![Vista geral de sala dedicada a Calder, com tela de Miró ao fundo: obras de coleções privadas e de instituições — Foto: Leo Martins](https://s2-oglobo.glbimg.com/ZuHwrZcCZ4Aju6L7aKP3BkeF3UQ=/0x369:5200x2915/1008x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/v/i/BqnYSUQJeYwtFiALfONA/100175931-sc-rio-de-janeiro-rj-15-08-2022-exposicao-calder-e-miro-na-casa-roberto-marinho.-foto-le.jpg)
No Pavilhão Espanhol da Exposição Universal de 1937, em Paris, todas as atenções estavam voltadas para os 27 metros quadrados do painel “Guernica”, pintado por Pablo Picasso como denúncia contra a guerra civil travada em seu país à época e os horrores da ditadura de Francisco Franco, revelados ao mundo na mostra internacional. Além da obra histórica, os visitantes do pavilhão também tiveram a oportunidade de ver trabalhos que materializavam uma amizade igualmente monumental. A exposição parisiense foi uma das ocasiões em que as obras de Alexander Calder (1898-1976) e de Joan Miró (1893-1983) foram apresentadas juntas: no evento, o americano mostrou sua “Fonte de mercúrio” e o espanhol, seu painel “O ceifador”. A partir de hoje, a Casa Roberto Marinho entra para a lista de instituições a destacar a parceria de décadas entre os artistas, com a abertura da mostra “Calder + Miró”.
Com mais de 150 itens, incluindo obras de brasileiros que se conectam com a produção dos dois, a exposição reúne 70 obras de Calder e 28 de Miró, em variados suportes e técnicas. Incluindo pinturas, móbiles, esculturas, gravuras, desenhos, joias, têxteis, entre outras experimentações, o conjunto foi selecionado pelo curador, galerista e editor Max Perlingeiro, convidado por Lauro Cavalcanti, diretor da Casa, para organizar a exposição.
— É uma mostra que poderia estar em qualquer museu do mundo, com uma representatividade enorme da obra dos dois, e mostrando a complexidade desta produção — ressalta Perlingeiro. — Eles se conheceram em 1928, em Paris, e não se largaram mais, até a morte de Calder. Um era absolutamente erudito, o outro era um americano ruidoso, mas uma pessoa encantadora. E essas personalidades opostas se tornaram “amigos de alma”, como Miró costumava dizer.
- Museus e centros culturais: Confira as exposições em cartaz no Rio de Janeiro
- Roberto Moriconi: Obras são expostas na janela da casa onde artista viveu, no Rio
- Banksy: Grafite aparece em galeria de Tel Aviv, sobre pedaço de muro onde foi pintado
Quase todas as obras da dupla expostas vêm de coleções particulares brasileiras, mas o conjunto conta também com empréstimos de instituições como o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), o MAM do Rio e o Masp (Museu de Arte de São Paulo).
— O público tem uma oportunidade única de ver obras destes expoentes da arte do século XX, de acervos privados. Mesmo fora do país, seria difícil ver um conjunto igual, com desenhos e pinturas surpreendentes do Calder, e também trabalhos do Miró em suportes menos conhecidos — observa Lauro Cavalcanti. — São artistas que ficaram bastante ligados à arquitetura brasileira, sobretudo Calder. Nos projetos de casas feitos pelos arquitetos modernos, o móbile era quase que um item obrigatório.
