Artes visuais
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Por Nelson Gobbi


Mulher fotografada em Bapuré (Togo), em 1936 — Foto: Foto de divulgação/ Fundação Pierre Verger
Mulher fotografada em Bapuré (Togo), em 1936 — Foto: Foto de divulgação/ Fundação Pierre Verger

Embora o elemento humano sempre tenha estado presente na obra de Pierre Verger (1902-1996), o fotógrafo e etnógrafo francês que chegou a Salvador (BA) nos anos 1940 não organizou nenhum livro ou exposição dedicados exclusivamente ao retrato. Com uma produção que ficou marcada pelo registro das tradições afro-brasileiras e suas raízes no continente africano, ele tem cerca de 200 retratos, clicados em cinco continentes, na exposição “Todos iguais, todos diferentes?”, recém-inaugurada no Museu de Arte do Rio (MAR).

Exibida em 2019 no Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo, a mostra chega finalmente ao Rio, após atraso provocado pela pandemia, destacando a tentativa de Verger de registrar a diversidade humana e cultural em viagens por mais de 20 países, entre os anos 1930 e 1970.

— Verger fez muitos retratos, mas não os separava dos outros tipos de fotos. Pesquisando no acervo, chegamos a umas três mil, quatro mil imagens. Ele até tinha uma ideia de juntar estes retratos para fazer algo, mas não chegou a realizar — comenta Alex Baradel, responsável pelo acervo fotográfico da Fundação Pierre Verger. — Muita gente vê estas imagens como registros etnográficos, mas a nossa seleção parte mais de um olhar poético do que um recorte antropológico. Até pelo formato que escolhemos para parte das fotos, de um metro quadrado, com os rostos muito maiores do que estamos acostumados. Assim, parecem que os retratados olham os espectadores, e não o contrário.

Amigo do fotógrafo, Dorival Caymmi está entre as personalidades retratadas, em 1946 — Foto: Foto de divulgação/ Fundação Pierre Verger
Amigo do fotógrafo, Dorival Caymmi está entre as personalidades retratadas, em 1946 — Foto: Foto de divulgação/ Fundação Pierre Verger

Baradel acredita que a seleção demonstre como Verger realmente se conectava aos lugares por onde viajava, e com as pessoas que encontrava, o que acabou definindo sua própria vida. Filho da elite parisiense, o fotógrafo autodidata deixou a França em 1932 e viajou pelo mundo até 1946, vivendo da venda de suas fotos para jornais, revistas e agências. Na Bahia, conheceu o candomblé e, no Benin, foi rebatizado em 1953 como Fatumbi (“renascido pelo Ifá”, em iorubá), acrescentando o termo ao próprio sobrenome. Iniciado como babalaô na África, Verger permaneceu em Salvador até a morte, em 1996, tornando-se também um pesquisador de referência na antropologia.

— Hoje, todo mundo faz turismo, circula por vários países, todos os lugares estão nas redes sociais. Mas, quando Verger começou a viajar, isso não era tão comum. Nos anos 1930, ele atravessava o mundo de navio. As suas viagens não tinham um olhar turístico ou antropológico, eram realmente a busca pelo outro. Tanto que, quando foi para a África pela primeira vez, ele ficou cinco meses. Na Polinésia, passou um ano — contextualiza Baradel. — A fotografia, mais do que rum registro, foi para ele uma forma de promover estes encontros com as outras pessoas.

Como Verger, Baradel é um francês que se mudou para o Brasil (no seu caso, desde o início dos anos 2000), desde então trabalhando na fundação de seu compatriota. A mostra no Rio também tem depoimentos em vídeo de artistas e intelectuais nascidos nos países fotografados, como Esteban Volkov e Juan Coronel Riveira, netos do revolucionário bolchevique ucraniano Leon Trótski e do pintor mexicano Diego Rivera, alguns dos poucos rostos conhecidos selecionados entre a maioria anônima dos retratados. A diferença para a exposição do MIS é que lá os relatos eram acessados apenas por aplicativo, e agora são exibidos em telas de TV. Para esta montagem no MAR, foram gravados áudios com a narração dos 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

— No Rio, estamos afirmando mais o aspecto político da mostra. Em 2019, queríamos destacar a questão do respeito a todos as culturas, o que não estava no discurso do governo na época. Mas agora a exposição amadureceu mais nesse sentido, pudemos ver o que funcionou e o que podia mudar — explica o curador, dizendo que Verger era discreto em relação a suas convicções. — Apesar de ter atravessado um século extremamente político, ele raramente falava, ao menos publicamente, de seus posicionamentos. Isso ficava mais evidente em suas fotos e em sua postura, de deixar uma vida burguesa para rodar o mundo e se fixar num bairro popular de Salvador.

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