Artes visuais
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Por Mariana Rosário — São Paulo

É possível optar por diversos percursos para contar a história do pintor francês pós-impressionista Paul Gauguin (1838-1903). Há o habilidoso artista autodidata, que foi próximo de Vincent Van Gogh (1853-1890) e perseguiu a realização de seu ideal para arte como um dos motivos centrais para sua vida — a ponto de deixar Paris rumo ao Taiti, na Polinésia Francesa, em busca de uma vida simples, com a justificativa de que seu trabalho poderia tornar-se superficial caso permanecesse alocado na Europa.

Em outra mão, há o homem que manteve relações pessoais (e sexuais) até com meninas de 13 anos e que se referia aos taitianos como bárbaros, para ficar em só um adjetivo, e que inúmeras vezes representou as mulheres nativas de maneira criticada como sexista — hábitos que lhe renderam condenações públicas no desenrolar dos anos.

Sob a curadoria do Museu de Arte de São Paulo (Masp), ambas as facetas (espinhosas) do artista coexistem na exposição “Gauguin: o outro e eu”, que está em cartaz até 6 de agosto. Em 40 obras — duas delas do acervo do Masp — os curadores adotam a missão de “abordar de maneira crítica”, como diz o conteúdo de divulgação, produções que giram em dois eixos: os autorretratos do artista e os trabalhos que refletem seu tempo no Taiti — produção que se tornou quase sinônimo da obra do artista.

Demonstração de prestígio

Estão na mostra da Masp criações famosas do artista, como “Sob os pandanos”(1891), em que se vê duas mulheres (uma delas com seios à mostra) e um cachorro. A pintura é emprestada pelo Dallas Museum of Art, nos EUA. Outra atração é o “Vaso de flores vermelhas” (1896), do acervo da National Gallery de Londres.

Os empréstimos de obras de um artista do quilate de Gauguin, inclusive, figuram como demonstração de prestígio do Masp. Ao todo, 19 instituições colaboraram com a exposição do artista francês, entre elas o Musée d’Orsay, de Paris.

Assim, o que se vê no Masp não é uma exposição itinerante. Trata-se de uma seleção de obras, textos e imagens, preparada pelo próprio museu, pelas mãos de historiadores e especialistas brasileiros. Como resume o curador Fernando Oliva, são obras de primeira linha. Laura Cosendey, curadora assistente da instituição, reforça:

— Essa exposição é fruto de um trabalho enorme. Não é fácil tirar um Gauguin da parede de outro museu, ainda mais do Metropolitan (Museum of Art, nos EUA), que está nos emprestando o “Duas mulheres taitianas”, uma de suas obras mais importantes. É um trabalho de conquista e negociação. São 21 pinturas e mais um conjunto de gravuras, chegando a 40 trabalhos no total — diz a responsável pela exibição ao lado de Oliva e Adriano Pedrosa, diretor do Masp.

A exposição também oferece um olhar mais atento aos dois exemplares de pinturas do Gauguin que integram a coleção do Masp — e acompanhadas de imagens do artista.

Uma delas, “Autorretrato (perto do Gólgota)”, 1896, foi guardada durante anos pelo próprio Gauguin. Ele reservou a pintura junto aos seus pertences até morrer, sete anos depois da realização do quadro — enquanto outras telas eram constantemente despachadas pelo próprio artista para Paris.

Autorretrato de Paul Gauguin (perto do Gólgota), de 1896 — Foto: Divulgação/Masp
Autorretrato de Paul Gauguin (perto do Gólgota), de 1896 — Foto: Divulgação/Masp

Após sua morte, a imagem foi vendida por um valor irrisório em um leilão no Taiti, realizado para cobrir dívidas do artista (que morreu falido). Anos mais tarde, na década de 1950, chegou ao acervo do Masp, não sem antes passar pela alta sociedade do Rio (de onde veio a doação).

Este jogo, portanto, entre a história do artista e o passado das obras são o grande trunfo da exposição. Deste modo, além de vislumbrar a qualidade das pinturas de Gauguin, é possível observá-las no lastro de uma visão crítica, que rememora as agruras, falhas (e até crimes) de seu criador. Mas também apresenta seu talento e inventividade.

— Trazemos o debate histórico. É um artista que tem mais de cem anos de discurso sobre seu trabalho. Por vezes, essas discussões surgiram até em momentos anteriores que imaginávamos. Como a exposição é uma grande vitrine, damos mais uma vez à luz a essas questões. Não vamos colocar embaixo do tapete os aspectos polêmicos — diz Oliva.

Histórias indígenas

Gauguin se insere no tema central do Masp para este ano, chamado de “Histórias indígenas”. Nesse eixo, estão em cartaz duas individuais de criadores integrantes de povos originários brasileiros que ficam em cartaz até o início de junho.

Ocupa todo o segundo subsolo do museu, por exemplo, a exposição “Mahku: Mirações”. Nela são exibidas 108 peças (entre pinturas, desenhos e esculturas) preparadas pelo Movimento dos Artistas Huni Kuin (Mahku), formado há dez anos, no Acre. Trata-se de uma família de criadores, liderada pelo casal Ibã Huni Kuin (curador convidado da exposição) e Kássia Borges, ao lado dos três filhos.

Outra atração do Masp é a exposição individual de Carmézia Emiliano, “Árvore da vida”, que faz referência a um de seus quadros e reconta o mito de criação do Monte Roraima. No total, são 35 obras da artista que se debruçam sobre a vida do povo Macuxi, de Roraima, do qual Carmézia, de 63 anos, faz parte.

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