Artes visuais
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Por , Em The New York Times — Londres

Tente isso: peça a alguém para definir “fofo”. A pessoa não pode simplesmente dar um exemplo de uma coisa fofa, portanto, nada de bebês ou coelhinhos; ela deve tentar dar uma definição para o adjetivo em si. Veja quanto tempo leva para que as palavras deem lugar a gestos (mãos simulando apertar objetos invisíveis do tamanho de ursinhos de pelúcia) ou ruídos inarticulados (gritos de alegria). Veja quanto tempo leva até que eles estejam com o rosto contraído, o que parece muito com dor.

Não se trata apenas do fato de o termo ser difícil de definir, mas também do fato de que muitas vezes há uma lacuna confusa entre a aparente irrelevância do objeto fofo e a força e a amplitude dos sentimentos que ele invoca. As palavras, por si, parecem não dar conta do recado.

A fofura — suas propriedades, seus usos e sua posição cada vez mais dominante na cultura — é o tema de uma nova e deslumbrante exposição em Londres chamada simplesmente “Cute” (fofura), em cartaz na Somerset House até 14 de abril. Não é exatamente uma história de uma estética e tampouco apenas uma coleção de mercadorias particularmente fofas. A mostra explora o poder inquietante de coisas aparentemente impotentes, observando as fantasias que a fofura permite e cria, e nos faz pensar sobre como e por que ela veio a saturar nosso mundo.

Por que tudo tem que ser tão bonitinho agora? O que significa o fato de termos nos deixado manipular com tanto entusiasmo por uma estética que prioriza o infantil, o pequenininho, o de olhos puxados? Por que, quando vi uma lata de óleo de motor da marca Hello Kitty na exposição, quis desesperadamente pegá-la e dar-lhe um grande abraço enquanto gritava: “Aunnn”? Por que estou tentando comprar uma delas no eBay agora mesmo? Eu nem sequer tenho carro!

50 anos

Enfim, há muita diversão e coisas adoráveis para serem consumidas. Basta perguntar ao grupo de meninas que estavam alegremente tirando selfies na discoteca da Hello Kitty na manhã em que visitei o local. (A mostra, na verdade, é patrocinada pela Sanrio, a empresa japonesa que criou a Hello Kitty, e foi programada para coincidir com seu 50º aniversário este ano. Ela tem 50 anos! Nasceu em Londres, sonha em ser poeta e tem a altura de cinco maçãs! E não tem boca!)

O brilho da mostra, no entanto, está na linha entre uma celebração instagramável da fofura e uma exploração absorvente de seu caráter moralmente ambíguo, iluminando o que a intelectual Sianne Ngai chamou de “o espectro surpreendentemente amplo de sentimentos, que vão da ternura à agressão, que abrigamos em relação a mercadorias ostensivamente subordinadas e não ameaçadoras”.

A exposição começa com gatinhos, como deve ser. Antes de os visitantes entrarem, eles passam por 18 gatinhos gerados por IA usando chapeuzinhos com pompons ou espreitando por trás de livrinhos, todos com características infantis — cabeças grandes, olhos grandes, rostos redondos e bocas minúsculas — que o pesquisador de comportamento animal Konrad Lorenz observou que induzem à “percepção de fofura” e desencadeiam respostas de carinho nos pais. Eles ficam menos fofos, no entanto, quando você percebe que há algo errado com a luz que brilha em seus olhos e que alguns têm o número errado de patas. O gatinho mais assustador tinha pupilas como as de um crocodilo, longas e estreitas, e pelos horríveis na altura da cintura.

Depois, mais gatinhos. Há a famosa Kitty de 50 anos, é claro, e a variedade genuinamente surpreendente de objetos que sua imagem induziu as pessoas a comprar. Além do óleo de motor Hello Kitty, havia computadores Hello Kitty, grampeadores Hello Kitty, todo tipo de boneca Hello Kitty que se possa imaginar e um vestido de noiva Hello Kitty.

Em outros lugares, havia cartões de felicitações da era vitoriana de gatos irritantemente empoleirados em assentos de triciclos ou posados como se estivessem tomando chá. Esses cartões eram extremamente populares na época — e o fotógrafo por trás deles, Harry Pointer, era conhecido por reclamar com frequência que eles haviam eclipsado seu trabalho mais sério.

Fotos de gatos fazem isso

A exposição abriga também uma sala sobre a kawaii, a cultura japonesa da fofura, que mostra como os avanços nas técnicas de produção em massa permitiram a obtenção de grandes lucros com a capacidade esquisita da fofura de despertar nossas emoções.

Veja o caso da boneca Kewpie, que costumava ser feita de frágil porcelana até que a invenção do celuloide mudou tudo. As de porcelana quebravam, eram caras de fabricar e seus dedos eram pontudos e duros; as bonecas de plástico eram mais fáceis e baratas de produzir, e as meninas podiam abraçá-las até a morte sem nenhum efeito negativo.

Elevador peludo

As relações entre consumidores e produtos também definem cinco grupos temáticos de objetos e imagens (ou “categorias de gatos fofos”, de acordo com o catálogo da exposição).

A peça “Cry baby” (bebê chorão), por exemplo, analisa como a aparência de vulnerabilidade e desamparo — bonecas com grandes olhos tristes, arco-íris chorando lágrimas multicoloridas... — incentiva os consumidores a sentirem que, de alguma forma, estão fazendo um favor ao objeto fofo ao comprá-lo. E “Sugar-coated pill”, que inclui um brinquedo de pelúcia e uma fotografia de Adolf Hitler abaixando-se para alimentar um cervo bebê, examina a maneira como a fofura pode ser usada para suavizar ou disfarçar o feio.

Ao sair da exposição, fiquei presa por um breve momento em um elevador instável com paredes revestidas de peles cintilantes em tons pastéis. As portas não abriam e, por um tempo, éramos apenas eu, os pelos falsos opalescentes e o som de pânico de um botão “OPEN DOORS” sendo pressionado sem sucesso. Parecia que poderia fazer parte da exposição, talvez com uma etiqueta que fizesse uma pergunta exploratória: “Quanto tempo você acha que levaria para ficar histérico se ficasse preso aqui?” Quando as portas finalmente se abriram, coloquei uma foto do elevador peludo no Instagram. “ONDE fica esse elevador nojento?”, perguntou um amigo. “Estou me sentindo mal”, disse outro. “Eu adoro”, disse um terceiro. “Quero morar nele”.

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