Artes visuais
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Autora do aclamado “Uma africana no Louvre” (2022), a francesa Anne Lafont esteve no Brasil este ano para lançar seu livro mais recente, “A arte dos mundos negros”, compilação ensaios que abordam temas que estão na ordem do dia na arte contemporânea, como decolonialidade e as produções que representam o Atlântico Negro. Professora da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, e ex-diretora de pesquisa do Institut National d’Histoire de l’Art, a historiadora falou ao GLOBO durante uma visita ao Museu de Arte do Rio (MAR) sobre temas como devolução de obras levadas por colonizadores no passado, a contextualização histórica de determinadas produções e seus autores e o debate sobre a manutenção ou não de monumentos de figuras relacionadas a questões como genocídio e escravidão.

Muitos temas discutidos no livro estão no centro do debate artístico em todo o mundo, como decolonialidade e a repatriação de itens. Estamos vivendo um ponto de inflexão na história da arte?

Vivemos um momento de mudanças, no qual as instituições estão ficando mais diversas, e pessoas como eu passam a ocupar posições dentro delas. Mas não é que tudo esteja sendo revisto, acho que estamos ampliando nossos olhares e utilizando recursos intelectuais que não estávamos habituados a usar, para abordar todos estes temas sem ficarmos presos a uma perspectiva ocidental.

Um dos pontos do primeiro capítulo é como a arte colaborou com a ideia de divisão da humanidade por raças. Na arte contemporânea vemos um movimento crescente de artistas negros e nativos assumindo a representação como autores e não mais o tema da obra de arte. É preciso rever conceitos para analisar esse momento?

Faço uma reflexão até sobre a minha própria experiência, na primeira parte da minha carreira, em que pesquisei temas raciais e cultura visual. Depois de dez anos, vi que estava falando mais sobre a forma como os negros eram retratados e percebendo menos como eles respondem a isso. Ouvir essas vozes, entender essas subjetividades é uma das grandes questões artísticas da atualidade. Então tento fazer releituras destes acervos coloniais, dessas representações, e ouvir as vozes das pessoas negras dentro deles.

Capa do livro 'A arte dos mundos negros', de Anne Lafont — Foto: Divulgação
Capa do livro 'A arte dos mundos negros', de Anne Lafont — Foto: Divulgação

Algumas exposições contextualizam obras e artistas para abordar questões que não eram percebidas ou problematizadas no passado, como a retrospectiva de Paul Gauguin no Masp, que ressaltou pontos como a exotização do Taiti e a sexualização de suas mulheres. É um caminho sem volta?

Acho que as instituições não precisam inventar uma nova política, mas precisam entender que tipo de dúvidas ou curiosidades o público quer saber da arte. Não é você apagar o que já existe, mas adicionar algo, criar camadas, trazer novas interpretações. Você pode criar uma nova perspectiva apenas apresentando uma obra do Renascimento ao lado de uma de Gana do século XVI, fazer pensar como eram Europa e África naqueles momentos. De um modo geral, as instituições tem uma forma muito tradicional de pensar sobre seus acervos, enquanto é possível fazer novas conexões e criar outros tipos de narrativas com suas obras.

Outro debate atual é sobre a devolução de obras de arte e itens históricos expropriados no passado para seus países de origem, com a França definindo uma grande política de restituição. Lidar com essa demanda tem sido um dos maiores desafio para os museus?

Antes de tudo, é preciso pensar para quem está sendo devolvido estes itens. Se você está devolvendo a um estado, a uma população ou a uma comunidade a quem aquele objeto pertenceu no passado. Quem será o interlocutor para definir o que e para onde será restituído. E também como poderemos garantir a materialidade do objeto e ter certeza de que estará seguro dentro do local para onde foi restituído. Temos que pensar que o valor de um objeto nem sempre é físico, pode ser espiritual, no caso de um item ritualístico. Muitas vezes são objetos que não seriam preservados por quem não compartilha determinada cultura ou religião. Para fazer isso seriamente, precisamos debater longamente, ouvindo muitos agentes para buscar mais soluções. Temos que entender também que o museu não é o único espaço de transmissão do patrimônio cultural, e envolver entidades como a Unesco e o Icom (Conselho Internacional de Museus).

Também há um grande debate sobre os monumentos públicos, se obras que homenageiam figuras ligadas ao genocídio ou à escravidão devem ser mantidas ou não. Como pensar nessa questão a partir da ótica do patrimônio e da memória?

Pessoalmente, gosto ter algumas coisas por perto, mesmo que representem um passado terrível. Não quero que elas desapareçam. Mas temos que ouvir também a sociedade, movimentos como o BLM (Vidas Negras Importam), e entender o que ainda machuca, o que causa sofrimento. É muito raro que as pessoas queiram que tudo seja apagado, exceto talvez pelos monumentos de confederados no Sul dos Estados Unidos, porque é uma questão relativamente recente. Não acredito em violência ou nenhuma forma de destruição, mas é preciso saber ouvir e pensar em como podemos confrontar nossas memórias e rever o passado. É uma negociação permanente.

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