RIO — "Teatro não é igreja" dizia um dos cartazes em frente ao Teatro Glauce Rocha , no Centro do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira. Um grupo de artistas se reuniu para protestar contra a gestão do diretor do Centro de Artes Cênicas Fundação Nacional de Artes (Funarte), Roberto Alvim . A ação foi uma resposta às recentes declarações do dirigente sobre a intenção de destinar o espaço a uma companhia evangélica, a fim de transformá-lo "o primeiro teatro do país dedicado ao público cristão". Alvim também proferiu ofensas à atriz Fernanda Montenegro pelas redes sociais.
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Segundo os manifestantes, a organização do protesto aconteceu sem identificação por medo de perseguição a internautas. Eles se queixam da falta de transparência na análise dos editais e requisitos para ocupação de espaços culturais públicos.
— Está havendo uma censura. Há diversos projetos e peças sendo derrubados sem justificativas plausíveis — explica Monique Vaille, artista e uma das idealizadoras do movimento Ovárias, de ocupação artística feminina. — Estamos aqui para pleitear que a Constituição permaneça vigente. Nenhum projeto artístico tem que ser avaliado por ser ou não religioso. Precisam ser seguidos critérios para uma análise isonômica que garanta a pluralidade para que todos possam ter acesso, direito e oportunidade de ocupar um teatro público.
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Além do caso do Teatro Glauce Rocha, os ativistas relatam indignação com a postura do diretor teatral Roberto Alvim.
— Estamos vendo um desmonte da cultura e ataques à classe artística como se não fossemos trabalhadores. Eles ignoram o impacto da cultura na economia, como se não gerasse riqueza — afirmou o ator, professor e pesquisador em teatro Fabrício Moser. — Estamos aqui em nome da Fernanda Montenegro, os funcionários exonerados e todos os artistas para que haja respeito com nosso trabalho e trajetória. A cultura não pode ser conduzida dessa forma.
De acordo com funcionários da Funarte, o clima na instituição é de desorientação. Eles temem expressar sua opinião devido ao risco de perder o emprego.
— A impressão é que temos mais de uma fundação. Há uma fundação do Alvim, uma do ministro ( Osmar Terra ) e outra do Miguel ( Proença, presidente da Funarte ) — declarou um colaborador que preferiu não se identificar.
* Estagiária, sob supervisão de Helena Aragão