulo mantém planos de abrir a coletiva de sua 34ª edição em 3 de outubro, a partir de padrões elaborados junto à Secretaria da Cultura local.

— Internamente, estamos planejando desde novos protocolos para as visitas mediadas até a distribuição de álcool gel no espaço expositivo. Não podemos fazer projeções definitivas até outubro, mas vamos continuar a seguir as recomendações para priorizar a segurança de nossos colaboradores, dos artistas e do público — ressalta José Olympio Pereira, presidente da Fundação Bienal.

Entre as galerias, que amargam um primeiro semestre marcado pelo cancelamento da SP-Arte em abril , a torcida é por um bom desempenho na ArtRio, que segue, a princípio, entre 9 a 13 de setembro, na Marina da Glória.

— O que planejamos para comemorar nossa 10ª edição fica para o ano que vem. O importante é fazer neste ano da forma mais segura possível, com um cálculo preciso do público que poderá circular no local — comenta Brenda Valansi, presidente da feira. — Vamos concentrar as ações no pavilhão com grupos de colecionadores e visitantes, e as atividades dos outros setores, como o Mira e o Palavra, passam a acontecer em outros pontos da cidade.