Cultura Artes visuais

Primeira exposição nos EUA dedicada a Tarsila do Amaral chega ao MoMa

A artista é apresentada ao público americano através de 130 obras
SC - "A Cuca", óleo sobre tela Foto: Cnap / Ville de Grenoble / Musée de Grenoble J.L. Lacroix / arsila do Amaral Licenciamentos
SC - "A Cuca", óleo sobre tela Foto: Cnap / Ville de Grenoble / Musée de Grenoble J.L. Lacroix / arsila do Amaral Licenciamentos

NOVA YORK — “Eu quero ser a pintora do meu país.” A declaração firmada em carta aos pais, em 19 de abril de 1923, dá o tom de “Tarsila do Amaral: inventando a arte moderna no Brasil”, primeira e ambiciosa mostra dedicada a uma das mais importantes artistas brasileiras, a partir de domingo no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) após vitoriosa temporada no prestigioso Instituto de Arte de Chicago (AIC), no fim do ano passado. Apresentada pelos curadores como uma figura crucial da arte do século XX e peça ausente até hoje para o público americano no quebra-cabeças da arte moderna internacional, Tarsila (1886-1973) tem justamente sua produção da década de 1920, a da explosão do modernismo brasileiro, como foco central da mostra elaborada em parceria pelas duas instituições. A exposição, que vai até 3 de junho, contará com cartas e documentos, além de mais de 130 obras selecionadas pelos curadores, incluindo desenhos, fotografias e algumas das mais icônicas pinturas da paulista.

— A exposição é o reconhecimento do AIC e do MoMA de que a obra de Tarsila é um dos tesouros do modernismo brasileiro. Mas, ainda mais importante, de que é também obrigatória para a compreensão da arte moderna global — diz a curadora do AIC Katja Dominique Rivera. — Nosso projeto é sim grandioso, o de iniciar, com Tarsila, a divulgação, nos EUA, de movimentos e figuras reconhecidamente centrais para o Brasil mas que devem ter dimensão planetária, como a Semana Modernista de 1922, os manifestos Antropofágico e Pau-Brasil e figuras extraordinárias como Tarsila, seu segundo marido, Oswald de Andrade (1890-1954), e Anita Malfatti (1889-1964).

Além de Katja, a curadoria contou com Karen Grimson e Luiz Pérez-Oramas (responsável pela edição de 2012 da Bienal de São Paulo), do MoMA, e Stephanie D’Alessandro, do AIC. Os dois últimos viajaram pelo Brasil e contataram colecionadores privados e instituições públicas a fim de montar uma exposição cronológica e compreensiva em torno do que consideram ser a obra seminal de Tarsila, incluindo a produção na época em que ela formou com Anita, Oswald, Mário de Andrade (1893-1945) e Menotti Del Picchia (1892-1988) o Grupo dos Cinco, vanguarda do modernismo no Brasil.

No segundo andar do museu pode-se ver em série, algo raro, “A negra” (1923), “Abaporu” (1928), e “Antropofagia” (1929), obras de “originalidade única dentro do movimento”, nas palavras de Oramas.

A experiência pessoal da artista, que “redescobriu um Brasil lá e cá”, suas cores e formas, tanto na Europa, quando viu de perto a explosão de movimentos como o surrealismo e o cubismo, quanto em viagens país afora, se confunde, na narrativa dos curadores, com a própria reinvenção da arte nacional proposta pelos modernistas. Daí a ênfase dada por Oramas e Rivera à carta escrita do exílio voluntário em que Tarsila revela aos pais se sentir “cada vez mais brasileira”.

— Ela é um exemplo brilhante das conexões da geografia com a transformação artística. Tarsila foi quem melhor traduziu visualmente a antropofagia e o desejo de mergulho em um Brasil profundo, influência importante anos mais tarde para neoconcretos e tropicalistas, já devidamente popularizados aqui nos EUA — diz Rivera. — Mas, ao mesmo tempo, ela também introduziu na arte brasileira elementos de contato com o que se produzia de melhor na Europa à época, em um resultado com assinatura única. Para os olhos contemporâneos, a inventora e sua obra são tão ou mais fascinantes quanto o eram no século passado.