Artes visuais
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Por — São Paulo

Em 2005, o Brasil contava com um circuito estruturado de galerias, uma produção com visibilidade no exterior e um evento internacional de arte consolidado, a Bienal de São Paulo. Para se integrar definitivamente ao mercado global, porém, faltava uma feira de arte anual, nos moldes de eventos como a Art Basel, a Arco Madrid e a Frieze, de Nova York. Era isso que pensava a então advogada e colecionadora Fernanda Feitosa, ao decidir inaugurar a primeira SP-Arte. Dezenove anos depois, abre hoje ao público a 20ª edição do evento no Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera — sua “casa” desde a estreia.

Esta SP-Arte traz 99 galerias de arte (no primeiro evento, eram 41) e mais 54 dedicadas ao design, em um ambiente muito distinto da estreia. Afinal, nestas duas décadas, a feira passou por várias fases.

Houve o boom das galerias internacionais, alavancado por uma temporária isenção de impostos sobre obras adquiridas nos cinco dias do evento. Depois, veio a recessão econômica, agravada pela pandemia de Covid-19, cuja quarentena levou à realização em um modelo 100% virtual. E chega finalmente no formato atual, mais voltada à arte nacional e com a maioria dos espaços ocupado por empresas locais.

Neste tempo, o mercado se transformou. Viu, por exemplo, a chegada de outros eventos (como a ArtRio, que em setembro chega à sua 14ª edição) e novas vozes artísticas ocupando estandes e corredores. Está em curso também uma descentralização do circuito, que ganha espaços e colecionadores fora do eixo Rio-São Paulo, principalmente no Nordeste e Centro-Oeste.

— O Brasil já reunia as condições para o sucesso de uma feira. Tínhamos uma grande bienal desde os anos 1950 e um conjunto importante de museus. Além disso, contávamos com uma produção local de excelência, com diferentes gerações para mostrar. E havia colecionadores comprometidos, incluindo pessoas da minha geração, na época com 30 e poucos anos, em busca de um espaço para conhecer e comprar arte feita pelos nossos contemporâneos — avalia Fernanda. — Este mercado maduro e uma cena local forte permitiram que chegássemos à 20ª edição da SP-Arte.

Obra de Tadáskía, da galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, na SP-Arte — Foto: Fotos de divulgação
Obra de Tadáskía, da galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, na SP-Arte — Foto: Fotos de divulgação

Várias gerações

As mudanças na produção brasileira dos últimos 20 anos se refletem na seleção e programas de algumas das galerias presentes à SP-Arte.

Um exemplo é a Fortes D’Aloia & Gabriel, que apresentará trabalhos de artistas com carreiras já consolidadas antes do surgimento da feira, como Ernesto Neto, Adriana Varejão, Leda Catunda, Efrain Almeida, e nomes que despontaram mais recentemente, como Antonio Tarsis, Márcia Falcão, Yuli Yamagata (que terá um espaço solo) e Tadáskía. A última, uma jovem artista trans carioca, chamou a atenção do público com uma grande instalação na 35ª Bienal de São Paulo, no ano passado, e terá uma individual no MoMA de nova York, dentro da série Projetos, a partir de 24 de maio.

— Tivemos uma pré-venda ótima, com um interesse internacional forte. Estamos num bom momento novamente, com o Adriano (Pedrosa, diretor do Masp) como curador da Bienal de Veneza, várias aberturas fora — comenta Alexandre Gabriel, sócio da galeria. — O mundo volta a olhar para a gente. O grande número de estrangeiros na última Bienal de São Paulo já era um termômetro.

Feira sintonizada nas mudanças econômicas

Outro exemplo das mudanças na cena artística nacional nas últimas duas décadas é representado pela carioca Asfalto, que faz sua segunda participação na SP-Arte, além de ter comparecido no ano passado à SP-Arte Rotas Brasileiras, organizada no segundo semestre. Atualmente localizada na Gamboa, a galeria era anteriormente baseada na Tijuca, Zona Norte do Rio, e representa artistas em sua maioria periféricos ou abordando questões sociais, étnicas e de gênero. Este ano, o espaço será dedicado a um solo de Ian Nes, artista de 23 anos de Cabo Frio, radicado no Rio.

— Quando fazia artes visuais na Uerj, alguém conseguiu uns ingressos para a ArtRio, ainda na Região Portuária. Na época, achei um ambiente distante, muitas galerias de fora, havia um demarcador social forte — comenta Nicolas Dantas, sócio da Asfalto. — Houve uma mudança no mercado nos últimos anos que me faz hoje me sentir mais à vontade numa feira. Não só por quem conheci como galerista, mas por encontrar pessoas que conheci antes, como a (pintora) Márcia Falcão, que era minha vizinha em Irajá.

Entre obras de nomes consagrados como o escultor Ascânio MMM e o fotógrafo Miguel Rio Branco, Silvia Cintra aposta no pintor gaúcho radicado no Rio Thix, que mescla técnicas clássicas de pintura a óleo com temas atuais como questões não-binárias.

— É importante podermos apresentar um nome como ele entre outros artistas já estabelecidos para os colecionadores — diz a galerista, lembrando de quando a SP-Arte ainda estava saindo do papel. —Já havia algumas tentativas de feiras, mas tudo desorganizado.

Obra da série “Glove games”, de Lenora de Barros, da galeria Anita Schwartz, na SP-Arte — Foto: Divulgação
Obra da série “Glove games”, de Lenora de Barros, da galeria Anita Schwartz, na SP-Arte — Foto: Divulgação

Ter uma continuidade ajudou o mercado, mesmo com as incertezas econômicas e políticas dos últimos dez anos. Para Fernanda Feitosa, um dos segredos da longevidade da feira foi se adaptar aos diferentes momentos do país e da economia:

— No passado, o bom momento do Brasil aliado à recessão na Europa favoreceu a vinda das galerias internacionais. Depois, o câmbio virou e pudemos contar com a força do circuito nacional. Ainda assim, por mais de cinco anos tivemos a presença de algumas das maiores galerias do mundo, o que não aconteceria se não vissem potencial no mercado e no projeto da feira.

Entre as galerias internacionais, a feira se mantém hoje como uma referência na América Latina, contando com a presença de espaços como as uruguaias Galería de las Misiones e Galería Sur, a argentina Herlitzka & Co. e a venezuelana RGR Galería. Em sua estreia na feira, a boliviana Salar Galería traz trabalhos de Gastón Ugalde (1944-2023), referência da arte contemporânea local, e nomes de países vizinhos, incluindo o brasileiro Abraham Palatnik.

— Parte dos colecionadores antes atentos à América Latina hoje está voltada ao mercado asiático e do Oriente Médio. Estar junto aos colecionadores dos países vizinhos, principalmente em uma potência como o Brasil, é fundamental — comenta Mariano Ugalde, diretor da Salar.

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