Veja obras da exposição 'Calder + Miró'
!['Hello Aleentown' (1976), de Alexander Calder — Foto: Calder Fundation, New York/Divulgação](https://s2-oglobo.glbimg.com/qkgiD9_yKjDpbUHsUydteWTrFmQ=/0x0:5200x3467/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/M/A/7m8gY6Qu6g0TVqPXss6g/100175941-sc-rio-de-janeiro-rj-15-08-2022-exposicao-calder-e-miro-na-casa-roberto-marinho.-foto-le.jpg)
!['Hello Aleentown' (1976), de Alexander Calder — Foto: Calder Fundation, New York/Divulgação](https://s2-oglobo.glbimg.com/kTqFsHlbAjdI-uucjTcQL_Htgfs=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/M/A/7m8gY6Qu6g0TVqPXss6g/100175941-sc-rio-de-janeiro-rj-15-08-2022-exposicao-calder-e-miro-na-casa-roberto-marinho.-foto-le.jpg)
'Hello Aleentown' (1976), de Alexander Calder — Foto: Calder Fundation, New York/Divulgação
![O bronze 'Femme' (1969), de Miró, nos jardins da Casa Roberto Marinho — Foto: Leo Martins](https://s2-oglobo.glbimg.com/PllMJhZeYtCA8YF1RSqV7QXLops=/0x0:3467x5200/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/H/A/n1JuAoSw2PdDUNAdCuKg/100175949-sc-rio-de-janeiro-rj-15-08-2022-exposicao-calder-e-miro-na-casa-roberto-marinho.-foto-le.jpg)
![O bronze 'Femme' (1969), de Miró, nos jardins da Casa Roberto Marinho — Foto: Leo Martins](https://s2-oglobo.glbimg.com/uFvzWQghp9Ff1_CBV2FsTbgKBeI=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/H/A/n1JuAoSw2PdDUNAdCuKg/100175949-sc-rio-de-janeiro-rj-15-08-2022-exposicao-calder-e-miro-na-casa-roberto-marinho.-foto-le.jpg)
O bronze 'Femme' (1969), de Miró, nos jardins da Casa Roberto Marinho — Foto: Leo Martins
Publicidade
![A obra 'Bent propeller' (1970), de folhas de metal, de Calder — Foto: Leo Martins](https://s2-oglobo.glbimg.com/D1KKCOp-OcWh3gRNKQb85j6cyvQ=/0x0:3467x5200/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/y/H/BWVdvESryhB0nXHeZSWQ/100175943-sc-rio-de-janeiro-rj-15-08-2022-exposicao-calder-e-miro-na-casa-roberto-marinho.-foto-le.jpg)
![A obra 'Bent propeller' (1970), de folhas de metal, de Calder — Foto: Leo Martins](https://s2-oglobo.glbimg.com/1HDMxvEAUq8g93VMn3KyohftJIM=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/y/H/BWVdvESryhB0nXHeZSWQ/100175943-sc-rio-de-janeiro-rj-15-08-2022-exposicao-calder-e-miro-na-casa-roberto-marinho.-foto-le.jpg)
A obra 'Bent propeller' (1970), de folhas de metal, de Calder — Foto: Leo Martins
!['Sa majesté' (1967), bronze pintado, de Miró — Foto: Divulgação](https://s2-oglobo.glbimg.com/lwyobyk3QEVRtmRvgGbpdskiOAM=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/B/7/bOXX4wSuKHjj9BgTLJ8g/joan-miro.-sa-majeste-1967.-bronze-pintado.-108-x-35-5-x-34-cm.-colecao-particular-rio-de-janeiro.jpg)
'Sa majesté' (1967), bronze pintado, de Miró — Foto: Divulgação
Publicidade
!['Femme' (1969), óleo e acrílica sobre tela, de Miró — Foto: Divulgação](https://s2-oglobo.glbimg.com/8_q9stO7q9UCtVMKPOzDvEtDqlU=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/C/m/SpIA5QS4A6hQbava7V4g/joan-miro.-femme-1969.-oleo-e-acrilica-sobre-tela.-61-x-50-8-cm.-colecao-particular-rio-de-janeiro.jpg)
'Femme' (1969), óleo e acrílica sobre tela, de Miró — Foto: Divulgação
![Conexão com brasileiros: 'Objeto cinético' (1966), de Abraham Palatnik — Foto: Divulgação](https://s2-oglobo.glbimg.com/01onP8SBAyJuE5iFq1ix_W3O9YE=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/x/u/KMdHcURAiq64u63lQDbQ/abraham-palatnik.-objeto-cinetico-1966-2003.-assemblage-aco-madeira-pintada-latao-e-motores.-83-5-x-36-3-x-36-cm.jpg)
Conexão com brasileiros: 'Objeto cinético' (1966), de Abraham Palatnik — Foto: Divulgação
Publicidade
![Conexão com brasileiros: 'Composição geométrica' (1987), de Franz Weissmann. — Foto: Divulgação](https://s2-oglobo.glbimg.com/gocNnzdNzi8scfmRFEoMj9S-zn8=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/D/Y/kBIzTBTu2vFY2XBDeBgQ/franz-weissmann.-composicao-geometrica-1987.-fundicao-aluminio-pintado.-22-0-x-22-0-x-23-0-cm.jpg)
Conexão com brasileiros: 'Composição geométrica' (1987), de Franz Weissmann. — Foto: Divulgação
![Conexão com brasileiros: 'Composição' (1975), de Mira Schendel — Foto: Divulgação](https://s2-oglobo.glbimg.com/hYtrNdV2KEJN-UOG1UUwDigcvD8=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/a/y/VDsNcOQGa7nrRCxbKilQ/mira-schendel.-composicao-1975.-tempera-e-folha-de-ouro-papel.-31-0-x-24-5-cm.jpg)
Conexão com brasileiros: 'Composição' (1975), de Mira Schendel — Foto: Divulgação
Publicidade
A ligação da dupla com o Brasil é reforçada na seção curada por Paulo Venancio Filho, que os coloca em relação com obras de nomes como Abraham Palatnik, Lygia Clark, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Ivan Serpa, Sérvulo Esmeraldo e Mira Schendel.
