Cultura Artes visuais

Tarsila do Amaral, estrela que sobe no exterior

Pouca oferta de obras e interesse crescente valorizam a autora da mítica ‘Abaporu’

RIO —  Artista brasileira com maior valor de mercado, Tarsila do Amaral deve ter nova valorização internacional com a retrospectiva do MoMA. A modernista segue uma trajetória de ascensão no exterior, em um movimento que se acentuou com a compra em leilão da Christie’s, em 1995, da tela “Abaporu” (1928), símbolo maior do Movimento Antropofágico, pelo milionário argentino Eduardo Costantini por US$ 1,4 milhão. Principal obra do acervo do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba), o quadro multiplicou seu valor nas décadas seguintes e, segundo especialistas, hoje poderia estar próximo a R$ 100 milhões. Um parâmetro desta valorização foi a venda, no ano passado, da gravura “O pescador” por R$ 26.800, após lance inicial de R$ 3 mil, na casa de leilões paulistana James Lisboa.

— Há pouca oferta, ao mesmo tempo em que o interesse por ela cresce. Não tenho conhecimento de nenhum óleo disponível para venda pública. Talvez apareça algo da fase mais acadêmica, dos anos 1910, mas as obras modernistas são uma raridade — atesta o leiloeiro e perito judicial James Lisboa.

Modernistas “blue chips”

Para ele, os brasileiros demoraram a perceber este potencial:

— Como sempre, as coisas têm de acontecer lá fora para que a gente valorize. O “Abaporu” ficou à venda no Brasil por mais de um ano, e, após o arremate na Christie’s, todos lamentaram que a tela saísse do país. Acredito que, por sua projeção e importância histórica, hoje ela pudesse atingir de R$ 90 a R$ 100 milhões.

Fundador da Galeria Ipanema, a mais antiga em atividade no país, Luiz Sève já contou com algumas Tarsilas à venda no seu acervo de modernistas. O galerista observa um crescente interesse sobre os artistas do período.

— A dificuldade de conseguir obras de Tarsila aumenta a demanda. Pode acontecer a compra entre colecionadores, mas são negócios restritos, é difícil saber se alguma obra trocou de mão.

Da aquisição de “Abaporu” por Costantini até a exposição de Tarsila no MoMA, o mercado internacional se abriu mais à arte brasileira, elevando os valores das obras. Além da pintora, outros nomes do modernismo, como Alfredo Volpi, Di Cavalcanti e Candido Portinari, são considerado blue chips (termo do mercado de ações que designa produções artísticas valorizadas e seguras).