Artes visuais
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Por Claudia Calirman; Especial Para O GLOBO


Cecilia Alemani em Veneza: visita à Bienal de São Paulo Andrea Avezzó/Cortesia da Bienal de Veneza — Foto:
Cecilia Alemani em Veneza: visita à Bienal de São Paulo Andrea Avezzó/Cortesia da Bienal de Veneza — Foto:

Diretora e curadora-chefe desde 2011 do programa de arte pública do High Line, parque urbano elevado construído no lugar de uma antiga ferrovia no bairro de Chelsea, em Nova York, a italiana Cecilia Alemani é o nome por trás da retomada da Bienal de Veneza, a principal do mundo no formato, após seu adiamento no ano passado pela pandemia. Curadora do pavilhão italiano na edição de 2017 do evento, Cecilia teve de desenvolver a maior parte da seleção da mostra remotamente (ela conseguiu vir à Bienal de São Paulo no ano passado). A seleção traz um grupo plural e com várias apostas — dos 213 nomes anunciados, 180 jamais haviam tido obras expostas no evento. Em entrevista por Zoom, ela fala de questões pós-pandêmicas e da escolha dos cinco artistas brasileiros, o maior número de nomes do país na seleção principal da mostra desde a sua 51ª edição, em 2005.

Como você escolheu os cinco artistas brasileiros que irão participar desta Bienal? Como os trabalhos deles se inserem na exposição?

Esta Bienal foi organizada durante a pandemia da Covid-19 e foi basicamente elaborada através do Zoom. Não conheci os artistas brasileiros pessoalmente. Apenas falei com eles por Zoom ou email. As obras deles se encaixam muito bem nos temas centrais da exposição. Os desenhos da série “Jatobá”, de Rosana Paulino, falam de um corpo em transformação. Luiz Roque apresenta um trabalho conceitual. A obra de Lenora de Barros se encaixa na cápsula dedicada à poesia concreta. E os desenhos de Solange Pessoas falam da relação do homem com a natureza. Conheci o trabalho de Jaider Esbell quando fui à Bienal de São Paulo em 2021. Estive lá na semana em que ele morreu. Fiquei em São Paulo apenas dois dias e me impressionou a exposição da artista autodidata de origem indígena Conceição dos Bugres, que estava em cartaz no Masp. Uma mostra como esta jamais teria sido feita em um grande museu em Nova York. É impressionante a cena de arte brasileira.

A questão indígena parece ser um tema central da Bienal. Como você vê isso?

Vejo a questão indígena como uma alternativa para compreender o mundo. Uma forma de criar espaços para novas epistemologias, que não sejam apenas baseadas no conhecimento ocidental. Existe uma relação com a natureza que eu quero enfatizar. Como reencontrar essa conexão? Esse é um elemento importante da Bienal, não apenas por se tratar de um tema indígena.

Você usa o termo pós-humano como um dos conceitos da Bienal. O que quer dizer com isso?

Li muito sobre esse tema durante a pandemia. Desde a Renascença e do Iluminismo, vivemos num tempo focado na centralidade do homem ocidental como a medida de tudo. Muitos artistas estão imaginando um mundo futuro com seres híbridos, muito além do Antropoceno. Essa não é uma Bienal pós-apocalíptica, mas sobre positividade, acolhimento, união, colaborações horizontais e não hierárquicas, sobre o fim do extrativismo. O futuro é opaco e temos que nos ajustar a uma nova condição.

Mais de três quartos dos artistas escolhidos são mulheres e pessoas não binárias. A questão feminista será retratada?

Muitas artistas hesitam em usar a palavra feminismo. Esse termo significa coisas diferentes em diversas culturas. Este é um debate acalorado. A Bienal não é sobre a história do feminismo. Esse rótulo não diz muita coisa.

Mas o feminino parece bem presente nas suas escolhas. Como ele é refletido na exposição?

Acho que existe uma certa introspeção, artistas que tratam de grandes temas de uma forma sutil. A pandemia criou esse desejo de se ser mais discreto, mais íntimo, de procurar uma voz mais introspectiva. Haverá uma intensidade nas diferentes cápsulas dentro do espaço dispositivo da Bienal e uma expansão do lado de fora nos jardins. Extensão e contração. Dentro e fora. Esta é uma das ideias centrais.

O título da Bienal, “The milk of dreams”, vem do livro da surrealista Leonora Carrington. Qual o aspecto do surrealismo você quer enfatizar?

O surrealismo é uma das gênesis da mostra. O livro de Leonora Carrington descreve um mundo mágico onde tudo e todos podem mudar por meio da imaginação. A Bienal é inspirada no que os surrealistas chamavam de “marvelous,” um mergulho no inconsciente, no onírico. Como olhar a realidade através de uma nova perspectiva, de um possível reencantamento. É assim que vejo a Bienal.

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