— Ainda que não se possa, a rigor, apontar uma influência direta, algumas coisas que eles fizeram a partir do final da década de 1920 tiveram paralelos na abstração brasileira dos anos 1950 a 1970. Calder foi um dos primeiros a usar cor nas esculturas, como a gente viu depois nas cores vivas nas obras do Weissmann, no “Relevo espacial” do Oiticica — aponta Venancio. — Miró, apesar de ligado inicialmente ao surrealismo, criava formas que não estão presas ao fundo, elas flutuam no espaço. É algo que podemos ver também nesta geração de abstratos.
Outros segmentos da exposição, organizados pelas pesquisadoras Roberta Saraiva Coutinho e Valeria Lamego, detalham a conexão individual de cada um dos dois artistas com o Brasil. O primeiro destaca as várias passagens de Calder pelo país, a partir 1948, quando expôs no Palácio Capanema e no Masp; e o segunda mostra que Miró, apesar de nunca ter passado por aqui, se conectou com o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Ambos também fizeram importantes doações no início dos anos 1970 ao Museu da Solidariedade Salvador Allende, no Chile, a pedido de seu organizador, o crítico brasileiro Mário Pedrosa, então exilado no país.
— Os dois são os primeiros artistas a quem o Mário recorre, pela notoriedade que tinham nos anos 1970. E eles fazem doações muito consistentes. Um dos itens documentais mais raros da mostra é justamente o catálogo do museu chileno, com capa assinada por Miró — diz Perlingeiro. — Calder se identificava com o Brasil, pela sua personalidade. Quando a (arquiteta e urbanista) Lota de Macedo Soares vendeu a Fazenda Samambaia, em Petrópolis, e deu uma festa de despedida, ele se encarregou da ornamentação, feita de papel craft. Já Miró nunca veio aqui, mas teve a amizade com João Cabral, que ia a seu ateliê diariamente, amenizando sua enorme tristeza quando Franco baniu suas obras da Espanha.
![O curador Max Perlingeiro — Foto: Leo Martins](https://s2-oglobo.glbimg.com/fd7RAUuXl1w23TX21eOlQUce1aY=/0x0:5200x3467/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/M/E/ryXM1nSgAbHxxFFteasw/100175945-sc-rio-de-janeiro-rj-15-08-2022-exposicao-calder-e-miro-na-casa-roberto-marinho-na-foto.jpg)
Além das obras, que ocupam toda a casa e a área dos jardins — com esculturas como “Femme” (1969), do espanhol, e “Bent propeller” (1970), do americano — a mostra terá a projeção do documentário “Joan Miró de perto”, cedido pelo Canal Curta, e um programa educativo criado pela equipe de Educação da Casa em colaboração com o artista Fernando Cesar Sant’Anna, com jogos e equipamentos interativos desenvolvidos especialmente para a ocasião. Para o diretor da Casa Roberto Marinho, a exposição é importante por ressaltar como a produção dos dois se beneficiou da troca e da amizade entre eles.
— Era uma relação de camaradagem e de competição positiva, claramente um alimentava o outro. Os críticos faziam esse paralelo, dizendo que Calder fez as cores e formas de Miró saírem da tela para ganhar o espaço — comenta Cavalcanti. — É uma exposição muito afetiva, e tem algo de celebração da vida e da alegria, que é importante poder ser realizada neste momento.
Onde: Casa Roberto Marinho. Rua Cosme Velho 1.105 (3298-9449). Quando: Ter a dom, do meio-dia às 18h. Abertura dia 18/8 para convidados e, ao público, dia 19/8. Até 20/11. Quanto: Grátis (às quartas-feiras) e R$ 10. Classificação: Livre.